Capítulo 60 :

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ARTHUR

As surpresas ao decorrer do dia foram muitas. Maria Clara e suas palavras doces, o passeio agradável com as pessoas que amo, o simples fato de estar numa viagem ótima como elas já era intenso motivo de felicidade... Mas nenhuma surpresa para mim foi tão satisfatória quanto a última. Quando sai do chuveiro, Carla não estava no quarto. Imaginei que tivesse ido ver a Maria Clara, não estranhei o feito. Me troquei, colocando bermuda e camisa sem mangas, peguei o livro e me deitei na cama do lado direito, deixando a teimosa ficar com o esquerdo. Suavizei o pensamento, mergulhando na leitura, até que a porta foi aberta; quando percebi, Carla estava entrando com uma xícara nas mãos, lutando para não deixar uma gota de seja lá o que houvesse dentro da xícara cair no chão.

Arthur: E agora? O que é isso? — abaixei o livro e encarei-a, vendo que se aproximava depois de fechar a porta.

Carla: Eu não disse que ia fazer um chá para minha criança? — com um sorriso, me esticou a xícara. Confuso, aceitei sem tirar os olhos de seu rosto orgulhoso. Abanou as mãos — Está quente, cuidado!

Arthur: Claro... — senti o cheiro do chá e era forte e doce — Nossa! Estou sendo mimado... Isso é bom — beberiquei o líquido quente e estava gostoso, tão saboroso quanto o cheiro.

Carla: E ai? Mandei bem? — se esticou para pegar meu livro e começou a folheá-lo em seu colo, me ignorando.

Arthur: Mandou muito bem — continuei bebendo o chá — Está ótimo. Obrigado por se importar.

Carla: Obrigada você também — espiei-a por trás da xícara.

Arthur: Pelo quê exatamente está agradecendo?

Carla: São tantos os motivos...

Prosseguiu com os olhos nas páginas do livro, e notei que era difícil para Carla aceitar olhar nos olhos de uma pessoa enquanto revelava seus sentimentos mais profundos. Fiquei em silêncio, encorajando-a a continuar

Carla: Obrigada por me aturar, por amar a minha filha, por fazê-la feliz, por ter tido paciência de me esperar sair desse rolo que fiz em minha vida para podermos... Seguir em frente — ao final, olhou para mim. Abaixei a xícara também, encarando-a.

Arthur: São coisas pelas quais não precisa me agradecer — garanti — A unica coisa que te peço é que me conte quando estiver pronta para me dar uma chance, assim não preciso sempre ser um idiota!

Carla: É o que quero dizer — fechou o livro e no mesmo momento coloquei a xícara em cima do móvel ao lado — Acho que já estou pronta. Acho que posso te dar uma chance.

Arthur: Não quero que ache, quero que tenha certeza. Por isso não tenho pressa — me deitei ainda olhando-a — Não precisa se preocupar com nada, porque estou apaixonado e quando decidir, ainda estarei aqui. — Suspirando, Carla se arrastou e se deitou ao meu lado, pousando o rosto na curva de meu pescoço. Abraçou o corpo no meu. Ficamos em silêncio um longo momento.

Carla: Também estou apaixonada por você, Arthú — confessou fazendo meu coração entrar em descompasso — E talvez seja por isso que me sinto ridícula. Nunca me apaixonei dessa forma antes.

Arthur: Também nunca pensei em ser de uma só mulher — confessei — Mas ao te conhecer tudo mudou... — ao mesmo momento, Carla se sentou e me encarou um tanto incrédula.

Carla: Você fala isso de verdade ou zoando? Porque se for mentira é pura maldade... Porque acredito! — puxou um travesseiro e bateu em mim com ele. Sorri e me afastei.

Arthur: É claro que é verdade! — peguei o outro travesseiro e bati em sua perna também — Porque mentiria?

Carla : Seu petulante... Para de me acertar com esse travesseiro! — começou a me acertar mais e mais vezes com seu travesseiro, se jogando em mim.

Arthur: É guerra? — virei seu corpo, ficando por cima e a acertando também.

Carla: Sim, é Guerra! — me agarrou com as pernas e me acertou várias vezes.

Entre vários movimentos, impactos e gritos, Carla estava embaixo de mim e suas mãos em meu rosto. Os travesseiros, jogados ao chão, não faziam mais parte do cenário, pois a atenção estava cem por cento voltada para nossos lábios, a centímetros de se unirem. Foi uma sensação estranha... O coração dela batendo contra o meu, nossa respiração trabalhando no mesmo compasso... Nossos lábios se roçaram e foi como se houvesse sido assim todo o tempo.

Arthur: Acho que posso beijar você toda — anunciei com uma voz que não era minha, com a falta de controle que não fazia parte do meu jeito de ser.

Corri os lábios por seu rosto, as mãos dela entrando por baixo de minha camisa apressadamente, explorando meu corpo. As coisas entre nós eram tão fáceis, que em segundos minha camisa e a blusa dela estavam no chão, ao lado dos travesseiros. Permaneci um tempo apenas observando seu corpo sob o meu, inerte, a mercê de minha vontade... Corri os lábios por ela, saciando-me do sabor de sua pele, oscilando entre o colo e os seios, cobertos pelo sutiã preto. Sem pensar muito, escurecido pelo desejo e os sons singelos que enchiam o quarto, desci as alças do sutiã pelos ombros levemente, ainda beijando seu corpo onde podia.

Tão rápido quanto começara, Carla segurou minha mão esquerda e fechou os olhos, trazendo meu rosto para perto do seu. Entendi a mensagem de imediato, tentando acalmar meus nervos e a excitação. Não foi fácil beijá-la, tão pouco seria dar um passo a mais na relação que nem sequer havia começado.

Carla: Me desculpa — pelo jeito não conseguia me olhar — Não dá. Não agora — rocei a testa na sua, tocando seu nariz com o meu. Sorri.

Arthur: Está tudo bem. Ainda estou aqui e vou te esperar. O tempo que for necessário.

Após uns segundos, depois de digerir minhas palavras, ela abriu os olhos e me encarou profundamente, suspirando e sorrindo. Me beijou... E esperei.

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