Capítulo 22 :

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ARTHUR

Os dias iam se passando de forma lenta.

Thaís: Bom dia... — assim que saí do elevador a vi parada do lado de fora. Pela experiência leve que adquiri nessas semanas trabalhando, não era um bom sinal.

Arthur: Tudo bem? — sorri e beijei sua cabeça.

Thaís: Não, é claro que não! — segurou em meu braço — A megera está na sala.

Arthur: JÁ? — praticamente gritei e olhei no relógio. Eram oito e cinquenta, nem meu horário havia passado e ela já estava lá — A que devemos a honra?

Thaís: Dia de ajustes finais — sussurrou e saímos andando juntos entre as mesas do departamento.  Todos me comprimentam. — Gilberto e Sebastian entregaram os modelos. Hoje é aquele dia em que a poderosa pega pra avaliar e reajustar. O dia de inferno para todos aqui...

Arthur: Oh... — pelos segundos que olhei em volta, vi todos se dedicando ainda mais ao trabalho.

Não havia ninguém disperso, estavam concentrados no computador, na tesoura, nos panos, nos papéis, havia até pequenas discussões. Os nervos eclodiam em plena nove horas da manhã de uma sexta feira

Arthur: E qual é a dica de sobrevivência básica? — paramos em frente à sala de Carla. Thaís colocou a mão em meu ombro com os olhos tristes.

Thaís: Esse é o dia em que ninguém sobrevive há mais de um ano — sussurrou — É insuportável! É pior do que tortura... — olhei-a confuso — Tudo que posso dizer é... Boa sorte.

Arthur: Animador — tirei o terno e arregacei as mangas — Vou ver o que posso fazer — pisquei.

Thaís: Boa sorte — quando entrei na sala, ainda vi o rosto de Thaís se contorcer em uma expressão de pena. Fechei a porta e respirei fundo.

Os últimos dias ao lado de Carla não foram de todo o mal. Claro, ela era estressada, maluca, às vezes exagerava... Mas parecia que estava tentando se controlar. Não me atrapalhava, quase nem falava comigo... Era como se tentasse me evitar o máximo que pudesse ou quisesse fugir de minha presença. Apenas conversávamos quando se tratava de um serviço, de me repreender pelo trabalho mal feito, algo que quase nunca acontecia e falar sobre o estado de saúde da Maria Clara. A festa, o incidente depois dela e as fofocas entre os funcionários relacionados a nós eram assuntos proibidos, como se nunca houvesse acontecido.

Thaís andava por aí jurando que a Rainha da Delux fazia de tudo para não me ver sozinho com as garotas, principalmente Vitória, já que Emily havia sido demitida por justa causa há alguns dias atrás. Não sei como, mas Carla deu um jeito de passar a garota para trás bonito. Vi a Carla sentada em sua mesa falando ao telefone quando entrei. Pensei em dizer "Bom dia", mas ela parecia ocupada, entretida.

Carla: Mas é claro que podemos comer pudim amanhã, amor — disse com o tom de voz meigo — A dieta já era. Não precisamos disso — pausa — Claro, a vovó vai nos ajudar a fazer, com certeza. Sou uma catástrofe na cozinha... — ela riu — Chamar quem pra almoçar conosco? — olhou para o papel de forma confusa — O Arthur? Duvido que ele vá... — olhou pra frente e me viu. Sorri e assenti com um aceno — Filha, tenho que desligar. Ok. Beijo, mamãe te ama.

Arthur: Bom dia senhorita — me aproximei da mesa dela após ajeitar a minha — O que temos para hoje?

Carla: Já terminou todo o serviço de ontem? — questionou sem me olhar, fixa nos desenhos. Não parecia estar louca, como Thaís disse. Apoiou a caneta no queixo de forma delicada, fiquei encantando com o jeito como analisava os desenhos.

Arthur: Sim senhorita — assenti novamente, colocando as mãos no bolso da calça — Tudo está pronto. Os pedidos, os projetos... Tudo.

Carla: Bacana... — pareceu pensar, ainda olhando para o papel — Sempre fica algo para trás. Vai lá dar uma revisada.

Arthur: Sim senhorita — voltei para a mesa sem pensar. Sentei-me e comecei a revisar os pedidos olhando para ela de canto.

O engraçado era a forma como fazia, pois em certos momentos também deslizava os olhos para mim. Sorri mais ainda, fascinado pela forma sutil como tentava ocultar que olhava, com o jeito como falava sozinha com os desenhos a sua frente.

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