Capítulo 136 :

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Carla: O que vocês fizeram hoje? — perguntei a Arthur quando Maria Clara capotou em um sono máster no sofá depois de ficar conversando com minha barriga por um longo tempo.

Arthur: Eu a busquei no balé e levei para comer uma torta. Ficamos conversando — explicou, sentando ao meu lado me vendo comer um prato de salada de legumes. Comida pesada não passava em meu estômago agora, Ísis recusava tudo.

Carla: Sobre o que falaram? — curiosa, prossegui o assunto.

Arthur: Sobre muitas coisas. Sobre meu pai, sobre a escola... E sobre Maria Ísis — parei de comer e olhei em direção a ele um tanto séria — O que foi?

Carla: Não me diga que Maria Clara está se sentindo excluída... — Arthur pensou um pouco.

Arthur: Está apenas te achando um pouco distante, entende? Por causa do seu estresse.

Carla: Ai Arthur, você não sabe como isso me dói — parei de comer e senti lágrimas nos meus olhos — É uma coisa... Involuntária, simplesmente fico maluca com as coisas que andam acontecendo, estressada pelo modo como estou sendo chata com todos, ou acha que me aguentar é fácil? — Ele nada respondeu, apenas me abraçou de lado — Saber que isso aflige a Maria Clara é tão... Tão horrível!

Arthur: Carla, Maria Clara te entende. Nem está tão preocupada assim — tentou me tranquilizar, mas em vão — Anda muito feliz com a bebê. Não vê a hora de poder vê-la. Nossa filha é uma criança incrível, não se esqueça!

Carla: Eu sei Arthur... Ela puxou totalmente pra você. Se fosse tão igual a mim seria péssimo.

Arthur: Ouuu, pelo amor de Deus — comecei a chorar e ele me abraçou por trás, falando em meu ouvido — Sabia que falamos tudo isso porque nos preocupamos com você? Porque sem você, eu, Maria Clara e Maria Ísis não somos nada?

Carla: É claro que são... — rebati limpando embaixo dos olhos.

Arthur: Por que nunca acredita em mim?

Carla: Acredito sim...

Arthur: Então me dá um beijo bem gostoso — me virei e o beijei longamente. Quando mais ficávamos juntos, mais parecia perfeito cada segundo de minha vida.

Cinco dias Depois

Naquele onze de fevereiro o dia acordou diferente. Maria Clara parecia bem feliz, estava empolgada... Arthur meio apreensivo, como sempre, e eu quase explodindo com uma calça legging e bata, o vestuário de grávida mais sem sal do mundo.

Thaís: Bom dia senhora Picoli — não parei de andar, puxando Arthur pela mão.

Arthur: Bom dia Thaís — cumprimentou com um breve aceno, seguindo-me.

Entrei na sala, joguei o casaco e a bolsa sobre minha mesa e comecei a caminhar devagar pelo escritório, sentindo uma dor nas costas terrível, quase gritante! Arthur, que ajeitava seus papéis, ligava o computador e se ajeitava, ficava apenas me observando tirar a sapatilha rosa clara e chutá-la pelos cantos para ficar mais à vontade. Rodei o pescoço para relaxar, levei às mãos à base da coluna e respirei fundo. A dor era um desconforto péssimo misturado à cólica.

Carla: Isso não é bom — murmurei para mim mesma.

Dor nas costas e cólica vinha me perseguindo nos últimos dias, mas não dessa maneira intensa. A doutora havia dito que era normal, mas caso viessem de uma forma mais forte, podendo ser confundida com contração, eu deveria imediatamente ir a um hospital.

Arthur: O que foi que disse? — questionou direcionando a atenção totalmente para mim.

Carla: Nada não — dei de ombros.

Sabia como ele era maluco com esse negócio de gravidez. Se desse motivo então... Iria me arrastar para casa num dia de fechamento de coleção. Porém, nada me fazia diferente dos outros dias. O desconforto só tendia a aumentar até o dia do parto

Carla: Já fechamos o prontuário?

Arthur: Falta revisar — sentou-se a sua mesa e passou a se dedicar às tarefas bem concentrado. Fiz o mesmo, limitando-me a guardar a dor apenas para mim. Havia me comprometido a trabalhar mesmo grávida, carregando os desconfortos e implicações desta fase. Jamais iria dar o braço a torcer.

Arthur: O que? — olhei em sua direção quando gritou, derrubando alguma coisa da mesa — Mas ela está bem? O que houve?

Silêncio. Logo me alarmei, pois sabia que a ligação era da escola de Maria Clara. Aquela dor do período da manhã até havia sumido quando comecei a projetar motivos e mais motivos para aquela ligação e a frase que Arthur proferia.

Arthur: Claro, estou a caminho. Obrigado — Ele desligou o telefone e ficou de pé passando a mão pelo cabelo super nervoso. Até temi perguntar algo, com o coração na boca.

Carla: O que aconteceu?

Arthur: Maria Clara passou mal na escola. Parece que tomou leite e você sabe tão bem quanto eu que quando ela toma leite fica mal do estômago — respirei aliviada! Maria Clara não era alérgica a lactose, mas nunca se deu bem com leite de vaca e seus derivados — Ela está vomitando na escola, a professor me ligou e pediu para ir buscá-la.

Carla: Nossa, que susto me deu agora! — levei uma mão ao peito e respirei fundo — Pensei que fosse algo grave. Não estou com um bom pressentimento hoje, sabe?

Arthur: Vixi, quando você vem com essas coisas... Algo vai dar errado — Ele pegou a carteira e a chave do carro na gaveta de forma apressada — Vou buscá-la. Vou deixar na minha mãe e volto para trabalhar, certo? No almoço você vai para casa e fica com ela.

Carla: Não, eu não. Ela pode ficar com sua mãe... — rebati.

Arthur: Vai sim. Não quero ouvir não como resposta — falou firmemente, quase impondo — Ela precisa de você e você precisa descansar um pouco.

Carla: Ok... — não querendo contrariá-lo, cruzei os braços, irritada— Tchau. Se cuida.

Arthur: Até daqui a pouco — saiu fechando a porta.

De início voltei às atividades normais, porém uns cinco minutos depois que Arthur saiu ouvi o celular dele apitando em sua mesa. Encarei o objeto rodando na superfície do móvel intrigada... Na correria, deveria ter esquecido o celular, mas quem estaria ligando a essa hora da manhã se eu estava ao seu lado e Maria Clara já havia se comunicado com ele? Sem pensar, me levantei e andei até com dificuldade, esticando-me para espiar o aparelho, que por ironia, estava apenas sem bateria, por isso fazia escândalo.

Carla: Nossa, que bom hein? Desloquei-me só por causa da bateria! — desliguei o celular para parar de apitar e sentei-me em sua cadeira para procurar o carregador.

Comecei a fuçar na mesa, mas nada... Até que passei para a gaveta que estava aberta, a que sempre estava trancada com chaves. Mexi em vários papéis e senti a ponta do carregador no fundo da gaveta. Como tinha limitações de movimento por causa da barriga, enfiei a mão no fundo e puxei o objeto, fazendo papel cair para todos os lados na sala. Ótimo! xinguei, larguei o carregador e o celular sobre a mesa para pegar os papéis no chão. Demorei mil anos para conseguir me ajoelhar no chão e juntar os documentos, porém... Em meio aos papeis, deparei-me com uma carta lacrada e escrita o meu nome. O remetente era o próprio Arthur! Senti um gelo na espinha, um nervoso descomunal por aquilo e a dor de antes voltou. Mais rápido do que tudo, fiquei de pé e juntei os papéis, enfiando tudo na gaveta e indo para minha mesa com o tal envelope.

Encarei o mesmo durante um longo momento, imaginando se deveria ou não abri-la. Afinal, era meu! E se fosse uma carta de divórcio? Dele me dizendo que não me queria mais? Havia saído todo nervoso, sem ser muito delicado comigo. Pensei ser por Maria Clara, por ter ficado com medo de ela estar mal, mas... Droga! Comecei a rasgar o envelope com raiva. Era para mim mesmo...

Que problema havia em ler?

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