Uma carta de despedida.

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Bree

"Não é sua culpa eu não ser o que você precisa, nem que eu tenha estragado tudo. Eu não quero arrastar você pra minha confusão, borbulho medos e traumas que irão te sufocar. Ultrapasso todos os limites e me torno esse monstro do qual não me reconheço quando me olho no espelho, e eu vou te machucar, porque é isso o que eu faço, machuco as pessoas que amo por achar que elas vão embora quando eu menos esperar. Prefiro ser a pessoa que vai te mandar embora, a que vai conseguir ganhar o seu desprezo e transformar todo o seu amor em ódio do que me tornar a pessoa que vai acabar de coração partido, porque o meu coração é seu, Reagan, e eu nunca me importei com o estrago que alguém pudesse fazer com ele, mas prefiro que me odeie pelos motivos que te dei do que ouvir da sua boca que não poderia ficar comigo por conta do filho que estou esperando. Perdi a única figura paterna que tive quando criança, minha mãe me abandonou na porta de uma igreja, fui violentada pelo seu... E a minha vida está presa a Mark Sterling, sou dele pelo tempo que ele conseguir tirar dinheiro pelos programas que faço. Eu disse que não te amava e meu coração sangrou quando olhei nos seus olhos e vi John dentro deles, uma lembrança escura que achei ter esquecido.

Eu nunca amei tanto alguém em toda a minha vida como eu amo você. Me perdoe por te machucar e por te afastar de mim. John é o muro que não consigo derrubar entre nós duas. Sou fraca, Reagan, e sem você, sou só uma pena solta caindo lentamente no chão. Ninguém se importa.

Com amor e carinho,

Bessie Lotrov"

Beberico o vinho da minha taça quando termino de ler a carta que Bessie escreveu e não enviou para a sua amada. É tão clichê e bobo entregar o seu coração pra alguém e achar que vai morrer por não receber de volta o mesmo sentimento. Você joga suas expectativas em outra pessoa e quando ela não corresponde, você a culpa, mas se ela corresponde, de alguma forma, ainda há sofrimento. Serena Redfield sempre diz que sou fria por não me abrir a possibilidade de me apaixonar por alguém, mas por que inferno eu iria permitir me torturar com dores em lugares que não posso aliviar com remédios e que dependem não apenas de mim, mas também do tempo para cicatrizarem? Se amar valesse mesmo a pena, não teria tanta gente sofrendo no mundo. Não preciso de ninguém pra encontrar uma razão para viver, o meu trabalho é a minha vida e qualquer coisa depois disso é só perda de tempo.

Julie é minha noiva, mas sendo sincera, é só um troféu para eu exibir nos eventos. Todo grande empresário tem uma esposa ao seu lado, comigo não seria diferente. O sexo é legal, nada de outro mundo, porque Julie não entende os meus gostos na cama, mas dá pro gasto. É bonita, serve de enfeite, apesar dela não ser exatamente o que eu tinha em mente para ser a futura Sra. Young. A Srta. Lotrov seria perfeita para bancar esse papel, mas ela preferiu voltar atrás e agora está carregando no ventre uma coisinha insignificante de um relacionamento que vai prendê-la para o resto da sua vida ao lado de um homem que não ama.

Rio sozinha com a ironia da situação.

— NÃO! — ouço o grito vir do quarto e coloco a minha taça de vinho sobre a mesa do centro para correr até o cômodo. Abro a porta do meu quarto e vejo Bessie se debatendo na cama, me aproximo dela e seguro a sua cabeça para levantá-la e coloca-la em meu colo. Procuro o relógio na mesinha ao lado da cama, são 03h12minn da madrugada. É o seu segundo pesadelo até agora. — SAI DE CIMA.... SAI... POR FAVOR... NÃO! NÃO!

— Shhhh.... — murmuro, acariciando seus cabelos e sentindo algumas mechas molhadas de suor. Bessie abre os olhos e agarra a minha cintura, os dedos cravando em minha pele com força em busca de algo real, sólido, que a relembre de onde e com quem está. — Não podemos continuar assim, Srta. Lotrov. Irei levá-la ao meu terapeuta pela manhã.

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