BESSIE
Releio a mensagem pela vigésima sétima vez desde que ela chegou no meu celular hoje de manhã. O número desconhecido e o recado sem assinatura tentam encobrir o remetente, mas não de mim. Sei muito bem quem me enviou essa mensagem e sei muito bem o que ela quer com isso tudo.
Respiro fundo, deixando o ar puro entrar pelos meus pulmões numa tentativa de me acalmar enquanto leio novamente as palavras que já estão gravadas em minha memória.
"Precisamos conversar. Quero me explicar, te contar os meus motivos para ter feito o que fiz. Vamos ver o pôr do sol como nos velhos tempos? Espero você lá."
A cada vez que eu releio, minha reação é sempre a mesma: mandar Nadia voltar para o inferno de onde ela saiu. O que ela pensa que eu sou? Será que acha que tudo o que fez tem perdão? Porque não, não tem. Não para mim. Não posso perdoar alguém que simulou a própria morte e fez eu me sentir culpada por todos esses anos, não depois de ter chorado por um ano inteiro, implorando para que a dor de sua perda não passasse de mera ilusão.
Desde que nos encontramos "acidentalmente" nos corredores da Devito Enterprise Inc., algumas semanas atrás, eu vivo com medo de voltar lá e encontrá-la novamente. Sempre que Lucca me pede para ir até a empresa, eu invento alguma desculpa e desmarco. Mas não posso ser hipócrita de dizer que não estou curiosa para saber sua versão dos fatos. Uma parte de mim quer levantar desse sofá e ir até ela, questionar os motivos que a levaram a fazer tudo o que fez. E essa é minha oportunidade perfeita para isso, talvez a única.
Pensa, Bessie, pensa.
Você não tem nada para perder, meu subconsciente sussurra para mim. Assinto com a cabeça em concordância. Eu não tenho nada para perder. Se tem alguém que deveria sentir vergonha ou medo desse encontro, esse alguém é Nadia, não eu. Não fui eu que cometi um crime ao forjar minha morte.
Levanto do sofá decidida. Vou até o meu quarto e me arrumo rapidamente, vestindo uma calça jeans justa e uma blusa decotada na cor branca. Minha jaqueta de couro italiano é o meu coringa, quase uma marca registrada de Bessie Lotrov ou um uniforme que eu aprecio muito.
Já é final de tarde quando chego à praia. O sol já está se pondo no horizonte e a brisa fresca que vem do mar faz a minha pele arrepiar. Perdi as contas de quantas vezes eu vim aqui com Nadia, nesse mesmo horário, para contemplar a vista. A praia é um pouco deserta, porque fica distante do centro da cidade, então se torna perfeita para encontros secretos, como os nossos eram. Aqui era o nosso refúgio, nosso lugar seguro. Aqui não existia Aaron controlador, Drina enchendo o saco e nem Mark me sufocando. Aqui éramos só nós duas e o nosso amor. Aqui éramos livres para nos amar e viver do jeito que sempre sonhamos, ainda que por poucas horas.
Me sento na areia para apreciar a paisagem, mas logo o barulho de passos denuncia que alguém se aproxima. Contenho o impulso de virar para ter certeza, mas não é necessário. O cheiro de Nadia é algo inconfundível e que está gravado em minha memória. Só perde para a fragrância marcante de Serena Redfield e seu Chanel 5. Esse realmente não tem como superar.
— Sabia que você viria, amor — sua voz doce surge por trás de mim.
Ignoro o que ela diz e continuo calada, me concentrando em admirar o pôr do sol, que agora já está quase no fim. Nadia se senta ao meu lado e fica em silêncio também, apenas olhando para o horizonte, assim como eu.
— O pôr do sol está tão lindo hoje — recomeça. Seu tom de voz é baixo, mas entusiasmado, como só ela sabe ter. Nadia é o tipo de pessoa que consegue dar a pior notícia do mundo com um sorriso no rosto. — Você não acha, amor?
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Love Affair
RomantikEla quase a atropelou. Se aquilo fosse o destino lhe dizendo que, para conhecer o amor da sua vida, Reagan Gray precisava ver a morte passar diante dos seus olhos, talvez ela já tivesse tentado fazer isso antes. Ela não era uma suicida e nem nada do...