Quem mandou entrar assim na minha vida?

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REAGAN

Bessie odeia fazer compras.

Odeia filas.

E odeia mais ainda ter que esperar.

Apesar do tempo que nos conhecemos, tudo o que descubro ao seu respeito é valioso demais para ser compartilhado com mais alguém. Bessie não é do tipo que senta para me contar sobre a sua vida, por razões das quais eu consigo compreendê-la. Sempre espero por momentos espontâneos onde a vida, o destino ou uma força maior me proporciona a felicidade de descobrir seus pequenos detalhes, que até então são desconhecidos. É simples. O único problema para mim é não termos um compromisso fixo. Ficamos juntas, nos beijamos, transamos, algumas vezes até fazemos promessas de um futuro incerto, mas no final do dia, não é ao meu lado que ela dorme e não sou eu quem ela apresenta aos seus amigos como "namorada". Talvez Lucca Devito ocupe esse espaço, sem precisar de uma apresentação formal. Qualquer um que olhe para eles dois juntos pode dizer que são um casal.

Por mais que Bessie negue isso, a realidade é o que é.

Eles são um casal não compromissado, mas ainda sim um casal. Daquele tipo que vai para todos os eventos e festas juntos, onde um exibe ao outro como troféu e o apresenta de forma que dispensa a simples menção de que eles estão juntos. No começo, achei que Serena Redfield seria um problema: linda, jovem, rica e, acima de tudo, é o braço direito de Bessie. Mas Serena já me garantiu que não tenho com o que me preocupar, que ela não tem nenhum interesse amoroso em Bessie e que são apenas boas amigas. Ao que tudo indica, Serena é apaixonada por sua melhor amiga de infância, a empresária e publicitária Bree Young, mas o seu amor não é correspondido, pelo que Bessie me contou. Bree nem sequer cogita a possibilidade de haver sentimentos amorosos por parte de Serena.

Às vezes me convenço de que o amor é para todos, menos para os apaixonados.

Zita pediu para que Bessie ficasse encarregada de fazer as compras desse mês, uma tarefa que a morena odeia com todas as forças, mas que para mim, é uma terapia. Me ofereci para ajudá-la e, por isso, estamos a quase duas horas dentro do supermercado, escolhendo produtos de limpeza e riscando os itens da lista feita por Zita com a caneta que Bessie usava para segurar o seu coque improvisado. Os seus cabelos negros estão soltos e volumosos, lhe dando um ar incrivelmente irresistível e não consigo conter o sorriso que se forma no canto da minha boca ao vê-la ler a embalagem de uma fita adesiva para pegar ratos.

— Alguém acha que isso pode realmente funcionar? — reclama consigo mesma.

— Açúcar, vinagre, massa de bolo e café — digo os itens que acabei de pegar pausadamente, riscando-os da lista depois que os coloco dentro do carrinho de compras. — E é isso, terminamos.

Bessie larga o adesivo de volta na prateleira e se vira para mim, murmurando um "Graças à Deus" de forma dramática.

— Pegamos o frango? — ela pergunta.

Pego a embalagem de frango congelado dentro do carrinho e lhe mostro, relembrando que tive que ficar quase dez minutos na fila esperando para pesá-lo enquanto Bessie comia uma fatia de pizza na lanchonete. Ela dá de ombros e agarra a barra do nosso carrinho, virando-o e seguindo pelos corredores na direção dos caixas.

— Se você não parar com isso, eu vou bater na sua cara — ameaço depois de sentir ela apalpar o meu traseiro por debaixo da minha saia. — BESSIE!

Ela olha ao redor, a procura de ninguém em específico, apenas para se certificar de que não há alguém por perto. Da penúltima vez que ela apalpou o meu traseiro, uma senhorinha viu e nos chamou de "sem vergonhas". Bessie se divertiu com o comentário, com certeza não levou na maldade, mas eu fiquei com tanta vergonha que saí o mais rápido que pude do setor de enlatados.

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