Vergonha alheia.

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REAGAN

Não, não, não. Eu não posso acreditar no que está bem na minha frente, diante dos meus olhos. Não posso acreditar que minha mãe está bem aqui, a alguns passos de mim, e eu não consigo sequer dar um passo em sua direção. Não consigo me mover, sinto que estou presa ao chão, como se tivesse cola sob os meus sapatos, me prendendo ali. Sua aparência está um pouco melhor desde a última vez que nos vimos, sua pele agora parece ter mais cor e o seu sorriso está cheio de vida, depois de tantos anos. Seus cabelos negros estão sedosos como eu nunca vi e seus olhos cinzas brilham para mim, convidativos. Elizabeth Gray agora se parece com alguém que eu não conheço, mas ainda não está na hora dela voltar, ou está? Não, certamente não é hora dela estar aqui e não consigo parar de me perguntar o que ela está fazendo aqui, porque tenho certeza de que ainda não está recuperada. Dias atrás as enfermeiras descobriram drogas escondidas debaixo do seu colchão e agora ela simplesmente aparece como se estivesse vendendo saúde? Tem alguma coisa errada nessa história e eu não quero voltar para ela, não quero voltar para San Diego e para aquela vida horrível que tínhamos, onde eu fazia tudo por alguém que não queria ser ajudada.

Eu não quero ir embora daqui, não quero deixar os meus amigos para trás, não quero deixar Danon e Hierly, mas principalmente, eu não quero deixar o amor da minha vida aqui sozinha. Eu não quero deixá-la, me recuso a ficar sem a Bessie.

— Mamãe? — minha voz sai como um sussurro, pigarreio e continuo: — O que está fazendo aqui e como chegou? Você está bem?

Sem responder, ela corre para vir me abraçar, um abraço tão forte que me tira o ar em poucos segundos. Em toda a minha vida, minha mãe nunca tinha me abraçado desse jeito, com tanto amor. Quando se afasta, seus olhos estão marejados e lágrimas escorrem pelos mesmos. Ela acaricia o meu rosto e beija a minha testa, mas seu olhar logo vai de encontro à Bessie e o seu sorriso morre, como se ela soubesse exatamente o que Bessie fez e passou horas antes de vir pra cá.

— Consegui sair de lá — responde, me puxando para sentar ao seu lado no sofá. — Aquele lugar não era bom para a sua mãe, querida.

Olho para Danon, que vira o rosto e coça sua barba por fazer.

— Já estou bem melhor e vim aqui pra te buscar, pra gente ir embora daqui — continua. — Vamos voltar para a nossa casa e fazer tudo diferente do que fazíamos antes — sua voz tem um certo entusiasmo, ela parece ter tudo perfeitamente ensaiado dentro de sua cabeça.

— Beth, conversamos sobre isso — Danon se intromete na conversa. — Não vou deixar você levar Reagan embora daqui. Se olha no espelho, por favor! Você não está bem, saiu da reabilitação por conta própria e nem ao menos se deu uma oportunidade de ficar bem e quer levar sua filha de volta para aquele inferno que vocês viviam? Pra que? Pra oferecer aquela mesma vida medíocre para ela? Desculpe, mas não posso permitir. Eu sou o guardião legal por Reagan agora, você perdeu o seu direito quando ficou tão louca que nem se lembrava do próprio nome.

Mamãe fica calada. Não consigo dizer nada, porque estou em choque. Tudo aconteceu tão de repente, que da mesma maneira que todo o meu passado está vindo à tona agora em minha mente, paraliso só de pensar que ele pode voltar a se repetir. Pelo menos Danon parece mesmo interessado em me manter ao seu lado, em continuar cuidando de mim, e Hierly, para a minha surpresa, o apoia arduamente.

— Não acho que a sua filha queira de volta toda aquela merda que viveu com você — a voz de Bessie chama a atenção de todos, inclusive a minha. — Ninguém merece ter que viver daquele jeito de novo, me diz qual é o ser humano que quer ter uma mãe feito você?

Seus olhos verde-esmeralda estão enfurecidos, transmitindo todo o seu ódio enquanto ela toma as minhas dores. Bessie está me defendendo, cuidando de mim da mesma maneira que eu tento cuidar dela.

Love AffairOnde histórias criam vida. Descubra agora