Liberdade, união e fé.

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BESSIE

Desperto do meu sono leve sentindo suas carícias gentis em meu rosto. As pontas de seus cabelos roçam pelo meu pescoço e pelo meu braço, me fazendo cócegas. Sorrio ainda de olhos fechados. Seu cheiro me inebria ao mesmo tempo em que me acalma. Me sinto segura agora, com sua presença aqui comigo. Às cegas, puxo o seu corpo magro contra o meu, em um abraço apertado. Ela me envolve com seus braços calorosos e maternais, me acolhendo sem precisar dizer uma só palavra.

Lágrimas salgadas pinicam em meus olhos, implorando para serem liberadas, mas Serena passa suas mãos frias pelo meu rosto antes mesmo que elas caiam.

— Shhh... — seu dedo indicador toca os meus lábios, pedindo para que eu me acalme. — Está tudo bem agora, eu estou aqui com você, meu amor.

Abro os meus olhos para encará-la.

Serena Redfield é o próprio reflexo da beleza. Sua pele bem cuidada, seus cabelos loiros dourados, seus olhos verdes... Tudo parece conspirar harmonicamente para formar a obra de arte que a mulher é, mas nada se compara ao seu coração e à sua generosidade. Por ter muito dinheiro e nascer em berço de ouro, achei que ela seria mais uma patricinha chata e vazia como as que estou acostumada, mas Serena é gentil, doce e preocupada com o bem estar de todos ao seu redor. Ela não hesita duas vezes antes de ajudar aos mais necessitados. Não consigo me esquecer do dia em que encontramos uma moradora de rua grávida, tremendo de frio e faminta, no caminho para a empresa de Lucca. Serena desceu do carro, retirou o próprio sobretudo Louis Vuitton modelo único e deu à mulher, além de lhe proporcionar uma refeição adequada, um acompanhamento pré-natal com a melhor médica de Eugene e indicá-la para uma vaga numa empresa de grande porte.

Mas a mulher que eu vejo agora na minha frente é só um resquício, uma sombra da mulher forte que eu sei que ela é. Seus olhos estão marejados e inspecionam cada pedaço de pele exposta do meu corpo. Ela segura em meus pulsos delicadamente, para verificar as marcas roxas no mesmo, e toca com cuidado o corte em meu lábio. Faço uma careta devido à dor do contato, me esquivando da minha amiga.

— Quer me contar o que aconteceu? — pergunta gentilmente.

— Como assim? — me finjo de desentendida. — Ontem fui jantar na casa de Alysson, ela me ofereceu um jantar. Aliás, você deveria ter ido. Foi magnífico!

— Tão magnífico ao ponto de te deixar marcada no dia seguinte? — questiona.

Sento-me na cama, jogando as cobertas para o lado, mas me arrependo no mesmo momento. Os olhos de Serena se cravam em meu quadril, onde mais marcas arroxeadas se encontram. Tento me cobrir novamente, mas ela não me deixa, puxando a minha coberta para si.

— O que aconteceu nesse jantar, Sissi? — tenta outra vez, de maneira mais dócil, usando o apelido que só ela usa, porque foi quem o inventou para mim.

Balanço a cabeça negativamente, entediada.

— Nada — comento.

— Você está machucada, Bessie! — observa. — Me diz quem foi que fez isso com você e eu juro que mato o infeliz.

Penso por um momento.

Bree Young, a mulher que Serena ama, me bateu e me ameaçou, me fazendo prometer que não contaria sobre o ocorrido para ninguém.

Não tenho medo dela, não dou a mínima para o que ela pode ou não fazer. Se eu quisesse denunciá-la, faria isso sem pensar duas vezes, mas não quero causar um escândalo a troco de nada. Será a palavra dela contra a minha e mesmo sabendo que um exame de corpo de delito comprova facilmente a minha versão, não quero ser a responsável por arruinar o império Young. Lindy ficaria decepcionada com a filha e ela é a única pessoa que merece qualquer tipo de consideração naquela família hostil.

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