BESSIE
Sorrir. Acenar. Ser gentil. Não falar a não ser que falem com você. Essas são as quatro regrinhas básicas para o sucesso quando se é uma acompanhe de alto luxo. É clássico: um homem rico te contrata, te leva a jantares importantes, te expõe como um troféu humano e tudo o que você tem que fazer é fingir estar feliz enquanto ele passeia pelo salão cumprimentando outros homens ricos e suas belas acompanhantes. Dinheiro fácil, alguns podem pensar, mas não eu. Esse não é o meu trabalho. Ou melhor, não é a minha especialidade.
─ Só mais um pouquinho e eu prometo que te levo pra casa, princesa ─ a voz do meu acompanhante soa mais próximo do que eu gostaria.
Forço o meu melhor sorriso e dou um breve aceno com a cabeça para o homem a minha frente. Estou tão farta desse jantar que nem ao menos consigo sorrir com naturalidade mais e ele sabe disso. Por isso, ao invés de discutir, o Sr. Devito apenas me dá um rápido beijo nos lábios e some pela multidão de riquinhos engomados novamente.
Lucca Devito é milionário de nascença e atualmente o melhor advogado de toda a América do Norte. Nos conhecemos quatro anos atrás, no início da minha "carreira", se é que posso dizer assim. Eu era só uma garota de 17 anos e ele, um cliente a mais. Na primeira noite não transamos. O homem estava bêbado, havia levado um pé na bunda e só sabia chorar e xingar a ex. No segundo encontro nos beijamos. Ele dizia que eu era diferente das outras meninas e nutriu uma afeição instantânea por mim. Hoje Lucca é meu maior cliente e o mais generoso também. Graças a ele eu tenho uma boa casa, carro do ano, viagens e uma conta bancária tão gorda que poderia sustentar uma família inteira sem que alguém precisasse trabalhar por duas gerações.
Além disso, é provavelmente a única pessoa, além de Serena, que me atura de verdade e ainda me paga por isso e eu sei que deveria ser grata e me esforçar pra aguentar esses jantares com um sorriso no rosto, mas eu preferia mil vezes ter sido contratada por outro cliente esta noite. Seria fácil: eu colocaria uma roupa provocante, um batom vermelho e morreria de foder até o babaca gozar e eu poder ir pra minha casa dormir. Se desse sorte de pegar um cliente legal, ainda ganharia uma boa gorjeta no final da noite pelos ótimos serviços prestados. Mas não. Ao invés disso, eu estou presa nesse jantar entediante que os Redfield estão oferecendo para arrecadar fundos para o orfanato da cidade. Se eles ao menos soubessem o quanto eu odeio esse orfanato...
Sem que eu me dê conta, mãos frias são postas sobre os meus olhos, me arrancando dos meus pensamentos. O cheiro adocicado, tão conhecido por mim, chega até minhas narinas e meu sorriso se abre automaticamente.
─ Cheirando a Chanel 5 desse jeito, só pode ser a loira mais gata de Manhattan ─ digo, ainda com os olhos tampados. A mulher retira as mãos do meu rosto e eu giro nos calcanhares para olhá-la de cima abaixo ─ O que faz por aqui? Não me diga que também foi tocada pelo espírito da caridade e quis participar de um evento tão chato feito esse?
Serena Redfield dá um sorriso irônico e balança a cabeça em negação. Permito-me olhar todo seu corpo por um momento e, caramba, a garota é mesmo um acontecimento. Seu corpo magro, mas cheio de curvas, foi totalmente valorizado pelo vestido justo. O tecido avermelhado contrasta perfeitamente com sua pele alva e o decote em "v" valoriza seus seios medianos. Ela está simplesmente perfeita. Se não fosse pelas poucas sardas em seu rosto, passaria facilmente por uma mulher de uns vinte e poucos anos, dessas que andam por aí em saltos altíssimos e estão prontas para fechar qualquer negócio bem lucrativo. Mas Serena é na verdade uma universitária de 19 anos, herdeira de todo o império dos Redfield e cabeça dura o bastante para não aceitar a vida perfeitamente planejada que seus pais lhe oferecem desde que nasceu. Ao invés disso, ela prefere abrir uma empresa de publicidade, mesmo sabendo que mais dia menos dia terá que abandonar tudo para se dedicar aos negócios da família.
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Love Affair
RomanceEla quase a atropelou. Se aquilo fosse o destino lhe dizendo que, para conhecer o amor da sua vida, Reagan Gray precisava ver a morte passar diante dos seus olhos, talvez ela já tivesse tentado fazer isso antes. Ela não era uma suicida e nem nada do...