Capítulo 103 :

1.1K 111 41
                                    


Arthur: Não faz essa cara. Tudo bem. Eu não te contei antes.

Carla: Mas eu deveria saber... — lamentei-me mordendo a bolacha novamente.

Arthur: Tudo bem. Eu ia dizer segunda na Delux. Pedir para poder ficar com a  Maria Clara na noite anterior ao meu aniversário. Quero passar o inicio dos meus 28 anos ao lado dela... — assenti positivamente.

Carla: Vai ter comemoração? — questionei acanhada — Não que eu espere ser convidada... — menti.

Arthur: Não... Quero dizer, vou passar ao lado de Maria Clara e só. Não preciso de mais ninguém... — me olhou nos olhos e corou levemente — Na verdade eu preciso sim de mais uma pessoa... Mas essa pessoa... Não sei se... — suspirou e parou de falar. Aquilo me congelou o coração. Ficamos uns segundos em total silêncio.

Carla: Lembra daquele dia na praia? — falei para descontrair — Você me empurrou e eu cai no mar... Depois te puxei para vir comigo e nós ficamos lá feito idiotas — assentia positivamente com o rosto um pouco tristinho.

Arthur: Eu te pedi em namoro e você aceitou... Depois me beijou sobre as ondas e disse que me amava.

Carla: Algumas coisas nunca mudarão... — percebi que se levantou da cama meio sem jeito e ficou me olhando.

Arthur: Nunca mesmo — garantiu com um sorriso fofo — Passou o mal estar?

Carla: Sim, mas...

Arthur: Ótimo. Acho que vou para casa — a expressão do meu rosto foi de felicidade para tristeza.

Carla: Não... — insisti — Está muito tarde para que dirija. É melhor ficar...

Arthur: Não Carla, tudo bem... Vou mesmo assim.

Carla: Se você for embora e deixar Maria Clara ela vai ficar bravíssima! — usei como desculpa — É melhor ficar... Pela manhã vocês vão. Vai... Vai que me acontece alguma coisa. — Arthur pareceu pensar um pouco e por fim assentiu.

Arthur: Então vou me deitar no sofá ok? Qualquer coisa é só me chamar... — abaixou-se e beijou minha testa — Boa noite.

Carla: Não... Não dorme no sofá — segurei seu pulso antes que se afastasse.

Arthur: Então o que me sugere? — sussurrou baixinho, olhando nos meus olhos.

Carla: Dorme na cama comigo.

imediatamente me lembrei da viagem a casa de Thaís, onde Arthur me sugeriu a mesma coisa certa. Respirei com mais rapidez por sua proximidade, porém tudo o que fez foi deitar-se ao meu lado sem sequer roçar em meu corpo. Acomodou-se no travesseiro e fixou os olhos no teto, aceitando minha sugestão.

Arthur: Ok.

Deitei-me ao seu lado e ficamos assim, sem sequer conversar, envoltos num clima ameno, mas que falava por si só. O resultado da noite foi o mesmo da viagem. Arthur e eu dormimos juntos e ele sequer encostou em mim. Naquela noite percebi o tamanho da ferida, o quanto minha alma sangrava com sua ausência em minha vida a cada segundo. Sangrava.

Segunda-feira.

Dor de cabeça. Enjoos. Droga! Talvez fosse mesmo hora de procurar um médico...

Maria Clara me ligou logo cedo dizendo que o pai a levaria para a escola e o ônibus a deixaria em casa às três e meia, como sempre. Desejou-me um bom dia e disse que me amava. Ótimo. Após um longo e tortuoso final de semana sem ela era o mínimo que eu merecia. Assim que o elevador abriu vi Thaís em sua mesa colocando o telefone no gancho e ficando de pé para me receber. Arrumou a saia e levantou algo que caiu antes de sorrir e acenar.

Thaís: Bom dia, senhorita Carla Diaz! Seja bem vinda de volta! — sorri para ela brevemente.

Carla: Obrigada... — fechei a cara novamente e olhei em volta, vendo que todos me olhavam curiosos — Como vai tudo por aqui?

Thaís: Ótimo. Arthur deu conta de tudo, saiu-se muito bem senhorita. — me viu observando sua mesa e pareceu apreensiva. Passei um dedo pela superfície do móvel e analisei. Estava sem pó. Olhei novamente em sua direção e sorri cinicamente.

Carla: Parece que está tudo no lugar... — os outros empregados se sobressaíram e voltaram a seus postos.

O recado estava dado: A Rainha da Delux está de volta e com muito mais força!

Thaís: A senhorita deseja alguma coisa? — pisquei para ela meio que avisando que era apenas para os outros, não para ela minha postura um tanto rígida.

Carla: Hum... Café preto sem açúcar... Não! Refrigerante de laranja. Estou com vontade de tomar refrigerante de laranja! — comecei a pensar — E rosquinhas de morango... Também algum chocolate. Pode ser de qualquer tipo, menos branco! Ah! Claro! Uma torta de maçã bem grande... — Thaís me olhava com cara de espanto, reparando em meu corpo de repente. Fechei a cara novamente — Algum problema?

Thaís: Não, senhorita é que... — agora anotava tudo em um bloquinho — Essas coisas não faziam parte de sua dieta anteriormente. Apenas isso. Em um minuto levo tudo.

Carla: Certo. — saí de lá em seguida, andando até meu escritório e encarando todo mundo com certo desprezo.

A cara de Arthur quando me viu foi um máximo! Eu estava com a rosquinha na boca digitando no computador... Ele parou na porta e ficou apenas olhando... Tirei a rosquinha da boca e coloquei sobre o pratinho que Thaís trouxe e o encarei de volta. Até que ele começou a rir.

Arthur: Pensei que tinha entrado na sala errada. — Ele colocou as coisas sobre sua mesa de antes — Para quem estava vomitando até as tripas sexta à noite, até que a senhorita está muito bem!

Carla: Apenas fome. — dei de ombros envergonhadíssima e parei de comer, ignorando a bagunça que estava em minha mesa cheia de comida — E falando nisso... Realmente, adorei as fotos do desfile de sexta. Ficaram lindos os modelos e todo o resto. Meus parabéns!

Arthur: Que isso Car... — se deteve e pigarreou — Senhorita Diaz... — corrigiu colocando as mãos nos bolsos e parando a frente de minha mesa — Substituí-la seria impossível, porém fiz o melhor que pude.

Carla: Por certo. — continuei vendo as fotos — Quer um pedaço de chocolate? — ofereci a ele.

Arthur: Não, obrigado. Tomei café com a Maria Clara antes vir para cá. — piscou brevemente — O que temos para hoje?

Carla: É melhor você me dizer senhor Picoli. Estou um pouco perdida aqui.

Apesar do clima de mais cedo tudo correu estranho. Arthur e eu não conseguíamos ficar no mesmo ambiente sem machucarmos um ao outro pelos sentimentos que nutríamos juntos e isso afunilava cada vez mais.

Comentem

O Secretário. Onde histórias criam vida. Descubra agora