Reagan
Não sei de onde tiro forças para fingir estar bem para os meus tios, consigo descer para jantar e comer quase toda a comida em meu prato, mas não consigo me concentrar em nada do que ele e Hierly tanto conversam. Brinco com o garfo, afastando os pequenos grãos de arroz um do outro, o meu celular vibra ao meu lado com as mensagens de Meredith Miller perguntando como estou, mas não a respondo, porque a verdade é que eu não sei. Não faço a menor ideia de como estou me sentindo, não me sinto, a dor que me consome é a mesma que me deixa anestesiada. Estou sentada à mesa ouvindo Danon e Hierly conversarem sobre os seus dias, rirem um para o outro e de vez em quando para mim e preciso forçar um sorriso, faço isso umas três vezes antes de beber um gole do meu suco pra impedir que o nó na minha garganta se forme. Quando os meus olhos enchem de lágrimas, volto a brincar com a comida no prato para que meus tios não percebam, os pensamentos correm pelo meu cérebro e se embaralham com todas as coisas que Bessie me disse nas últimas 48 horas. Sou torturada por lembranças de todos os momentos que passamos juntas e agredida com as palavras mais duras que já ouvi em toda a minha vida.
Me recuso a acreditar que nada daquilo era real ao mesmo tempo em que agarro-me na possibilidade de ter sido apenas usada, usada para massagear o seu ego ou a sua carência momentânea. Bessie admitiu pra mim que transou com Jessica Platte, a mulher que assassinou o meu pai, e no dia seguinte apareceu no colégio com a ex-namorada que supostamente tinha morrido. Empurro o prato para longe de mim quando penso no quanto fui idiota, todo esse tempo esperando uma mensagem ou ligação quando ela estava com outra e ignorando a minha existência por algo que não tenho culpa.
"Eu não te amo" ela disse, cuspindo as palavras com tanta intensidade que tive a sensação de ter o meu coração arrancado para fora do peito. Lembro de ter tentado segurar as lágrimas quando ela segurou em meus braços e me empurrou contra a parede, nunca me senti tão humilhada em toda a minha vida. Tenho certeza de estar caindo num abismo tão fundo que não posso recuperar o meu eu de volta, estou coberta pelas mágoas e dores que Bessie me causa, pelo esforço em vão de tudo que fiz e do que tentei fazer para mantê-la em minha vida. Quando estávamos juntas, tudo à minha volta tinha cor e fazia sentido, eu não precisava de muito, precisava dela comigo, ao meu lado, ainda que em silêncio. Com Bessie não existia momentos constrangedores, existia momentos nossos, quando ela ria... Eu só queria fazê-la rir de novo, nunca fui uma pessoa engraçada, mas com ela eu sentia a necessidade de ser — ainda que nunca fosse boa de memória para decorar qualquer piada ruim —. Bessie despertou em mim coisas que ninguém mais conseguiu. A minha vida antes dela era tão solitária que não consigo lembrar de como eram meus dias. Em San Diego, eu tinha um diário onde escrevia tudo o que sentia, rabiscava as folhas com dores de uma infância perdida, com a perda de um pai que nunca conheci, a dificuldade de convivência com uma mãe viciada em drogas, mas nunca sobre um coração partido. Namorei, mas nunca tinha amado até conhecer Bessie Lotrov.
Quando deito a cabeça no travesseiro, me pergunto se ela também está pensando em mim ou se sente a minha falta com a mesma intensidade que eu sinto a dela. É tão exaustivo carregar essa dor no peito que acordo de madrugada com o coração acelerado, sentindo o estômago doer, querendo voltar a fechar os olhos e dormir, mas com medo de vê-la em meus sonhos e saber que quando acordar, não vou tê-la ali comigo. Nos meus pesadelos ela está com a Jessica, com o Lucca, com a Serena, com a Bree, mas nunca comigo. Bessie não está comigo, não mais. Nunca mais.
— Tem certeza de que não quer ir assistir à missa com a gente? — Danon me pergunta quando ligo a torneira para lavar a louça. Ele beija a lateral da minha cabeça e forço um sorriso. — Não falou muito durante o jantar.
— Só estou um pouco cansada — minto parcialmente, porque o meu cansaço é mais emocional do que físico. — Fiz uma prova surpresa hoje na escola, mas acho que me saí bem.
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Love Affair
RomanceEla quase a atropelou. Se aquilo fosse o destino lhe dizendo que, para conhecer o amor da sua vida, Reagan Gray precisava ver a morte passar diante dos seus olhos, talvez ela já tivesse tentado fazer isso antes. Ela não era uma suicida e nem nada do...