Larguei a garrafinha de água que vim bebendo desde a farmácia e corri para o banheiro. Fiz o xixi sobre o negocinho do teste que paguei muito caro, ouvindo a moça da farmácia dizer que era o mais seguro de todos. Não fiz apenas um, fiz três para ter logo uma certeza e não ficar encucada.Deixei os testes sobre a pia do banheiro e tirei a roupa para tomar um banho rápido. Rápido mesmo! Com a ansiedade não consegui sequer demorar no chuveiro... Droga! Grávida? Depois de tanto negar um irmão a Maria Clara, depois de cair nesse abismo em relação a meu namoro com o homem que eu amava? Grávida aos 30 anos... Novamente? Tudo de novo? Sai do box enrolada em uma toalha e caminhei até a beira da pia, onde todos os três testes apontavam a mesma resposta.
POSITIVO.O celular rolava em meus dedos, que ameaçavam digitar o número de Arthur a cada segundo, mas sempre voltavam para o botão delete.
Carla: Olá Arthur. Como você está? Ah, tenho uma novidade! Estou grávida! — o ensaio que fiz com o celular no ouvido e olhando para o espelho soou ridículo a meus ouvidos, tanto que me joguei na cama em seguida pousei uma das mãos sobre a barriga — Olá neném — sussurrei para mim mesma, deslizando os dedos sobre meu ventre ainda plano — Neném...
Comecei a rir sozinha da situação. Meu Deus! Era uma necessidade contar isso para alguém! Não haveria jeito de ficar assim, guardando somente para mim. Nem mesmo minha pequena Maria Clara estava ali para partilhar desse momento comigo... Respirei fundo e comecei a colocar as ideias no lugar. Conto agora ou espero um pouco? Meu Deus! Estou grávida!
Sentei-me novamente e digitei o número de minha ginecologista. Após ouvir meus sintomas, a doutora marcou uma ultrassonografia para a manhã seguinte e disse ter certeza de que eu estava esperando um bebê, já que o teste era muito confiável. Nada do que eu mesma não esperasse... Obviamente me lembrava vividamente que deixamos de usar proteção algumas vezes durante o sexo, mas nunca pensei que pudesse resultar em alguma coisa. Arthur era cuidadoso em relação a isso, mas... Nada é cem por cento garantido.
Ok. Aconteceu! Somos adultos, temos vidas estáveis, temos Maria Clara e um bebê a mais não irá por nada a perder. Sai da cama tentando me convencer de que a linha de raciocínio era essa mesmo. Olhei-me no espelho de corpo inteiro e notei como estava nitidamente diferente. Quadril largo, o decote caindo para fora... Como pude não notar? Deveria ter sido a ocupação mental que tive nos últimos dias com Arthur e tudo. Ergui minha blusa e estudei a barriga, que ainda me parecia a mesma. A estufei um pouco e me recordei da gravidez de Maria Clara, quando engordei quinze quilos e fiquei parecendo uma bolinha de gude. Pequena e redonda.
Carla: Parece que seu esperma é de ouro mesmo — comentei pegando minha bolsa sobre a mesinha e um casaco. Vi uma foto minha e de Arthur jogada no fundo da gaveta — Obrigada por mais essa Arthur!
Andei até a porta me preparando para ir até a casa dele dar a notícia. Era o certo não era? Ele era o pai e tinha direito de saber... Algo me dizia que ficaria muito feliz, que seria seu melhor presente e... Presente. Detive-me. Era véspera do aniversário dele. Isso seria como um presente? No mesmo momento joguei minha bolsa sobre o sofá junto ao casaco. Havia uma forma mais fácil de contar essa notícia e seria meu método utilizado.
Passei a noite toda pensando neles. Em Maria Clara, no possível bebê e em Arthur. Claro. Arthur! Já passava da meia-noite e era seu aniversário de 28. Fiquei feliz quando o dia virou e fechei os olhos, desejando a ele tudo de bom. A nós. Rolei na cama inúmeros momentos pensando na gravidez. Nervosa, apreensiva, ansiosa para o dia seguinte, quando teria o resultado. Era uma emoção tão boa e diferente! Me fez querer chorar, mas segurei. Meu corpo, meu tempo... Tudo perdido mais uma vez como foi com Maria Clara, demorando quase três anos para recuperá-los.Era motivo para pirar não era? Não planejei uma gravidez, não esperei por isso! Porém existia o outro lado...Droga. Sou mãe. Por mais que exija muito de mim é o que mais amo fazer. Apenas ser mãe.
Acordei cedo para ir ao consultório. Passei na padaria e comprei um lanche natural e um suco, sabendo que se estivesse mesmo grávida era bom começar a me cuidar. As responsabilidades já se tornavam presentes antes mesmo de ver o bebê.
Carla: E então? — perguntei ansiosa, deitada sobre a mesa do ultrassom. Da última vez que fiz isso eu não passava de uma menina com 22 anos e amedrontada. Agora, adulta, a experiência era tão distinta... Tão renovadora. O bebê ainda me assustava, porém não havia sensação melhor.
Doutora Anne: Pois é Carla. Basta olhar para a tela e verá — me virei em direção à tela, ignorando minha barriga cheia de gel gosmento. O dedo dela gesticulou um pontinho que se movia dentro da imagem distorcida de meu útero — Diga olá para seu novo bebê.
Carla: Meu Deus... — sussurrei estreitando os olhos — Ele parece um esquilo mutante.
Doutora Anne: Carla... — usou tom repreensivo e gargalhei levemente, com os olhos cheios de lágrimas. Aprendi com Arthur que o jeito mais fácil de superar momentos tensos e difíceis é fazendo piadinhas idiotas e rindo. Rindo muito! — Quer ouvir o coração?
Carla: Já dá pra fazer isso? — me surpreendi com a tecnologia, mas também com as lágrimas que derramei ao ouvir o som. Deslizavam tão facilmente que me era impossível detê-las.
Doutora Anne: Ele não para um minuto! — comentou rindo — Veja só...
Carla: Puxou ao pai — suspirei limpando embaixo dos olhos para não escorrer a maquiagem — Bebê Arthur... — murmurei — É um menino?
Doutora Anne: Não consigo ver ainda — lamentou-se estudando a imagem, talvez ignorando meu momento mamãe emocionada.
Meu coração estava naquela fase de crescimento, começando a abrigar mais um que como Maria Clara, me apaixonei vendo-o na imagem esquisita.
Doutora Anne: Pelo que vejo você está com pouco mais de quatro semanas de gravidez. Um mês e uma semana, por volta, porém temos que avaliar melhor num exame aprofundado. Podemos marcar?
Carla: Claro doutora. Marque tudo o que for preciso — assenti e ela sorriu me vendo com os olhos pregados na telinha, cheia de emoção.
Doutora: Quer uma fotinho para mostrar para o papai? — piscou amigavelmente.
Carla: Por favor... É aniversário dele. Acho que vai gostar da surpresa! — gargalhei baixinho quando ela desligou o aparelho e me deu um papel para limpar a barriga.
A cada segundo não parei de pensar em Arthur; sai de lá com os exames marcados e o pré-natal quase todo agendado. Enquanto me dirigia ao carro não parava de olhar para a foto do ultra, sorrindo para mim mesma.
Carla: Meu esquilo mutante... — sussurrei para a foto — bebê Arthur.
Corri para a loja mais próxima e comprei o presente do Arthur. Afinal, ele merecia como todos ter a emoção de abrir uma caixa decorada, mesmo que o presente venha depois.
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O Secretário.
FanfictionSinopse: Aos 30 anos Carla Diaz era a mais nova Diretora do departamento de moda de uma Empresa famosa. Linda, durona, odiada por todos, ocupada e mãe solteira, não tem tempo para se dedicar a nada que não seja ao trabalho e a filha Maria Clara, de...