Não sei como funciona.

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Reagan

Acordo assustada quando o despertador toca, me fazendo levantar da cama aos pulos. Olho ao redor a procura de nada exatamente, sentindo o vazio ser ainda maior dentro de mim, me sinto oca, vazia e despedaçada quando os pesadelos que tive durante a noite vieram com rápidos flashes de momentos que existiram, atordoando a minha mente, a sobrecarregando com o motivo do meu choro durante a madrugada chuvosa e fria de Eugene. Existe a iminente possibilidade de Bessie casar com Jessica Platte? A mulher que assassinou o meu pai da forma mais cruel e desumana possível e que por suas próprias razões Bessie a venera? Há horas em que sinto nojo de mim mesma por ser filha de John, por ter em minhas veias o seu sangue, por saber que ele abusou sexualmente da mulher que amo quando ela era só uma menina indefesa e moradora de rua, sem abrigo e proteção, sem ter para onde ou para quem correr e pedir ajuda.

Não posso dizer que não entendo o motivo dela querer distância de mim, porque no seu lugar, eu também iria querer.

Levanto da cama pra seguir com a rotina matinal e quando passo pelo espelho, paro por alguns segundos pra checar o meu reflexo abatido e triste. Estou no fundo do poço, penso, entristecida demais com o reflexo de alguém que desejaria nem ter nascido. Sigo para o banheiro pra tomar um banho quente que possa ser capaz de levar todos os meus problemas juntos com água no ralo. Visto a minha calça jeans skinny e uma blusa de manga longa e gola alta preta, soltos os meus cabelos e enquanto os penteio, me recordo de quando Bessie falava o quanto adorava o meu cabelo preso em um rabo de cavalo. A lembrança faz meus olhos marejarem, mas engulo em seco e balanço negativamente a cabeça para afastar aquilo que me destrói um pouco a cada vez que lembro.

— Você é forte, Reagan — murmuro pra mim mesma, pegando o batom vermelho para passar nos lábios e aderindo a maquiagem básica pra esconder as olheiras e a noite mal dormida, assim como todas as outras desde que nos separamos. — Você consegue superar.

Pensar em Bessie se tornou uma das coisas mais doloridas de se fazer, algo que eu tento evitar todo o tempo. Ela surge em minha cabeça e eu a expulso, tento jogar para longe, busco desesperadamente por uma distração capaz de fazê-la sumir da minha memória por um curto período de tempo. As nossas lembranças me machucam, me ferem, me doem, é como se meu corpo estivesse sendo arrastado pelo asfalto em alta velocidade, causando ferimentos mais e mais profundos. Tem dias que consigo evitar, mas quando a noite chega, não tem pra onde correr quando sou apenas eu, minha mente e um coração partido.

Olho para cima na intenção de evitar as lágrimas que querem cair pelo meu rosto. Não posso chorar, não mais. Talvez eu nunca mais saiba qual a sensação de sentir o frio no estômago, mãos suadas, nervoso, porque Bessie foi a única com quem senti tudo isso pela primeira vez.

Foi com ela que tive a minha primeira vez.

Deus! Hoje está tudo tão melancólico e nostálgico.

No colégio, o assunto que corre por entre os corredores não é outro além do jogo de basquete contra os Tigers ou em como o Aaron é mesmo a estrela do time, levando o título de melhor jogador da equipe sendo o que o mérito pela cesta que nos garantiu a vitória foi graças ao Logan. Eu o cumprimento quando ele passa sorrindo por mim, solto um gritinho de animação pra ele que ri entusiasmado e contente pela vitória, fazendo-o voltar para trás e me cutucar na cintura. Percebo como algumas garotas olham pra nós dois, por um instante somos o centro das atenções, atraindo olhares de curiosos, murmúrio nos corredores, mas Logan não se incomoda com isso, pelo contrário, é como se nada tivesse acontecendo ao seu redor.

— Fiquei feliz quando te vi pulando de alegria na arquibancada — ele fala sincero ao parar ao meu lado enquanto pego meus livros no armário.

Tento conter o sorriso em meus lábios, mas não consigo.

Love AffairOnde histórias criam vida. Descubra agora