Capítulo 69 :

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CARLA

Chegamos à adorável conclusão de que esconder o nosso namoro do pessoal da Delux era o mais correto. Primeiramente porque o emprego de Arthur poderia entrar em risco e sua capacidade possuir caráter duvidoso. Mesmo sendo a chefe do departamento de moda, a mais respeitada no ramo e tudo mais, havia um Presidente a quem deveria responder, a quem apresentar minhas satisfações... Relações amorosas entre funcionários não era um assunto tão tolerável na Delux para ser posto em risco tão depressa. Porém, a coisa mais marcante que já senti em anos foi perceber que desligar o telefone à noite depois de falar com ele era quase a coisa mais difícil do mundo pra mim. Ouvir aquela voz, aquele som gostoso e calmo era inigualável, me deixava calma... Trocar ideias, declarações idiotas de amor então... Melhor ainda!

Arthur tinha as palavras corretas para mim, o jeito de lidar comigo como ninguém nunca conseguiu. Apenas de ouvir minha voz sabia tudo o que estava pensando, o que estava sentindo... A nossa conexão era mesmo incontestável.
Quando o elevador abriu no departamento de moda, tive a visão de Arthur conversando com Thaís em sua mesa antes de notar qualquer coisa. Usava uma camisa social rosa claro essa manhã, me fazendo sorrir abertamente de sua aura positiva. De costas para mim não me notou chegando, mas não pensei duas vezes antes de andar até ele e tocar suas costas. Tanto Arthur quanto Thaís se viraram para me olhar, ela sentada em sua mesa e ele parado, debruçado sobre o balcão que dividia a mesa dela e de Melanie.

Carla: Bom dia — falei discretamente, retirando a mão de seu ombro — Tudo bem?

Arthur: Bom dia... — seu rosto estava engraçado, nitidamente ocultando algo.

Thaís: Bom dia, senhorita Diaz... — ela, por sua vez, parecia extremamente surpresa por meu ato de cumprimentá-los — Tudo bom sim.

Carla: Ótimo! — pisquei para ela e olhei Arthur — Pronto? Vamos trabalhar?

Arthur: Claro, claro — Ele ficava me encarando com a expressão idiotamente apaixonada. Segurei para não sorrir — Quer que eu pegue as pastas?

Carla: Oh, não... — me virei para Melanie — Melanie será que poderia levar as pastas de modelos em minha sala, por favor?

Aquilo bastou para o queixo de todos caírem do rosto e me deixou feliz. As coisas estavam mudando, os sonhos virando realidade. O meu, pelo menos.

O nosso namoro era muito estranho, mas super empolgante. As duas semanas que partilhamos em um relacionamento sério foram maravilhosas, cheias de experiências novas, como por exemplo, almoçar no meio dos funcionários.
Gilberto já estava jurando de pés juntos que éramos um casal... Principalmente depois que demitir aquela sem moral da Vitória sem motivo aparente.

Maria Clara não fazia questão de esconder também, vivia passeando pelos corredores da Delux dizendo aos quatro ventos que Arthur era seu papai. Aquilo era o mais estranho. A família dele estava toda feliz por nosso namoro, principalmente Tia Bia, que já contava com um casamento e cinco netos na bagagem. Talvez fosse... Tirando a parte que eu não pretendia ter mais filhos. Esse era um ponto crítico também, já que a cada dia que passava nossos momentos juntos se tornavam mais intensos.

Carla: Cansei... — ao terminar de responder a todos os e-mails que faltavam, olhei no relógio e vi que já passavam das cinco. — Acho que nosso horário estourou.

Arthur: Eu percebi. — Quando foquei nele, notei que estava com a mesa toda arrumada, os papéis guardados, apenas me esperando encostados no móvel. Parecia cansado também... As mangas da camisa social verde clara dobrada, os olhos sonolentos... Mas sempre lindo — Quer uma ajuda?

Carla: Você já me ofereceu mil vezes e eu disse não, — relembrei com um sorriso sem humor, enfiando tudo nas gavetas e trancando — Mas de qualquer forma já acabei.

Arthur: Maria está em casa? Acho que vou passar lá para vê-la... — o jeitinho meigo como falou me tocou, mas a resposta não pareceu agradá-lo tanto.

Carla: Não... Maria Clara está com minha mãe. Ela chegou de viagem ontem com meu pai e quis pega-lá para passar o final de semana com ela. — peguei minha bolsa e fiquei de pé — Lembra que te falei isso ontem?

Arthur: Você falou mesmo, — assumiu coçando os olhos —
Mas estou tão cansado ultimamente que me esqueci. Desculpa.

Aproximei-me dele devagar, olhando em seus olhos e sentindo vontade de apertar suas bochechas. Toquei seu rosto delicadamente e ficamos nos olhando. Eu estava sozinha em casa por todo o final de semana; ele também. Não tínhamos nada para fazer, ninguém para encher o saco... Então a ideia apareceu.

Carla: Posso ir pra sua casa? — perguntei um pouco sem graça, notando sua surpresa no mesmo momento.

Arthur: Pra minha casa? Sério? — Nunca havíamos ficado absolutamente a sós depois daquela noite da praia.

Sempre havia Maria Clara, Dona Beatriz, Pedrinho ou as irmãs dele... Sempre alguém por perto para nos impedir de compartilharmos de certa intimidade. Os breves momentos que tínhamos não eram suficientes, nem mesmo a mesa do escritório.

Carla: Claro... Não temos companhia. Finalmente existe um tempo apenas nosso... — dei de ombros e abaixei as mãos um pouco temerosa. Os olhos dele se modificaram de repente, tornando-se mais brilhantes e apaixonados — Mas se não quiser hoje, tudo bem.

Arthur: Claro que sim, quero dizer, — mexeu no cabelo um pouco sem graça também — Tenho um vinho maravilhoso em casa que guardei para desfrutar em boa companhia.

Carla: Vinho? — sorri e segurei em sua mão — Me parece uma boa hora, não acha?

Arthur: Claro, uma hora maravilhosa... — aos poucos foi me trazendo para mais perto — Estando cansado assim, só você para me animar numa sexta à noite.

Carla: É? — abracei seu pescoço — Acho que devo dizer o mesmo.

Arthur: Você vai dormir lá comigo? — beijou meu rosto depois a minha boca brevemente. Nós sorrimos juntos e fingi pensar.

Carla: Talvez sim. — assenti e apertei seu braço levemente — Há um bom tempo estou pensando em passar um momento assim com você... — seu corpo se arrepiou com essas palavras, percebi logo que as pronunciei. No mesmo momento, comecei a aceitar que aquilo faria parte de minha vida, já que o desejo entre nós falava mais alto.

Arthur: Então partilhamos da mesma vontade. — garantiu com uma convicção — Vamos? O vinho nos espera.

Carla: Claro, o vinho... — trocamos um beijo rápido e saímos juntos, apagando todas as luzes como em toda sexta-feira.

A Delux estava praticamente vazia, sem qualquer pessoa que pudesse presenciar nossas mãos entrelaçadas e os sorrisos que trocávamos de forma cúmplice.

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