Capítulo 31 :

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"Por certo a culpa não é sua! É tudo confabulação da víbora!
Aquela vaca! Tenho seis filhos pra sustentar, não posso perder esse emprego!"

"Cachorra! Merece morrer!"

Foram esse entre outros comentários que ouvi na hora do almoço que fiz praticamente sozinho. Todos falaram comigo e prestaram seus sentimentos, dizendo que sabiam que a culpa era da chefe, não minha. Ficou meio evidente.

Gil: O que aconteceu entre vocês dois? — questionou quando me viu no banheiro.

Arthur: Nada... A culpa foi minha. Fiz errado o que ela me pediu — tentei abafar a culpa dela, mas ele sorriu de canto.

Gil: E eu não conheço a Rainha da Delux queridinho? — piscou — Algo aconteceu. É melhor vocês pararem de trazer o pessoal para o profissional, ou as coisas vão desandar aqui dentro.

CARLA

Meu cérebro explodia. Era vontade de gritar, chorar e tudo mais.

Maria Clara: Nossa mais já? — assim que fechei a porta, vi minha filha sentada na sala um pouco longe.

Desanimada, caminhei até o sofá e coloquei minha bolsa sobre ele, me jogando na outra ponta. Suspirei e fechei os olhos, apoiando a cabeça na almofada ao lado. Maria Clara estava a minha frente me encarando de um jeitinho meigo, carinhoso, um tanto preocupado. Aquilo serviu para que meu astral se elevasse, aparentando em frente a ela que tudo estava bem.

Carla: Sai cedo. Estou com um pouco de dor de cabeça — menti, pois o motivo por ter chegado em casa as quatro era o caos que estava o escritório e Arthhur.

Se passasse mais um minuto na presença dele uma bomba ia explodir, porque a cada segundo que passava seus olhos estavam mais intensamente sobre mim, mais curiosos... Decepcionados por minha atitude. Por certo fiz uma tempestade em copo d'água apenas para me vingar. Não me vingar dele por ter me chamado de vagabunda nas entrelinhas, mas por ter chegado em minha vida, arrasando com tudo e me fazer pensar nele em todas as circunstancias.

Até mesmo quando olhava para minha filha. Maria Clara lembrava Arthur. Seus olhinhos verdes eram tão puros quanto os dele; a tonalidade era muito parecida as vezes. Seu rosto... As bochechinhas rosadas, as caretas quando estava triste ou feliz. O som das risadas... Isso irritava! Até hoje, ela nunca me lembrou ninguém a não ser eu. Em seu jeito de ser irreversivelmente teimosa e soberano. Era coisa de minha cabeça, talvez...

Maria Clara: Se eu pudesse, faria um chá pra você e uma massagem bem gostosa na sua cabeça, mamãe — tombou a cabeça na almofada de forma meiga — Mas o gesso não deixa!

Carla: Não tem problema meu amor — me levantei e fui até ela. Abaixei e beijei seu rosto e sua testa — Mamãe está bem. Não se preocupe, é só estresse. Vou tomar um banho quente e tudo ficará bem — assentiu sorrindo para mim — Cadê a Graça?

Maria Clara: Está no banheiro — Respondeu e oltou a ver seu desenho.

Subi para o quarto e passei a chave. Não que Maria Clara ou Graça fossem me incomodar, mas era a forma que achei para me sentir protegida de alguém me ver chorando. Porque foi isso que fiz. Chorei. Esse verbo idiota começou a fazer mais parte de minha vida atualmente do que quando fiquei grávida. Chorar era comum agora por culpa daquele idiota.
Sentei em minha cama depois de tirar a roupa e peguei o telefone. Pensei em ligar para minha mãe, mas ela estava em Londres com meu pai de férias. Ou seja, impossível.

Pensei em meu único amigo, Gilberto, mas ele deveria estar no escritório correndo com todo mundo para entregar as fotos que pedi. Até em Thaís pensei, porém se ouvisse minha voz era capaz de quebrar o telefone, pois com razão estava revoltada comigo. Foi ai que me dei conta de que estava totalmente sozinha. Com exceção de Maria Clara, ninguém se importava comigo realmente. Ninguém ligava para meu bem estar, para meu coração ferido. Ninguém.

Entrei no chuveiro e deixei a água quente cair sobre mim. Me apoiei na parede e respirei lentamente; meu plano foi por água a baixo. Ninguém ficou bravo com Arthur por ele supostamente ter errado no envio das fotos; todos se voltaram contra mim. Será que havia sido tão nítido a minha intenção de prejudica-lo? E agora até eu mesma me odiava. Me odiava por ter sido tão infantil, por ter o tratado como lixo. Por não assumir para mim mesma que havia me apaixonado por ele.

Fechei o chuveiro e me enrolei na toalha. Fui pro quarto e me joguei na cama ainda molhada. Como ele me via? Como o homem que fisgou meu coração depois de tantos anos na  solidão me via? Uma louca. Uma víbora. Uma grossa. Uma orgulhosa. A chefe safada que queria ferrar com todos os empregados. Aquela que se sentia uma Rainha apenas por ter o maior cargo. A mulher que era fria, que não tinha sentimentos, que foi para cama com tantos homens que nem sequer podia identificar o pai da própria filha. Arthur nunca iria querer algum contato comigo. Nunca iria me permitir se aproximar porque com razão ele me odiava. Por ter sido uma idiota.

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