Capítulo 39 :

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Arthur: O que foi? — perguntou logo que pousou os olhos sobre mim. Reuni coragem e ergui o rosto com a máscara de durona e o encarei de forma superior.

Carla: Nada e você? — dei de ombros — Porque está parado se tem tanto trabalho aqui em cima? — peguei uma pasta e lhe entreguei — Ligue para todos os 400 números dentro dessa pasta e convide seus respectivos donos para a recepção da Empresa na próxima sexta. Diga que é sobre a divulgação da nova linha Delux primavera-verão.

Arthur: Claro... Em um minuto — percebi que estava estranhando meu comportamento.

Encarou-me com a questão anterior ainda em pauta, confuso demais para voltar a perguntar. Foi para sua mesa, pegou o telefone e começou as ligações. Fingi estar alheia a sua presença novamente.

Carla: Thaís? — apertei o botão que ligava a mesa dela lá fora.

Thaís: Sim senhorita Diaz!  — respondeu com a voz submissa de sempre. Rodei os olhos.

Carla: Sorvete de chocolate e cookies. Um, dois, três.

Thaís: Sim senhorita, um minuto!

Desliguei murmurando coisas feias e Arthur me olhou enquanto aguardava atenderem sua ligação. Estava totalmente confuso com minha atitude isso era obvio! Segui quieta por todos os minutos seguintes, até Thaís entrar desajeitada com oque pedi.

Thaís: Aqui estão senhorita, os cookies, seu sorvete e... — Arthur levantou e pegou as coisas da mão dela.

Arthur: Tudo bem, deixa comigo — Thaís assentiu.

Thaís: Com licença.

Assim que ficamos a sós, se aproximou e colocou as coisas em minha mesa. Ficou parado ali com as mãos no bolso quando me estiquei para pegar o sorvete e o saquinho de cookies. Abri o pote de sorvete e o saquinho com os dentes. Quebrei os biscoitos em pedacinhos em enfiei no sorvete.

Carla: Perdeu alguma coisa em minha mesa, senhor Picoli? — dei uma longa colherada no sorvete olhando-o com expressão despreocupada.

Arthur: O que aconteceu? — murmurou controlado — Por que quando sai para o almoço você não estava assim Carla.

Carla: Carla? Para você, senhorita Diaz ou chefe — relembrei-o de nossos lugares na Empresa sutilmente, afastando a cadeira da mesa e cruzando as pernas para que visse — A intimidade que achou que tinha comigo acabou, senhor Picoli.

Arthur: Nunca pensei, eu tinha intimidade com a senhorita, lembra? — apoiou os braços em minha mesa se inclinando para mim — Só me diz o que houve, porque acho que desse jeito... — gesticulou entre nós — Não funcionamos bem.

Carla: Não tenho que te dizer absolutamente nada! — dei uma colherada no sorvete — É bem grandinho para saber o que faz, e quer saber? Fui uma idiota por ter confiado em você dois segundos...

Arthur: Por quê? O que fiz para ferir sua confiança? Nada! Faço tudo por você... Para que me aceite! — Ele estava aflito.

Carla: Volte para o trabalho... — comecei a escavar o sorvete em busca da calda de chocolate, evitando aquele papo. Olhava apenas para o potinho, ignorando-o.

Arthur: Carla, por favor... — sussurrou de um jeito meigo — Por favor, me diz! Não quero te perder assim...

Carla: Me perder? — fiquei de pé na hora, largando o sorvete na mesa — Como me perder se nunca me teve?

Arthur: Carla..

Carla: Era só o que me faltava! Seu... — comecei a pegar minha bolsa, pendurada ao lado de minha mesa — Seu grande idiota! Onde estava minha razão quando cogitei ter algo com... Ah! — peguei o sorvete e sai da sala deixando-o por lá.

[...]

Maria Clara: Oh, ou! O que foi?

Joguei a bolsa no sofá, o casaco na mesinha e me sentei no sofá sem ver mais nada! Comecei a chorar como uma louca, sentindo todo meu peito se contraindo com a dor que pairava lá no fundo. Escondi o rosto com as mãos, pois estava ciente da presença de Maria Clara ali na sala.

Maria Clara: Mamãe? — sua mãozinha estava em meu ombro, à voz baixinha e preocupada — O que foi? Por que você está chorando?

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Maria Clara: Mamãe? — sua mãozinha estava em meu ombro, à voz baixinha e preocupada — O que foi? Por que você está chorando?

Reuni forças para me controlar e olhar para ela. Meus olhos ardiam e com certeza deveriam estar super vermelhos; o cabelo estava catastrófico de tanto enfiar as unhas nele e gritar por dentro... Mas ver Maria Clara pareceu iluminar tudo um pouco, acalentar a raiva que crescia dentro de meu coração partido. Não sei se pelos olhinhos como os dele, ou pela expressão preocupada como a dele... Mas me acalmou. Estava toda meiga a minha frente usando seu uniforme da escola e de muletas.

Carla: Estou chorando porque estou com raiva, filha! Por isso... — sequei algumas lágrimas, irritada — A Delux faz isso com a mamãe.

Maria Clara: Irritada com quem? — confusa, ela colocou a mão no meu rosto delicadamente — Você sempre diz que são eles quem choram por sua causa!

Carla: A culpa é de um em especial — abaixei o olhar quando falei —- Seu querido e amado Arthur — citei o nome dele com desprezo.

Maria Clara: Mas... O que foi que ele fez para chorar desse jeito? Duvido que tenha te feito mal, mamãe, ele não é assim! — nos olhamos e o rostinho lindo dela parecia pegar fogo de tão vermelho.

Carla: Sabe o que me deixou assim? Ele estava beijando outra mulher. Entende isso filha?

Maria Clara: Beijando? — Ela abriu muito os olhos e colocou a mão livre na boca — Beijando na boca dela?

Carla: Sim! Na boca dela! — suspirei — Acredita nisso, Clara? Eu vi os dois se beijando no corredor... — voltei a chorar de repente — Aquele idiota...

Maria Clara: Mamãe olha pra mim — olhei por trás das lágrimas — O Arthur gosta de você como namorada — tocou meu ombro novamente — Isso foi engano!

Carla: Gosta nada, Maria Clara! Para de dizer mentiras para mim...

Maria Clara: Gosta! Sei disso, tá bom? — fiquei de pé no minuto seguinte.

Carla: Vou tomar banho... — anunciei suspirando e limpando o rosto — Vai tirar o uniforme, ok? Já faz tempo que chegou do colégio para estar com ele. Cadê a Graça?

Maria Clara: No quarto... — Ela suspirou desanimada.

E de repente me dei conta do quanto fui imatura desabafando com uma criança de 6 anos.

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