Capítulo 89 : 🎢

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Muitas coisas se passaram em minha cabeça no mesmo instante, chegando a ser impossível de me controlar. Eu poderia fazer drama, me comover, chorar, gritar... Mas não consegui proferir sequer uma palavra. Apenas apertei mais a mãozinha de Maria Clara e a trouxe para mais perto de mim, quase a abraçando. Meus olhos eram incapazes de abandonar os de Arthur, que ao notar nossa presença abaixou o celular e deixou que caísse no chão, causando um barulho estrondoso que me despertou para a realidade.

Arthur estava falando com o doutor André Brawn. Falando sobre Maria Clara. Chamando-a de filha. Dizendo que hoje era aniversário dela e por isso não deu a notícia ainda.
A notícia de que era o pai biológico dela.

Apesar de pasma, surpreendida e dilacerada por dentro, a sensação que mais se sobressaia era o enjoo que sentia de mim mesma, o mal estar que vinha de meu estômago tomando todo meu corpo. Porque não suspeitei antes? Como pude ser tão tola a ponto de não notar como os dois eram parecidos? Como não perceber a mudança comportamental de Arthur após ter ouvido minha história de vida? Deus... Foi lá que tudo começou! Quando ele me ouviu dizer sobre minha gravidez... De repente era outra pessoa. Como passou a olhar Maria Clara. Com olhos ternos e apaixonados, mas de maneira fraternal. Como um pai.

Como. Como. Como.

Eram muitos "como" juntos, mas já estava explicado. A pergunta de Maria Clara, as minhas inseguranças em relação a ele e seu comportamento estranho... Tudo explicado e sempre esteve em nosso rosto.

Maria Clara: Isso é verdade mamãe? Arthur é mesmo meu pai? — larguei a mão dela brevemente e levei até minha barriga, que doía com o enjoo.

Carla: Sim — mal percebi, mas meus olhos estavam cheios de lágrimas e as forças faltando. Olhei em direção a ela, depois a ele... Ambos me olhavam esperançosos — Ele é seu pai — finalmente, consegui dizer às palavras que pensei que nunca diria — Não é a verdade? — lancei a pergunta a Arthur, vendo-o dar assentir com a postura recolhida.

Arthur: Sim, é a verdade — completou com a mandíbula travada, contendo o choro também. Mal conseguia me olhar nos olhos.

Maria Clara: Eu não acredito em vocês — deu de ombros imaginando ser uma brincadeira — Por que só me contaram agora?

Arthur: Porque acabamos de descobrir — aquilo foi mais para mim do que para ela, pude notar. Ele ameaçou andar em minha direção, mas dei um passo para trás — Será que pode nos perdoar por isso?

Maria Clara: Mas é sério mesmo? — agora ela estava sorrindo de orelha a orelha. Para ela, tendo apenas sete anos, as coisas eram tão fáceis. Para ela, que não sabia de nada do mundo, no auge de sua inocência, perdoar era tão simples... Nada parecia compensar a felicidade de ter, finalmente, um pai.

Carla: Sim — assim que falei, Maria Clara voou para o colo de Arthur e o abraçou com força, quase chorando também.

Maria Clara: Você é meu pai Arthur! Meu papai! — quase gritou, choramingando — Sabia que esse é o melhor presente de aniversário do mundo?

A forma como eles se olhavam... Era felicidade demais para mim, que não sentia o mesmo, talvez sentisse, mas um tanto distorcidamente. Engoli o choro por todo o tempo, mas ao perceber que não conseguiria mais, passei a chorar e saí de lá os deixando a sós. O que me comprimia era a sensação mais estranha do mundo. Cheguei até a varanda da parte de trás e me sentei na cadeira de balanço chorando. Era impossível conter as lágrimas, impossível não sangrar pelo coração.
Como assemelhar meu Arthur, doce, terno e maravilhoso a um homem que sempre julguei ser insensível e mesquinho? Que sempre imaginei como o pior tipo de pessoa do mundo por ter recusado a própria filha? Era algo irreal, fora de tudo o que conheço. Após um longo momento chorando, senti a mão de alguém tocando meu ombro. Assim que olho para trás, vejo Dona Beatriz de maneira borrada e distorcida.

Beatriz: Você está bem querida? — abaixou-se a minha frente preocupada, tocando minha testa— Não, não está.

Carla: Eu não... Não acredito — sussurrei sem ouvir minha própria voz — Não posso acreditar.

Beatriz: Em que querida? — tocou meu rosto—Céus, você está muito fria! — Ela ficou de pé e chamou Arthur.

Carla: Não! Não o chame! — foi o que falei antes de tentar me erguer e sentir tudo girar.

Beatriz: Sua pressão deve ter caído — comentou me empurrando de volta a cadeira delicadamente — Relaxe, se não você pode desmaiar...

Sua profecia se concretizou. Não senti mais nada.

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