Capítulo 96 :

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Saí da sala e fui em direção à máquina de café no corredor de cima. Ali era sempre bem frequentado e, para variar, havia muitas garotas ao redor da máquina, principalmente as novas estagiárias e as secretárias do financeiro. Claro que elas tiveram que mexer comigo! A primeira que puxou assunto foi Jade, a estagiária.

Jade: Bom dia senhor Arthur. — parei na fila do café e ela chegou perto de mim colocando uma das mãos em meu ombro — Que carinha de acabado é essa?

Arthur: Bom dia Jade. — me esquivei, acostumado com isso sempre. O assédio para mim era o motivo que mais demitia garotas naquela Empresa, porém, com a distância de Carla, mexer no quadro de funcionários não era favorável — Estou um pouco mal, mas é passageiro. — me desvencilhei dela e finalmente peguei meu café.

Jade: Quer que eu passe em seu escritório para dar uma ajudinha? — dei as costas para ela carregando meu café.

Arthur: Não, obrigado. Sou comprometido. — apesar de estar mais sozinho do que nunca agora. O vazio da Carla não parava de ecoar em minha vida. Em todos os cantos, por menor que fosse... E eu não podia parar de pensar nela.

Uma semana depois

Era sexta de manhã. Estava tudo pronto para o desfile do final de semana no qual eu, com certeza, não estaria presente. Seria uma festa e tanto... Dei o meu melhor e recebi elogios diretos de Marcelo Delux. Nada mais podia me surpreender naquela manhã nublada, sem graça e que pedia um cobertor e um café quente... Apenas a mensagem que recebi às nove e vinte quatro da manhã.

Carla: "Bom dia! Você não precisa vir nos buscar no aeroporto. Conversei com Maria Clara e ela topou em te ver mais tarde. Claro, deve estar se perguntando como fiz para domar a fera, certo? Simples! Falei que preciso conversar contigo. Conversa de mamãe e papai. Topa? Meio-dia no restaurante de sempre."

Quase caí para trás. Peguei o celular e digitei o mais rápido que pude, meio em transe pelo contato repentino. Não nos falávamos quando eu ligava para Maria Clara de noite e agora isso? O que seria o assunto que precisava tratar comigo?

Arthur: "Após a tempestade vem a bonança". Combinado.

CARLA

Claro, nada seria fácil, mas para algo a viagem teria de servir. Ao passar essas duas semanas longe, tomei as decisões que precisava e cheguei ao país com a mente aberta, com as ideias formadas. A primeira coisa que pensei foi em ver Arthur. Tentei me enganar pensando que essa vontade se devia a tudo que tinha para reportar a ele, mas não. Era meu desejo encontrá-lo o mais rápido possível!

Após ler sua mensagem, um sorriso ficou estampado em meu rosto e quase me derreti. Como alguém poderia ter palavras tão perfeitas? Fiquei como uma idiota ouvindo músicas e pensando nele.

Assim que voltei, deixei Maria Clara na escola no meio do período mesmo e aproveitei para conversar com a direção do colégio sobre minha ausência. Entenderam perfeitamente e disseram que iriam dar atividades para Maria Clara repor as notas perdidas. Segui em direção ao restaurante às onze e meia e, mesmo que não fosse o horário combinado, fiquei frustrada por ele não estar lá ainda. Sentei-me na mesinha de duas pessoas na frente do vidro que dava para rua e pedi uma água. Estava frio, mas mesmo assim minhas bochechas queimavam. Dizer a ele tudo o que tinha em mente seria um passo enorme.

Finalmente, após um tempinho, a porta fez barulho anunciando a chegada de mais um cliente. Olhei em direção a mesma e vi Arthur parado olhando ao redor... Até me encontrar com o olhar. Parecia ter se passado anos que não nos víamos. Ele estava diferente... Estava com a barba grande por fazer, os olhos meio cansados... Vestia calça e sapato social, mas por cima um casaco preto grande e elegante. Havia algumas gotinhas de água em seu cabelo castanho. Claro que estava chovendo, mas nem reparei com a sua presença. Carregava um pacotinho de alguma coisa colorida; para que se aproximasse, dei um sorriso breve e acenei, me encolhendo cada vez mais em meu casaco lilás.

Carla: Olá... — falei brevemente, ainda sentada. Ficou de pé ao lado da mesa apenas me olhando. Colocou o saquinho de jujubas sobre a mesa e meio que fez sinal esperando algo. Revirei os olhos.

Arthur: Não vai mesmo me dar um abraço? — soou ferido e não pude me controlar. Fiquei de pé relutante e o abracei longamente, quase perdendo a noção de tempo e lugar — Não vai embora assim de novo. Eu senti tanta saudade... — murmurou ao meu ouvido.

Carla: Desculpe-me. — afastei-me um pouco e o encarei. Levei uma das mãos ao seu rosto e toquei seu queixo. Arthur ficou imóvel — Olha só, você está com a barba grande! — Comentei ironicamente e me afastei indo me sentar.

Arthur: Não tenho motivos para me arrumar mais para ninguém. Fora que você briga quando mexo nela — sentou-se também à minha frente e indicou o saquinho de jujubas — Eu trouxe para você... Sabe...

Carla: Obrigada... — sorri ao me lembrar de que ele sempre comprava um doce para mim quando chegava em minha semana de TPM. Peguei o saquinho e fiquei olhando as balinhas... Em maioria, apenas estavam às vermelhas e as roxas, minhas favoritas — Ainda não estou precisando delas. Porém comerei todas com o maior esforço. — pisquei para ele e coloquei as balinhas na bolsa.

Arthur: Não? — me olhou um tanto desconcertado e confuso.

Carla: É... Acho que toda essa confusão me deixou um pouco desregulada, mas não é hora de falar disso, certo? — manteve-se calado — Ficamos longe tempo demais. Temos assuntos pendentes a tratar um com o outro.

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