Capítulo 104 :

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ARTHUR

O advogado veio acertar as coisas comigo em relação à Maria Clara, mas... Eu só pensava em outra coisa. Havia algo que eu deveria fazer desde manhã... Mas a coragem me faltava. Porém, ao final do expediente, ao constatar que tudo o que construímos havia regredido meses atrás, tomei a decisão que achei mais sensata. Na hora do final do expediente, parei em frente à mesa de Carla e soltei tudo o que estava entalado.

Arthur: Senhorita Diaz... — ela me olhou enquanto arrumava sua bolsa enorme — Aqui está minha carta de demissão.

Foi meio em câmera lenta. Carla ergueu o rosto devagar e me olhou por trás de seus óculos de grau intrigada. Colocou a bolsa sobre a mesa e tirou os óculos delicadamente, inclinando-se em minha direção.

Carla: O que foi que disse? — perguntou baixinho, quase vulnerável — Pode repetir, por favor?

Arthur: Claro. Aqui está minha carta de demissão. — lhe estendi a carta. Carla olhou de mim para a carta e não fez nada. Apenas manteve-se em silêncio — Senhorita?

Carla: Posso saber por que quer demitir-se? — assenti ainda estendendo a carta.

Arthur: Por motivos óbvios — sorri de canto — Não creio que depois de tudo eu possa suportar nossa relação regredindo assim, Carla. — agora eu falava diretamente com ela — Não posso conviver com isso. E ainda mais com Maria Clara... Acho que é o certo a fazer. Sair da sua vida de uma vez. Não acho certo nos machucarmos assim...

Por fim ela pegou minha carta de demissão. Surpreendi-me ao vê-la nem sequer ler a carta antes de rasgá-la em pequenos pedacinhos me olhando nos olhos.

Arthur: Carla...

Carla: Você só sai daqui no dia em que eu sair, entendeu? — foi como uma ordem — Porque sem você eu não sou nada!

Arthur: Mas Carla... — Ela me cortou ficando de pé e contornando a mesa para parar na minha frente.

Carla: Lembra-se do que combinamos? Nunca misturar a vida pessoal com a Delux... — Ela estava perto demais — E poxa... — suspirou segurando a testa — O meu único incentivo para vir para cá é você. O que faz meu trabalho ser tão bom é você. Se você sair... O que me resta?

Arthur: Isso não é verdade. — protestei —Seu trabalho sempre foi bom e é mundialmente reconhecido. Com certeza não mereço os méritos por ele.

Carla: Você merece os méritos por tudo em minha vida, ok? Nunca mais fale... Insinue... — reajustou o termo — Que não significa nada em minha vida. — fiquei em silêncio, mas logo encontrei o caminho.

Arthur: Ok. Eu fico, — aliviou-se e olhou para o teto brevemente — Mas pare com isso. Pare de confundir a minha cabeça... É difícil ser tratado como nada em um momento e no outro ser tudo em sua vida.

Carla: Eu nunca te tratei como nada! Não com a cabeça no lugar... — Carla praticamente gritou, um pouco brava — Não comece com isso Arthur. Não vai tirar minha serenidade e tentar arrumar confusão para usar como desculpa!

Arthur: Apenas digo o que penso... Mas quer saber? — peguei minhas coisas e me afastei dela — Não vale a pena brigar pela Rainha da Delux. Apenas pela Carla... E ela não está aqui agora. Boa noite, senhorita. — E saí.

Terça-Feira

Claro que sou ridículo. Claro que fui trabalhar no outro dia me sentindo um lixo por ter brigado com ela, por ter sido fraco para querer me demitir. Porém, todos somos humanos e erramos. Fiquei pior ainda quando liguei para falar com Maria Clara e foi Carla quem atendeu com voz de choro. Assim que me ouviu passou o telefone para Maria Clara sem sequer falar comigo, irritada. Maria Clara não tocou no assunto, mas apenas por sua voz percebi que estava querendo me dizer algo.

Fui direto para o escritório quando cheguei, claro, encontrando-a lá. Estava rabiscando em uma agenda algumas coisas, não me olhava. Aproximei-me de sua mesa pensando em tudo o que havia planejado dizer agora... Nada veio em minha mente.

Arthur: Bom dia! — foi tudo o que falei. Percebi que o papel ainda estava molhado por lágrimas. Ela estava chorando antes de eu chegar — Tudo bem?

Carla: Acha mesmo que te trato como nada? — perguntou na lata, jogando em minha cara. Fechei os olhos lentamente e suspirei irritado comigo mesmo. Seus olhos brilhavam com lágrimas e me olhavam buscando uma resposta.

Arthur: Carla... Me perdoe por ontem... — Eu praticamente implorei me sentando na cadeira em sua frente — Por favor, esquece tudo. Sou um idiota.

Carla: Mas... Não é assim. — insistiu — Me diz o que te incomoda que posso mudar. Não quero que tenha essa impressão, não quero que me deixe!

Arthur: Quem disse que tenho essa impressão? Eu apenas estava nervoso... Não leve aquilo tudo em conta. — me olhou um pouco triste e se ajeitou na cadeira, assentindo. Suspirou e limpou algumas lágrimas, olhando para um caderninho à sua frente.

Carla: Hoje não temos muitas coisas, quero dizer... Basta revisarmos os modelos com defeito. — praticamente não me olhava.

Arthur: Por que você está assim? — perguntei ainda encarando-a, impressionado com toda sua sensibilidade em relação a tudo.

Carla: Assim como? — limpou mais algumas lágrimas em seu rosto, tentando disfarçar os olhos vermelhos.

Arthur: Sensível... Chorona... — sorri um pouco e me aproximei para tocar sua mão brevemente. Sorriu para mim corando — Se eu não soubesse diria que é sua semana de TPM... Mas se não me falha a memória isso já passou.

Carla: Huum... — olhou para nossas mãos unidas — Devem... Devem ser os hormônios. Estão desregulados ultimamente e bem... Mulheres são assim... — sorriu brevemente um pouco constrangida.

Arthur: Você me perdoa mesmo por ter sido um idiota? — nos olhamos nos olhos novamente.

Carla: Sim. Mas é claro.

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