Pedaços de um coração partido.

809 58 4
                                    

Bessie

Parada em frente à casa de Carter, cogito se devo mesmo descer do carro. Não fui convidada para a festa de aniversário de Reagan por ter destruído o coração dela, mas ao que parece não foi só o desprezo de Reagan que eu consegui. Meredith mal me dirige a palavra e Carter — de quem nunca fui muito fã —, me odeia mais que nunca pelo simples fato de eu ter destruído o coração da sua melhor amiga. Meredith insistiu para que eu não desse as caras hoje e que se desse, não armasse uma cena, mas não posso permitir que Reagan pense que eu esqueci do seu aniversário.

Toco a pétala de uma das rosas do buquê de rosas vermelhas no banco do carona, o meu carro está impregnado com o cheiro doce e delicado delas e sorrio ao pensar no quanto isso é brega e cafona. Em meio a tantos presentes, por que pensei justo num buquê de rosas vermelhas?

Coloco a mão na porta do automóvel para descer do carro, mas congelo quando vejo Erick entrando no local também segurando um buquê de rosas em mãos. Decido esperar do lado de fora até controlar a raiva e o ciúmes que me sobem a cabeça, só que minha atenção volta para os risos do garoto quando Reagan se joga em seus braços e o aperta com força, como se estivesse com saudades, como se ele fosse tudo o que ela precisasse naquele momento.

Engulo em seco, mas não há nada em minha boca além do gosto amargo da cena que vejo na minha frente. Cheguei atrasada, tarde demais, e não posso recriminar Reagan por isso, afinal, fui eu quem escolheu deixá-la, quem a obrigou a ir embora e a seguir com a sua vida, só não imaginaria que ela conseguiria fazer isso tão rápido. Jogo o buquê de rosas vermelhas dentro do carro, ele cai no assoalho do automóvel e dou uma última olhada para Reagan no exato momento em que os seus olhos encontram com os meus. É impossível dizer o que ela está sentindo ou no que está pensando porque existe mais que metros de distância entre nós duas, existe um abismo. Passo minhas mãos abaixo dos meus olhos para secar as lágrimas.

Reagan mantém contato visual comigo por alguns segundos até ficar na ponta dos pés e selar os seus lábios ao de Erick. Ela gesticula para alguém que não consigo ver, falando algo que também não consigo entender pelo movimento que seus lábios fazem, e em seguida a porta da casa de Carter é fechada por Ross.

**

No dia seguinte, quando chego ao prostíbulo, Mark caminha em minha direção irritado e furioso. Os seus sapatos fincam no piso de madeira do bar e ele agarra o meu braço com força, a brutalidade é tanta que resmungo de dor até ele abrir a porta do seu escritório e me empurrar para dentro da sala. Ava sai do quarto ao ouvir meus gemidos de dor e faz menção para me ajudar, mas balanço negativamente com a cabeça, porque se ela fizer isso, estaremos as duas encrencadas. Mark fecha a porta e segura em meu rosto com uma mão, o seu olhar é assustadoramente frio.

— Você pensa que sou idiota, não é? — não respondo, deixo que meu olhar faça isso por mim. — Já percebi que você não anda trabalhando, Bessie, e eu acho melhor você não testar a minha paciência. A partir de hoje, não receberei mais pagamentos de Jessica Platte e nem daquela empresária arrogante que se acha a dona do mundo. Arrume outros clientes.

— Não vou fazer isso, Mark — consigo dizer. Ele franze o cenho, perplexo. — Arrume outra garota para fazer seu negocinho de merda ganhar rios de dinheiro, porque eu estou fora.

— Como é que é?

Ele segura o meu rosto com força e quando sustento o meu olhar, retribuindo para ele a mesma ameaça que ele me faz com seus olhos, Mark solta o meu rosto e movo o maxilar de um lado para o outro no intuito de aliviar a dor. Ele coça a barba por fazer, está de costas para mim, mas seus ombros estão tensos e rígidos.

— Não vou mais trabalhar aqui, Mark. Passei anos da minha vida presa a você, tudo o que eu precis....

Sou interrompida pelo impacto da sua mão em meu rosto, na mesma hora sinto o gosto de sangue se propagar em minha boca e sua mão volta a segurar o meu rosto com mais força que antes. Sustento o meu olhar, apesar da dor, não lhe dou o gostinho de me ver chorar. Não de novo. Já passei por coisas bem piores nessa vida para abaixar a cabeça para um filho de uma puta que acha que tem controle sobre o que eu faço ou deixo de fazer.

Love AffairOnde histórias criam vida. Descubra agora