Olhe para os lados, a sua dor não é maior que a do outro.

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Bessie

Resmungo em frente ao espelho, tentando pela milésima vez fechar o zíper da minha calça jeans. Me irrito por não conseguir, já pulei enquanto a puxava para cima, deitei na cama, prendi a respiração e nada funcionou, é impossível. Estou perdendo todas as minhas roupas e não dá mais para esconder a barriga, só que a essa altura do campeonato, duvido que todos já não saibam da minha gravidez. Menos Mark, penso, estou correndo dele como o diabo corre da cruz. Encolho os ombros ao imaginar o dia em que ele descobrir, por enquanto é impossível, não saio de casa para quase nada e quando saio, geralmente estou usando um casaco três vez maior que eu para disfarçar a barriga. Lucca, Bree e Jessica continuam pagando a Mark pelos meus serviços só para me manter longe das vistas dele, estamos nesse estado de comunicação, nos falando apenas por telefone.

— Por que não tenta um número maior ao invés de ficar se olhando dentro de uma peça que te cabe mais? — viro-me para trás, prendendo a respiração assim que ouço a sua voz. Serena Redfield adentra no quarto e pega o vestido longo de cor verde musgo em cima da minha cama. — Tente esse, é mais confortável para você e pro bebê.

Pego a peça que ela me oferece.

— Você já sabe? — questiono o óbvio e ela assente, colocando a bolsa na cama para me ajudar a tirar o moletom e a calça que não fecha. — Quem te contou?

Apesar de eu estar encarando o seu rosto delicado e bem esculpido, Serena foge dos meus olhos, suas esmeraldas correm para meus seios que estão bem maiores por conta da gravidez, nada comparado a quando eu descobri que estava grávida. Eles parecem crescer cada vez mais, a doutora Chloe me avisou que em breve começaria a vazar líquido deles e que isso é algo perfeitamente natural de se acontecer, mas não deixa de ser um saco. Serena toca a minha barriga e eu instintivamente me assusto, as únicas pessoas que até então tocam ali é a Dra. Chloe, e Lucca quando eu lhe dou permissão. Às vezes até eu evito, é mais fácil de ignorar assim, não se olhar no espelho e fazer de conta que só ganhou uns quilos a mais também ajuda. A mão de Serena é quente e acaricia a minha barriga com tanta delicadeza que puxo todo o ar para dentro dos meus pulmões para não começar a chorar na sua frente. Passei tanto tempo sem a minha melhor amiga que vê-la aqui, como se nada tivesse acontecido ou como se ela não tivesse ignorado a minha existência e minhas tentativas de conversar com ela e explicar o que realmente aconteceu, ainda torna as merdas da minha vida menos insuportáveis. Inclusive a gravidez.

— Jessica me contou — diz ela, passando o vestido pela minha cabeça para descê-lo pelo meu corpo. Passo a mão nos cabelos para organizar os fios que se bagunçaram, ainda sem desviar os olhos do seu rosto. — Desculpe ter estado tão ausente na sua vida, Bessie. Eu fiquei tão magoada quando descobri que Brianna te pediu para ser amante dela.

— Coisa que eu não aceitei, Nina — argumento, abaixando a cabeça em busca dos seus olhos. — Como pôde pensar isso de mim? Que eu aceitaria uma proposta tão ridícula como essa?

— Porque você é Bessie Lotrov e transa com qualquer coisa que se mexe — me magoa a facilidade com que as palavras saltam da sua boca. Serena expira, cansada. — Você pode não ter aceitado ser amante dela, mas sempre estava lá, Bessie. Quantas vezes não ouvi vocês transando? Ou flertando uma com a outra bem na minha cara? Mesmo sabendo que eu sou completamente louca por Brianna, você nunca abriu mão de fazer sexo com ela.

Concordo com a cabeça. Ela tem razão. Nunca dei um fora em Brianna, mesmo sabendo dos sentimentos que Serena tinha pela empresária, aceitava as investidas de Bree, seus convites para jantares, eventos ou para o seu apartamento. E eu adorava ser paparicada, ver como a grande empresária que muitos temem caía aos meus pés, aos meus encantos. Meu desespero por atenção foi além do meu caráter e da minha amizade com Serena.

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