Capítulo 82 :

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ARTHUR

Fui embora tarde, mas acordei a tempo para me encontrar com o doutor Brawn. Carla me ligou logo cedo para perguntar se eu queria algo do comércio, pois estava indo às compras finais do aniversário de Maria Clara naquela tarde. Respondi que não, mas que iria auxiliá-la nas compras após sair do médico. Não menti nesse aspecto, dizendo que iria ao médico. Ofereceu-se para me acompanhar, mas garanti que não existia a necessidade.

Tão logo cheguei ao consultório do doutor Brawn, onde me deparei com praticamente o mesmo cenário de sete anos atrás, contando com algumas leves modificações, sentei-me no mesmo local que há anos... No canto, lendo algumas revistas. Olhei em volta e passei a pensar em Carla... Em tudo o que me contou sobre sua vida. Foi ali que as coisas começaram a dar errado para ela, onde tudo desandou, mas, ao mesmo tempo, foi ali que entrei em sua vida.

Brawn: Arthur? — quando olhei para cima lá estava o homem de sete anos antes. Talvez com os cabelos mais grisalhos, os olhos mais cansados... Porém era o próprio André Brawn. Fiquei de pé e apertei sua mão.

Arthur: Doutor Brawn... É um prazer revê-lo.

Brawn: Quase nem o reconheci, rapaz... Mudou bastante desde a última vez que nos vimos. — com certeza referia-se ao fato de estar usando roupas formais, um pouco mais adultas... Mudei totalmente o jeito de me portar após tantos anos.

Arthur: Pois é, tudo muda.

Brawn: Vamos. Temos muita coisa a conversar... Siga-me até o consultório. — o acompanhei até a sala ao lado e me acomodei numa das cadeiras em frente a ele. Não me lembrei da situação mais importante em toda minha vida.

Havia um significado então?

O doutor se acomodou na minha frente e se postou de maneira calma, apenas me olhando. Percebi que seria eu quem deveria começar o assunto, portanto, segui.

Arthur: Primeiramente doutor, muito obrigado por ter me recebido. —me sentia tão desnorteado, somente seguindo meu coração — E o motivo pelo qual estou aqui... Nem tenho palavras para descrever! Apenas quero te mostrar uma coisa e perguntar se pode me oferecer alguma resposta sobre isso.

Brawn: Por certo Arthur. Mostre-me. — peguei meu celular no bolso e desbloqueei a tela, deixando o papel de parede visível. Sem ter como explicar, virei o aparelho em direção a ele e deixei perante seus olhos todos meus questionamentos em apenas uma imagem.

O rosto dele se distorceu em uma expressão desacreditada enquanto olhava a foto de mim, Carla e Maria Clara juntos. Era uma foto onde estávamos com os rostos próximos... Uma bela imagem, visando que as duas eram muito bonitas e sorriam maravilhosamente. Novamente, assim como eu, o doutor estava sem palavras. Olhou de mim para o celular, do celular para mim... Sem dizer nada, apenas pasmo.

Arthur: Entende agora o que quero dizer?

Brawn: Isso... Não é possível, quero dizer... Vocês se conhecem, é claro, você trabalha na Delux e a senhorita Carla Diaz é a chefe de departamento de moda mais conhecida da cidade e atua lá. Mas... — peguei o celular de volta e coloquei nas fotos enquanto ele falava. Mostrei novamente uma foto em que estávamos nos beijando.

Arthur: Carla é minha namorada, doutor. — expliquei notando que a cada minuto que passava ele ficava mais assustado — E como minha namorada me contou sobre toda sua vida. Sei da história... E juntando a vida dela com a minha, cheguei até aqui para obter respostas. Se o senhor puder me ajudar... — parei de falar.

Brawn: Então conhece a garotinha? — sussurrou mais para si do que para mim, muito baixo.

Arthur: Maria Clara? É claro que a conheço... Conheci Carla por causa dela. Comecei a trabalhar na Delux por causa dela. Me tornei namorado de Carla por causa dela... Devo tudo a ela. — sorri um pouco, esperando mais do que qualquer coisa a confirmação.

Brawn: Por certo... E o que acha de tudo isso Arthur? — cruzou os braços se encostando na cadeira, encarando-me desconfiado — Que respostas quer exatamente?

Arthur: Resumidamente, quero saber apenas uma coisa...

Minha expressão deveria ser de puro sofrimento, dor, angústia... Ao mesmo tempo em que queria ouvir sim, queria também o não. Dividido entre todos os sentimentos possíveis, esperei

Arthur: Carla é a garota daquela carta? A que foi inseminada de forma errônea com meu esperma?

Brawn: Sim. — respondeu rápido, sem rodeios.

Arthur: Tem certeza? — entrei meio que em um estado de transe. Era como se não fosse comigo aquela situação irreal, como se fosse um sonho.

Brawn: Absoluta! — estava muito seguro — Seu material era único, ninguém mais iria utilizá-lo se não fosse a mulher que o adquiriu. A mulher em questão foi substituída, trocada, por uma jovem de 21 anos que recebeu seu material e seguiu com a gravidez. Já te expliquei isso há sete anos...

Arthur: Sim, mas...

Brawn: A garota recebeu ajuda da clínica. Após nove meses deu à luz a uma menina saudável e perfeita... Deu a ela o nome de Maria Clara. — prosseguiu, me cortando — Atualmente, mãe e filha passam bem. A jovem se tornou uma das mulheres mais influentes da cidade, diretora de uma Empresa de moda muito famosa e única em seu ramo... Delux Y.J. — Ele me olhava calmamente — Será que nunca reparou semelhanças entre você e a garotinha, Arthur? São muito comuns nesses casos... Semelhanças monstruosas.

Arthur: Mas é óbvio que reparei... — dei de ombros — Mas nunca cheguei a pensar que o destino poderia ter feito isso comigo.

Brawn: Ele faz coisas sinistras. — sorriu — Vejamos... A criança deveria ter seus olhos.

Arthur: Maria Clara os tem... — sussurrei.

Brawn: Eu sei. Fui eu quem a fez... — gabou-se — Portanto... O que deduz?

Arthur: Que Maria Clara... — não consegui terminar a frase, deparando-me com a realidade num impacto violento — Maria Clara é minha filha...

Brawn: Sim, Maria Clara é sua filha.

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