Eu a amei novamente, talvez com menos carinho e delicadeza do que ela merecia, mas fiz impulsionado pela raiva de mim mesmo e o desejo de punir meu coração, para que se sentisse cada vez mais mergulhado nessa paixão e quando o cristal se quebrasse a dor compensasse todo o apuro que a fiz passar no passado. Conforme empurrava contra seu corpo frágil, as lembranças mais vívidas invadiam minha mente...Como em certo verão, aos meus dezenove anos... Em uma sede desesperada por dinheiro para pagar meus estudos, me enfiei numa roubada enorme quando uma moça qualquer me parou num shopping e ofereceu um milhão pelo meu esperma. Um milhão? Pelo menos esperma?
A quantia representava não só o fim de meu sofrimento para pagar a faculdade, mas também uma grande ajuda para minha família e garantiria um futuro promissor. Por um simples esperma? Não hesitei em concordar, uma vez que após o divorcio repentino de meus pais a situação andava cada vez mais apertada. Foi tudo muito rápido; entrei numa sala, peguei uma revista e imaginei certas coisas... Estava lá! Entreguei o potinho para a moça e sai daquela clínica estranha um milhão de reais mais rico para apenas aquilo... Algo tão simplesmente, mas que me renderia grandes consequências que na época nem cheguei a cogitar! O material doado significava um filho... Um filho que, claro, não seria meu, mas sim do casal responsável pela compra do que forneci. Pelo que entendi seria uma única criança, criada sob medida para o casal em questão, uma vez que possuíam todos os meus aspectos físicos.
Totalmente avulso ao assunto que para mim ficou totalmente no passado, prossegui meus estudos e mergulhei numa fase de ambição fora de série! Tudo o que me importava eram os empregos irrecusáveis que surgiram com o ótimo desempenho na universidade, deixando-me cego pelo poder... Em questão de um ano minha vida se baseava nos estudos e no escritório, deixando de lado o que na época me pareceu menos importante, mas que na verdade sempre foi o essencial e o motivo pelo qual estou aqui... O meu filho criado sob medida; o perdido que nunca conheceria; a criança que recusei.
Carla gemeu, abraçando meu corpo contra o seu cada vez mais, desejando aprofundar nosso contato e aquele som ecoou por minha mente várias e várias vezes... Eu me lembrava da carta. De algumas citações, mas estava viva em minha memória. Pelo que entendi nas breves linhas estava escrito em uma letra perfeita e redondinha que meu esperma havia sido fecundado na mulher errada, e a mesma me pediu ajudar com a criança. O que? Ajuda? A minha? Como assim? Minha vida estava nos eixos, do jeitinho que eu queria e ainda faltava mais... Não havia lugar para um filho, muito menos para uma mulher que se ligasse a mim de uma forma que não se limitasse a sexo casual. Respondi grosseiramente, cego pela sede de poder, dizendo que minha parte no contrato se restringia a doar o espermatozóide e o resto era responsabilidade de terceiros. Se o material foi parar dentro dela a culpa não era minha e coisas mais... Era meu direito. Estava no contrato que assinei garantido que aquela criança não era minha a partir do momento em que me desfizesse do material. Portanto, a responsabilidade relacionada a mim era inexistente.Lembrar daquilo me atingiu de tal forma que apertei Carla fortemente em meus braços, arremetendo cada vez mais intensamente para dentro de seu corpo e puxando sua pele contra a minha, gemendo como um desesperado em seu ouvido. Senti dor, percebendo que o final se aproximava... Assim que acabou, suado e sem forças, me deitei ao lado dela de barriga para cima e respirando ofegante. Seus dedos percorreram minha face... Fechei os olhos. Desceram por meu pescoço, passando pelo peito... As unhas tocaram a parte alta de meu ventre e então agarrei sua pequena mão. Nossos dedos se entrelaçaram e ela se aproximou para sussurrar em meu ouvido.
Carla: Você é incrível — depositou um beijo molhado em meu pescoço, mordendo minha pele — Não consigo imaginar o que pode ser melhor.
Para um homem aquelas palavras eram a recompensa e objeto de desejo após uma situação como essa, mas tudo o que desejava neste momento era ouvi-la falar que me amaria para sempre independentemente de tudo o que viesse a nos afligir... Tive que perdoá-la, pois Carla nunca imaginaria que eu pudesse lhe causar uma decepção tão grandiosa.
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O Secretário.
FanfictionSinopse: Aos 30 anos Carla Diaz era a mais nova Diretora do departamento de moda de uma Empresa famosa. Linda, durona, odiada por todos, ocupada e mãe solteira, não tem tempo para se dedicar a nada que não seja ao trabalho e a filha Maria Clara, de...