Love Affair

Um coração congelado.

BESSIE

Frio. O frio é aquela sensação produzida pela perda de calor do corpo, causada pela baixa temperatura do meio externo para com o interno de um ser vivo. Ele nos faz tremer, nos encolher e tudo o que pensamos é em correr para procurar algum lugar quente ou um bom casaco que nos proteja da queda de temperatura. Em geral eu gosto dos dias frios, gosto de ver a neve caindo lá fora enquanto eu fico dentro de casa tomando uma boa xícara de chocolate quente e assistindo clichês românticos na televisão, mas o que fazer quando o frio vem de dentro de nós? Como esquentar um coração que a anos foi esvaziado e congelado, programado para não sentir mais nada de bom por ninguém, porque no final a única certeza que ele tem é que será abandonado novamente?

A minha vida toda foi assim, cercada de abandonos e solidão. Ninguém chega por querer e quando chega, não quer ficar. Os únicos que ficaram não sobreviveram para contar história. É claro que eu tenho Serena e Lucca comigo, eles gostam de mim e cuidam de tudo para o meu bem estar. O advogado seria capaz de dar toda a sua fortuna em troca da minha felicidade e a loira, bom, ela é uma boa amiga. Um pouco imatura, um pouco desequilibrada, mas não a julgo. Qualquer pessoa ficaria um pouco perturbada depois de ser rejeitada por Bree Young. Não suporto que aquela arrogante sempre trate Serena como um brinquedo e depois corra para qualquer outro rabo de saia, descartando minha amiga com uma facilidade impressionante. A simples lembrança de Serena Redfield chorando por Bree Young é o suficiente para me fazer querer quebrar a primeira coisa que vejo pela minha frente. Ninguém deveria amar desse jeito. O amor nos deixa fraco, vulnerável, e isso definitivamente não é o tipo de coisa pela qual eu queira passar outra vez.

— Conheço esse seu olhar — a voz de Serena desperta a minha atenção. Ela caminha até onde estou e se abaixa na minha frente, retirando a xícara de café da minha mão. Percebo os nós dos meus dedos voltarem à sua coloração normal quando me livro do objeto e paro de apertá-lo — Não sei em quem está pensando e nem o que essa pessoa te fez, mas não deveria descontar toda a sua raiva nessa xícara. Zita ficará decepcionada se você quebrar outro item da cozinha dela.

— Tecnicamente, a cozinha é minha — resmungo. — E você deveria me agradecer, estava aqui pensando em mil maneiras diferentes de torturar e matar Bree Young e aquela Polly Pocket cabeçuda que ela chama de noiva.

A risada de Serena preenche todo o cômodo, aquecendo um pouco o ambiente que eu esfriei com a minha presença.

É fácil fazê-la sorrir, mesmo quando ela aparentemente tem todos os motivos para chorar. Não me conformo com a facilidade em que ela aceita ser sempre a segunda opção de alguém, está claro para todo mundo que Serena Redfield pode ter a pessoa que quiser aos seus pés, mas mesmo assim, prefere perder tempo correndo atrás de alguém tão mesquinha e quadrada que sequer consegue enxergar o que está perdendo.

— Ela me ligou reclamando que você chamou Julie de Polly Pocket cabeçuda — fala no meio de uma risada. — Sério, Bessie, como você consegue ser tão criativa assim?

Dou de ombros.

— É um talento natural.

— Você quis dizer "uma antipatia natural"? — questiona. É a minha vez de gargalhar. — Eu não sei porque você tem essa implicância toda com Brianna, ela é uma pessoa boa. Só tem uma forma dura de lidar com as pessoas. Assim como você.

— Coloca dura nisso... — comento num sussurro.

— O que disse? — Serena me pergunta, me fazendo pigarrear algumas vezes antes de conseguir responder.

— Apenas acho que sua amiga precisa encontrar um jeito melhor de lidar com os outros. Nem todo mundo é obrigado a aturar o mau humor diário dela — respondo com um sorriso forçado.