Moeda de troca.

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Reagan

Saio do banheiro depois de ter tomado um banho quente, me sinto melhor da preguiça na qual acordei para ir à escola. Eugene vem apresentando as suas mais baixas temperaturas depois de dois dias inteiros de sol, o lado positivo é que eu pude aproveitar isso na praia, mas agora tudo o que me resta é ir de casa para a escola e da escola para casa. Não gosto de chuva, não quando estou sozinha, porque o clima além de escuro e frio, se torna melancólico e triste, principalmente agora que Bessie viajou, a distância me devora todos os dias e a saudade acaba com qualquer sinal de felicidade que encontra. Meus dias estão resumidos em aguardar uma mensagem, eu acordo e a primeira coisa que faço é pegar meu celular para conferir se tem alguma mensagem ou ligação perdida, chega a ser deprimente o quanto me sinto deslocada e sozinha sem ela. O meu quarto está uma zona, algumas das minhas roupas estão jogadas em cima da minha mesinha de estudos, cobrindo meus rascunhos da noite anterior que tanto me dediquei pra fazer mapas mentais de história. Paro no meio do caminho quando vejo meu reflexo no espelho, a toalha de banho em volta do meu corpo não é o suficiente para me proteger do frio e por isso abraço a mim mesma na esperança de que pelo menos hoje, a minha falta da Bessie diminua.

Ela me manda mensagens com frequência desde que viajou para New York, mas não são o suficiente. Ontem fui surpreendida com a sua ligação no meio da noite. Queria ouvir a sua voz antes de dormir, ela disse, e sorrio com a lembrança do seu tom de voz meigo e amoroso. A sensação de ouvi-la, ainda que por ligação, deu a minha alma o preenchimento do qual ela precisava: de vida.

Estar longe dela me assusta, porque percebo como a minha vida sem Bessie é escura e vazia, quando não estamos juntas sinto que nada mais faz sentido. Quero correr, pegar a estrada e ir para longe, porque sei que se um dia eu chegar a perdê-la, eu vou me perder também, mas eu não consigo, sou fraca de corpo e alma. Ela pede e eu faço, ela manda e eu obedeço, ela diz e eu caio feito uma boba nas suas palavras, porque pensar na possibilidade de nunca mais vê-la, estar com ela, ouvir a sua voz ou ceder as suas manias, até às que mais me irritam, me desconcerta. Sou um barco de papel num balde de água, se eu não afundar, vou me desmanchar aos poucos até não sobrar nada.

O som de notificação de mensagem ecoa pelo quarto, meu coração dispara antes de eu estender o braço para pegar o meu celular na cama. Peço mentalmente para que seja ela, que seja mais uma das suas mensagens reclamando sobre o trânsito ou dos pés doloridos, qualquer coisa, qualquer sinal de que ela lembrou de mim. Sinto a ansiedade no peito, acelerando os meus batimentos quando vejo uma mensagem sua na minha tela de bloqueio, rio sozinha quando abro a foto que ela me enviou, parece estar em algum estabelecimento. Na foto, Bessie segura um copo de milk-shake na mão com um sorriso enorme no rosto, não está tão arrumada como de costume e começo a acreditar no que ela me disse ontem à noite, que não viajou a New York à trabalho.

Bessie: O seu sabor favorito.

Flocos.

É bobo, mas ela consegue me tirar um sorriso mesmo assim.

Reagan: O grande mistério: estamos falando de você ou do que você está segurando?

Não demora muito para que o "digitando..." apareça na sua conversa. Estranhamente o meu estômago se revira enquanto aguardo a sua resposta, eu já deveria ter acostumado em estar com ela, falar com ela ou ter a atenção dela, mas nunca me acostumo. O nervosismo, o tremor nas mãos ou na minha voz ainda continuam, ela ainda me causa os mesmos sintomas de quando nos conhecemos.

Bessie: Ainda tem dúvidas?

Ótimo, agora eu estou pensando em mil coisas e todas elas envolvem Bessie na minha cama. Me sinto uma pervertida por ter transformado um assunto tão simples como o sabor do milk-shake, em flertes ou mensagens ousadas. Bessie nunca fica por baixo, eu sei exatamente quando algo que eu digo vai ser rebatido com o dobro de malícia do qual eu usei. Começo a digitar uma resposta de que "não tenho dúvidas", mas ela começa a digitar e eu paro. Meus dedos se abstém de tocar qualquer letra do meu teclado, ela também para, não sei se continua na minha conversa e eu aguardo quase três minutos antes dela começar a digitar uma nova mensagem.

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