Antes de dizer adeus.

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BESSIE

Nós, seres humanos, desde que nascemos somos revestidos com o sentimento de medo. Medo do escuro, medo de cair, medo da morte, medo de altura, medo de se entregar ao amor e quebrar a cara... Todos nós sentimos medo em algum momento de nossas vidas. É natural. Mais do que isso, é biológico, afinal, esse sentimento incômodo não passa de uma resposta do nosso cérebro, que, diante de uma situação de eventual perigo, começa a produzir involuntariamente uma série de compostos químicos que provocam as reações características do medo.

E sendo o medo uma resposta biológica do cérebro, poderíamos dizer então que ele é algo da nossa cabeça, que só nos controla quando damos esse poder para ele? Talvez sim, talvez não, mas a realidade é que quando o sentimento de medo toma conta do nosso ser, até o mais corajoso dos homens vira uma criança indefesa outra vez.

Se o medo acomete todo e qualquer ser humano, qual será o maior medo de uma garota de programa?

Bom, algumas pessoas acham que engravidar é o maior medo de uma mulher que trabalha vendendo o próprio corpo, enquanto outros preferem apostar no risco de se contaminar com alguma doença sexualmente transmissível. O que ninguém nos conta é que os nossos medos são exatamente iguais aos de todas as outras pessoas, porque, por mais que a sociedade não nos enxergue como igual, no fundo é isso o que nós somos: iguais à eles. E para Bessie Lotrov, que nunca sentiu medo de nada, o medo de engravidar não é nada quando comparado com o medo que eu sinto de ficar sozinha outra vez.

Olhe para mim e diga que não está grávida, Srta. Lotrov.

Quase que como resposta para o meu devaneio, meu subconsciente me traz de volta as palavras que Bree Young disse para mim na última vez em que estivemos juntas. Relembrá-las é como uma tortura silenciosa, que brinca com a minha mente e me faz suspirar.

— Não posso estar grávida — sussurro para mim mesma em voz baixa, repetindo algumas vezes numa espécie de mantra particular. — Seria insano demais, idiotice demais.

— Bessie! — a garota à minha frente me chama, atraindo minha atenção para si. Pela expressão de irritação em seu rosto, deduzo que ela precisou me chamar mais de uma vez, o que seria o fim do mundo para o meu projeto de amiga. — Do que você está falando? Eu não estou conseguindo compreender.

Pisco duas vezes, atônita por ter pensado em voz alta, e encaro os olhos azuis de Meredith Miller, que me encara de volta com expectativa, esperando por uma explicação minha. A confusão em seus olhos me faz ter a certeza que ela não ouviu nada do que eu disse, me tranquilizando imediatamente. Não contei para ninguém sobre as suposições fantasiosas de Bree Young, não quero que mais ninguém tenha a chance de pensar igual à minha ex-noiva e tornar um dos meus piores pesadelos em realidade, por isso, resolvo ignorar Meredith, remexendo o canudo em meu copo, agitando o refrigerante, que borbulha furiosamente em resposta.

Olho ao redor do refeitório lotado, procurando alguém em específico, mas não enxergá-la de onde estou, além de ser frustrante, é também um alívio. Não quero vê-la, não quero falar com ela ou me lembrar de suas promessas mentirosas.

— Você está cada dia mais distante de mim — Meredith recomeça, tentando prender minha atenção antes que eu me disperse outra vez. — Não atende mais as minhas ligações, não responde minhas mensagens e cada dia está mais difícil de te encontrar na sua casa. Isso sem mencionar que agora você vive grudada naquela Serena pra cima e pra baixo, como se fossem melhores amigas.

— E nós somos — respondo sincera, deixando Meredith furiosa e me fuzilando com o olhar. — Mer, desculpa não estar te dando a atenção necessária e desculpa sumir mais do que aparecer, mas é que eu estava ocupada resolvendo uns problemas com Bree em Manhattan.

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