CARLA
Maria Clara: Por que não vou para a escolinha hoje?
Observei seu rosto confuso enquanto Graça, sua babá, arrumava suas roupas em uma mala grande e lilás. Havíamos saído da casa de Tia Bia ao amanhecer, sem ao menos tomar café, e ido direto para casa na intenção de pegarmos apenas as malas. Maria Clara não entendia a mudança, já que a segunda-feira era dia de colégio.
Carla: Vamos viajar. — esclareci de braços cruzados, discando o número do Presidente da Delux pela milésima vez em meu celular. Marcelo Delux, um senhor muito ocupado, parecia não estar com tempo para mim agora.
Maria Clara: Mas hoje? Tem escolinha! — insistiu mexendo no cabelo que estava preso para trás, no alto de sua cabeça. Usava casaco vermelho, botas e cachecol.
Carla: Não importa... Não é a primeira vez que saio do país com você em período letivo. Eles sabem que sou ocupada, irão entender. — dei as costas a ela, que veio me seguindo pelo corredor como um cachorrinho enquanto eu fuçava no celular.
Maria Clara: O papai vai também? — neguei com um aceno, roendo as unhas ao mesmo tempo em que esperava a ligação ser atendida. A secretária atendeu, mas Maria Clara continuou falando comigo. Assim que ouviu meu nome, a moça do outro lado fez questão de chamar o senhor Marcelo pessoalmente — Mãe?
Carla: Não, Maria Clara, seu pai não vai! — respondi ríspida, sem paciência — Dá para terminar de se arrumar?
Maria Clara: Por que ele não vai? — choramingou.
Carla: Por que... Não. Alguém tem que cuidar da Delux.
Não era tão fácil dizer: Ele não vai porque vamos viajar para fugir dele por uns dias. A realidade me atingiu de maneira muito pronta, rápida... Minha necessidade era sumir um pouco e mudar a mente, talvez colocar as ideias em ordem. Apenas eu e Maria Clara... Talvez fosse o que precisasse. Aqui, ao lado de Arthur, nada daria certo, as decisões seriam precipitadas. Era disso o que eu precisava... De um tempo!
Carla: Hum... Marcelo? Que prazer falar com você, querido. Quanto tempo!
Apesar de ser a Diretora, a Poderosa, a Fodona, sempre se tem alguém para quem dar satisfações e o dono\presidente da Delux era essa pessoa em meu caso. Amigos de longa data, tudo me dizia que seria fácil com Marcelo. E foi.
Marcelo: Oh minha diva, claro que pode passar alguns dias fora. Até algumas semanas! O tempo que for preciso para minha maravilhosa e absoluta recuperar as energias! — parecia feliz com a notícia, sem problemas — Para onde pretende ir?
Carla: Levarei Maria Clara para conhecer a França. Ela sempre quis... — dei de ombros.
Marcelo: Claro, a França... Estive lá há alguns dias. Maria Clara deve estar uma mocinha, certo? Não faz muito tempo que a vejo, mais crianças crescem. Como vai a perna dela? Fiquei sabendo que quebrou! — tive de gargalhar, pois suas palavras me regrediram no tempo. Maria Clara quebrando a perna me lembrava de Arthur. Me lembrava do início de tudo.
Carla: Bem. Já melhorou há muito tempo, obrigada!
Marcelo: Minha querida, devo parabenizá-la! Apenas tenho ouvido elogios a seu respeito! Parece que sua reputação de diabólica acabou Rainha. — algo que também me chocou foi isto, por certo. Não era comum Marcelo citar minha reputação e, quando o fazia, sempre me incentivava a ser mais delicada com os funcionários. Deveria mesmo estar feliz.
Carla: Sim, faço o que posso... — sem querer estender o assunto, fui direto ao ponto — Então vou pegar no máximo duas semanas, Marcelo. Em breve estarei de volta.
Marcelo: Já disse... Fique o tempo que precisar! Tenho mais de cinco anos de férias suas atrasadas e a temporada é meio baixa. Tudo sob controle! Porém... — o tom não era muito animador.
Carla: O que?
Marcelo: Digo que precisa me indicar alguém de sua confiança para ficar no comando, Rainha. Não posso deixar a Delux sem um responsável. — suspirei e gemi, colocando a outra mão na testa. OMG! O que fazer neste momento? — Preciso de um nome. Mas não se preocupe! Você é a top, a melhor... Ninguém nunca ocupará seu lugar, diva.
Carla: Sim, mas...
Marcelo: Nome?
Não poderia ser diferente! Fora meu secretário, não havia ninguém apto a ocupar meu cargo na Delux. Ninguém que conhecesse tanto meu estilo, meus princípios e merecesse. Não hesitei em responder imediatamente a questão.
Carla: Arthur Picoli.
Marcelo: Por acaso, já o conheço por nome... — deu uma risadinha leve — Mas se confia nele, Rainha, confio em você.
Carla: Confio totalmente nele. — pigarrei e mesmo estando longe, corei — Ele é o pai de Maria Clara.
Marcelo: Perdão? — o modo como foi surpreendido quase me fez rir — O que? Eu ouvi direito?
Carla: Sim Marcelo. O meu secretário é o pai de Maria Clara...
Levei algum tempo para explicar a ele sobre como descobri tudo. Sobre as condições e o motivo pelo qual resolvi sair da cidade um pouco. Marcelo me entendeu perfeitamente e me perguntou se eu queria demiti-lo da Delux, lamentando se a escolha fosse sim, já que Arthur era um ótimo funcionário
Carla: É claro que não pretendo demiti-lo, Marcelo. Nossa vida pessoal não tem nada a ver com a Delux.
Marcelo: Que bom, querida... Eu realmente espero que se acertem. — suspirou — Bom, irei me encarregar de avisar ao seu secretário e pai de Maria Clara... — ironizou e gargalhei — Que será ele a te substituir enquanto ausente. Faça uma boa viagem.
Carla: Obrigada por tudo, Marcelo.
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O Secretário.
Fiksi PenggemarSinopse: Aos 30 anos Carla Diaz era a mais nova Diretora do departamento de moda de uma Empresa famosa. Linda, durona, odiada por todos, ocupada e mãe solteira, não tem tempo para se dedicar a nada que não seja ao trabalho e a filha Maria Clara, de...