Capítulo 90 :

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Horas depois, assim que abri os olhos, me deparei com o quarto de Arthur na casa de sua mãe devidamente arrumado. Pelo que percebi ainda era noite e estava tudo quieto, sem sequer um ruído. Não havia ninguém ali comigo... Tentei me sentar.

Arthur: É melhor não fazer isso... — mais uma vez estava enganada. Arthur permanecia sentado no escuro, perto da prateleira de livros. Enxerguei seu rosto em uma luz fraca, quando acendeu a luminária.

Carla: Onde está Maria Clara? — foi tudo o que consegui dizer. Notei que meu rosto ainda estava úmido por lágrimas, a cabeça doía... Meu enjoo persistia, mas agora de maneira mais fraca.

Arthur: Dormindo com o Pedro e minha mãe — respondeu sem expressão, evitando me encarar — Achei que não iria acordar tão cedo, então deixei que ela dormisse. Ela parecia cansada...

Carla: Então é assim? Mal chegou a seu novo posto e já se sente no direito de tomar decisões na vida dela... — ironizei, secando algumas lágrimas — Isso é ridículo!

Arthur: Não foi assim Carla, pelo amor de Deus — ergueu-se e fiz sinal para se afastar, não querendo sua presença ao meu redor. Parou em pé aos pés da cama e suspirou, esfregando as mãos na testa — Juro... Juro que não sabia, nem tinha ideia e...

Carla: Chega! — praticamente gritei, tapando o rosto com as mãos ao mesmo momento — Não quero ouvir nada, não estou bem... — implorei — Chega! Nada do que disser poderá mudar o que houve, nada poderá mudar o passado!

Arthur: Não quero mudar o passado, mas sim o futuro! — ajoelhou-se um tanto desolado, inseguro — Te entendo perfeitamente, você tem toda a razão do mundo em me condenar, mas não posso tolerar que por um segundo sequer pense que foi tudo por isso. Descobri há dois dias apenas... Só percebi quando me contou sobre você e...

Carla: Eu te contei a minha história a três semanas atrás, Como você só sabe a dois dias.

Arthur: Eram apenas suspeitas, só tive certeza a dois dias. Não pode duvidar nunca de que te amo e a nossa filha também!

Carla: Não use essa palavra — encarei o teto imóvel, sem qualquer reação — Não fala isso.

Arthur: Mas ela é nossa filha — ironizou também — Mesmo que não queria aceitar... Sou o pai dela.

Carla: Não falei disso — repreendi apertando os olhos e sentindo mais lágrimas virem — Me referi ao futuro.

Era o que mais me amedrontava! Futuro! A minha visão perfeita disso era ao lado dele e de Maria Clara e, quem sabe, mais um bebê. Seria lindo, teríamos tudo o que se necessita e muito amor. Mas... E agora? Não vi por onde seguir aquele caminho com todo esse tumulto, com a ferida aberta, exposta e sangrando.

Arthur: Isso apenas muda se quisermos — deu de ombros — Eu sei que você me ama e sei que vamos superar. Por ela.

Carla: Eu não teria tanta certeza! — gargalhei — Cara... Você... Deus! — me sentei na cama e calcei os sapatos — Vou embora. Onde está a minha filha? — saí caçando a bolsa por todos os lados do cômodo, mas nada. Arthur segurou meu pulso.

Arthur: Já passa das duas da manhã. Não posso permitir que saia dessa casa a essa hora, passando mal e com nossa filha no carro. Não mesmo! — retirei a mão de seu aperto e me afastei.

Carla: Agora a desculpa da vez é essa? — massageei o local em que apertou — Nossa filha? Você é patético... Ou melhor, você não é nada!

Arthur: Sabe que não é verdade... Sabe que não quer dizer isso — me virei de costas para ele e senti a Carla de antes retornando. A dura. A malvada. A que podia ser pior do que uma cobra quando queria.

Carla: Tem razão. Nada preciso dizer... Porque sem meu consentimento é o que será na vida dela. Nada! — dei de ombros de forma indiferente, mas senti sua mão em meu ombro.

Arthur: Olha para mim... — pediu delicadamente, mas não me virei. Mantive a postura rígida e firme, de costas a ele— Ok . Então é assim? Acabou?

Carla: Não faça perguntas óbvias papai — sorri sarcasticamente, mas as lágrimas ainda corriam pelo meu rosto.

Nunca doeu tanto ser dura, nunca foi tão horrível; mas a situação era irreal demais para ser encarada com sentimentos genuínos, com leveza. A fera dentro de mim saltou com intensidade e não fui capaz de controlá-la.

Arthur: Não pode acabar — sussurrou quase sem voz — Porque eu te amo e não sei viver sem você.

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