Capítulo 1 :

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CARLA

Carla: Quem é a próxima candidata?

Carla, estava se controlando! O dia podia estar pior? Incompetentes, idiotas, taradas e imorais. Qual é o quesito básico para se achar uma secretária que não esteja apenas interessada em arrumar um marido rico dentro da Empresa?

Tamborilei a unha levemente pela superfície da mesa, encarando Thaís, do RH, como se a fuzilasse no mesmo momento. E ah, eu até gostava dela...

Thaís: Bom, senhorita Diaz... — sorriu de lado meio constrangida, agarrada a sua prancheta enquanto girava o salto vermelho no chão — Nós não temos mais candidatas.

Carla: Como assim não temos mais? — quase cuspi as palavras sobre ela — Pedi cinco candidatas para a hora do almoço e até agora vocês me trouxeram quatro selvagens a procura de sexo e um casamento fácil! Poupe-me Thaís! Quero alguém capacitada para ocupar o cargo! Será que é pedir demais? Uma empresa do porte da Delux deveria oferecer um RH mais qualificado... É entristecedor saber que a decadência está a essa altura dentro deste lugar...

Girei minha cadeira dando as costas para ela, encarando a vista do vigésimo quinto andar do prédio. Sorri de canto esperando uma reação. Nada.

Thaís: Vou buscar o último candidato. Com licença — e a porta foi aberta e fechada brevemente.

Ótimo!

ARTHUR

Thaís: Prepare-se querido, está preste a entrar no inferno e ficar de frente com o demônio!

A moça que havia se apresentado como "Thaís do RH"  se aproximou após dizer estas palavras. Parecia-me apreensiva quando pegou em meu pulso e me puxou da rodinha de mulheres que me cercavam no escritório amplo e bem decorado da Delux. Ouvi algumas se despedindo animadamente e tive apenas tempo de acenar.

Arthur: Como assim de frente pro demônio? — perguntei querendo amenizar o clima.

Claro, uma empresa como a Delux deveria possuir muito chefes durões, mas a reputação dessa tal de Carla Diaz, responsável pelo departamento de moda, era devastadora! Pelos cinco segundos em que fiquei na presença das garotas, pude ouvir expressões como "maluca, mal comida e vaca" entre os adjetivos empregados a patroa.  Em tantos anos trabalhando em Empresas famosas, nunca presenciei tamanho ódio dos subordinados para com o líder.

Thaís: Carla Diaz, vulgo demônio — paramos em frente a uma porta imensa de madeira com maçanetas de ouro.

Parecia um cenário macabro de terror. A garota a minha frente deslizou as mãos pela minha camisa social brevemente, alisando uma parte dela e me olhou nos olhos com segurança

Thaís: Não olhe nos olhos dela, não a toque, não fale se não for perguntado; você é bom, cara. Muitas pessoas dariam tudo para estarem no seu lugar. Por favor, por todos desse departamento, vai lá e consiga esse trabalho porque senão... — fez sinal de morte, como se cortassem sua cabeça — Vai! — abriu a porta e me empurrou pra dentro da sala.

Ajeitei melhor minha camisa, passei as mãos pelo cabelo respirando fundo ao encarar um pequeno corredor. Ao final, pude ver claramente a sala dela. O cheiro de perfume caro impregnado no ambiente juntamente a café fresco sugeria a ideia de que apesar de durona, era mesmo uma mulher importante e ocupada. Respirei fundo e caminhei até lá sem medo, vendo sua cadeira virada para o outro lado, me ignorando.

Arthur: Com licença — parei em frente à mesa numa  postura educada. Assim que minha voz soou, quase instantaneamente a cadeira se virou — Bom dia, sou Arthur Picoli. Vim para a entrevista de modo a ocupar o cargo de secretário e assessor — sorri após me apresentar esperando que ela dissesse algo. Mas não. Nada.

Uma mulher pequena, pálida, jovem, de cabelos longos e moldada perfeitamente em uma roupa chique e lilás me encarava de cima a baixo, ignorando minha apresentação. Era completamente ao contrário do que pensei ao imaginá-la. Velha, carrancuda, talvez um pouco fofinha, cabelos brancos e chique. Seu cabelo longo e brilhante ofuscava meu olhar assim como a forma graciosa como cruzava as pernas.

Pensei que iria me afogar em tanto brilho. Tinha lábios vermelhos e olhos maquiados de marrom, unhas pintadas de marrom; usava óculos de grau e era dona de um olhar arrogante, profundo, intimidador, sexy. Sempre desconfiei que o demônio fosse sexy, oh sim.

Após me examinar alguns segundos, ao invés de dizer algo, a patroa abriu uma gaveta e dela puxou um envelope grande. De lá tirou um papel e o postou em frente ao rosto. Leu e me encarou novamente quase bizarramente nervosa. Suas bochechas corando. Abaixou o papel e apertou um botão no telefone.

Thaís: Sim senhorita Diaz — A voz do outro lado me foi prontamente familiar.

Carla: Vocês mandaram um homem para a seleção? —disse com a voz calma, quase como uma canção — Aqui no currículo, por acaso, não está constando que ele é gay.

Cruzei os braços meio indignado, porém intrigado com a postura daquela mulher. Era tão pequena e tão durona, tão linda e tão azeda, tão sexy e tão bloqueada. Me olhava como se desejasse me bater, como se estudasse cada reação de meu corpo. Claro, era a contratante e eu o contratado, mas não precisava me fuzilar a cada segundo.

Thaís: Ele não é gay, senhorita Diaz. Não me lembro da senhorita ter especificado sobre o gênero do contratado, apenas queria alguém capacitado e o currículo do senhor Picoli trás boas referências e qualificações. —  Toma essa então!

Pisquei para a chefona quando me olhou nos olhos pela primeira vez. No mesmo momento adotou uma postura diferente; cheguei a pensar que iria me jogar o telefone, mas... Não tenho medo dela! Se quiser, pode me atacar na hora que for... Demônio sexy.

Carla: Bacana. Entendo-me com você depois — e desligou me olhando atentamente — Sente-se senhor Arthur Picoli — leu meu nome e pegou o currículo novamente, lendo-o.

Arthur: Com licença — me sentei na cadeira a sua frente esperando sua reação, vendo a forma linda como seus olhos percorriam o papel lentamente. Olhos castanhos e fatais.

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