Cicatrizes e lembranças.

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BESSIE

A noite hoje está mais fria que o normal, incomodando até mesmo alguém como eu, que já está acostumada com o frio depois de dormir tantas e tantas vezes na rua. Abraço meu próprio corpo, na tentativa de obter um pouco de calor, mas é em vão. Sinto que vou congelar a qualquer momento e isso só me faz sentir ainda mais raiva de estar aqui.

Estou do lado de fora do bar, mais precisamente em um beco mal iluminado, aguardando a chegada do idiota do Aaron que foi lá dentro verificar o movimento. Não sei porque Mark pede ao filho para fazer esse tipo de serviço. Está na cara que o garoto não tem nem um pouco de competência para isso, além de ser um filho da puta irresponsável com horários, o que não deixa nossos fornecedores nenhum pouco felizes.

— Vamos logo com isso, garota! — um dos caras, o chefe deles, reclama sem paciência — Cadê o viadinho do filho do seu patrão?

Não me dou ao trabalho de responder, apenas dou de ombros e reviro os olhos, demonstrando tanta irritação quanto ele.

— Deixa a menina em paz, Chuck. Não é culpa dela todo esse atraso.

— Você está louco? O que pensa que está fazendo? Acha mesmo que uma puta dessa merece algum tipo de proteção? — o tal Chuck rebate.

Algo dentro de mim me diz que eu devo ter medo, mas me recuso. Não é nenhuma novidade na minha vida lidar com homens perigosos e mau encarados. Infelizmente a vida de uma garota de programa não é um mar de rosas como a maioria das pessoas pensam.

Por sorte o merdinha do Aaron chega antes que a situação piore. O sorriso divertido em seus lábios entrega que ele fez de propósito. É bem a cara dele mesmo uma coisa dessas. Aaron e eu não nos damos bem desde que nos envolvemos com Nadia, alguns anos atrás. Ele me culpa pelo que aconteceu e eu o culpo de volta. Foi ele quem deixou a namorada sair sozinha pela cidade, mesmo que tenha sido para ir até minha casa. A situação só piora com o passar dos anos e toda vez que precisamos trabalhar juntos ele faz o máximo possível para me ferrar, o que é difícil, já que eu sou a mina de ouro do pai dele.

— Trouxe o carregamento certo? — o playboy tenta engrossar a voz e preciso conter o riso. É patético ele querer dar uma de machão quando não passa de um garotinho mimado e pau mandado do pai.

— Está tudo aqui, a boneca já conferiu pra você — Chuck aponta para mim, que apenas pisco de volta — Cadê nossa grana?

— Bem aqui — Aaron joga o envelope para o fornecedor.

Chuck não se dá ao trabalho de conferir a quantia. O grupo trabalha com Mark há muitos anos e sabe bem que o cafetão é muitas coisas, menos caloteiro.

De repente, sirenes de polícia soam bem próximas a nós e todo mundo corre. O som de tiros sendo disparados para o alto me faz correr na direção oposta, para a frente do bar. Lá pelo menos estarei segura. Bem na entrada me deparo com uma garota. Ela está colada a parede do lado de fora, suas mãos tremem e os olhos assustados entregam que ela provavelmente ouviu os disparos. Reconheço o par de olhos cinzas assim que ela levanta a cabeça, cravando seu olhar no meu.

— Reena? O que está fazendo aqui? — seguro em seu braço com um pouco de firmeza e caminho com ela até dentro do bar, mas ela ainda parece perplexa demais para me responder — Terra chamando Reena! Terra chamando Reena!

— Reena? Tá de zoação com a cara dela, né? É Reagan! — Carter aparece ao nosso lado e puxa a garota para si, tirando-a do estado de transe em que ela se encontra — R-e-a-g-a-n — soletra — É difícil pra você?

— Honestamente? Sim — respondo sincera — Vou chamá-la de Reena, é mais bonitinho.

Carter respira fundo e abre a boca pra falar alguma coisa, mas ignoro. Viro-me novamente para Reagan. Seus olhos cinzas me encaram profundamente e posso perceber que ela está levemente corada.

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