Capítulo 66 :

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CARLA

Foi humilhante. Cheguei em casa sem conseguir andar direito e Graça teve que me ajudar a me vestir. Dormi por séculos, acordei no outro dia rapidamente quando Maria Clara me deu um beijinho na testa para ir pra escola... Até o celular tocar.

Carla: Alô? — praticamente gritei com o travesseiro em cima da cabeça. O celular espremido entre eu e o mesmo.

Arthur: Caramba, que mau humor... — a voz dele não era das melhores. Assim que ouvi fui baixando a bola e tirei o travesseiro de cima da cabeça me esparramando na cama — Desculpa por ligar, mas acho que vou trabalhar só depois do almoço.

Carla: Não precisa se desculpar... Eu que preciso. Nem vi que era você, amor, desculpa — Ele ficou calado. Talvez pelo apelidinho carinhoso — Você não está no escritório?

Arthur: Não... — respondeu um pouco mais animado — E você?

Carla: Estou na cama esparramada; acabei de acordar — levei uma mão à testa e espreguicei — Que horas são?

Arthur: Onze horas — Ele gargalhou quando gritei e me sentei — Calma!

Carla: Nossa... Nunca acordei tão tarde! Imagina o que estão falando da gente na Delux... — suspirei — Está em casa?

Arthur: Estou... Arrumadinho para trabalhar — garantiu e nesse momento me veio o cronograma da tarde toda em mente.

Carla: Não vai trabalhar nada! Mas fica pronto porque a gente vai sair... Vamos pegar a Maria Clara no colégio meio dia e depois ir almoçar com ela. Precisamos contar do nosso namoro, não é? — me sentei na cama com cuidado.

Arthur: Sério? Mais e a Delux? Temos coisas para fazer lá Dona Carla... — relembrou e dei de ombros para mim mesma, andando até o espelho de corpo todo na frente do meu guarda roupa. Olhei-me e mexi em meu cabelo bagunçado com a mão livre, os lábios torcidos.

Carla: Eu sou a chefe, querido — usei o tom superior e ele riu — Essa é a parte boa de namorar a chefe.

Arthur: Pensei que tínhamos combinado em não misturar pessoal e profissional.

Carla: Desculpa, mas é inevitável! — gargalhou — Angente se vê meio dia na frente da escola da Maria Clara?

Arthur: Claro, estarei lá.

Meio dia e Arthur estava lá com seu sorriso fácil e seu jeito meigo. Usava óculos de sol porque estava muito quente, ficou me hipnotizando enquanto se aproximava... Assim que chegou me abraçou e me beijou, trazendo todas aquelas lembranças da noite anterior à tona. Retribui seu beijo meio tímida,  já que era um lugar público e em frente a uma escola primária.

Arthur: O que será que minha chefe diria se visse eu me agarrando com você num dia que matei o trabalho? — nos separamos, mas prosseguiu com uma das mãos envoltas da minha cintura possessivamente.

Carla: Ela provavelmente surtaria, mas como a pessoa em questão sou eu, as coisas ficam mais fáceis queridinho — abracei-o também e sorrimos — Maria Clara vai ficar muito feliz por nós.

Arthur: Tomara né, imagina se ela surtar com as notícias como a mãe dela faz? — não ri de seu comentário.

Carla: Não surto com as noticias...

Arthur: Surta.

Carla: Não surto!

Arthur: Surta!

Carla: Não surto...

Maria Clara: Mamãe? Arthur! — Quando olhamos para frente em meio às discussões, vimos Maria Clara andando em nossa direção um tanto hesitante após deixar os portões do colégio. Assim que colocou os olhinhos em seu queridinho começou a correr até pular no colo dele — Por que vocês vieram me buscar? Por que não estão na Delux? Vamos passear?

Arthur: Quantas perguntas hein dona Maria Clara? Me dá um beijo direito depois fica falando...— Ela, que estava sentada no colo de Arthur, começou a distribuir beijos sobre a bochecha dele. Os dois riram e ironizei a cena colocando um dedo na boca em sinal de nojo.

Carla: Não fomos trabalhar porque... — troquei um olhar meio confuso com Arthur, mas Maria foi me ultrapassando.

Maria Clara: Porque chegaram tarde ontem, né? — usou tom acusatório e corei — Eu vi tudinho!

Arthur: É... Estávamos cansados — pigarreou e tirou a mochila das costas de Maria Clara, colocando minha filha no chão.

Carla: Aham. Então decidimos te levar para almoçar. Vamos? — sugeri e um sorriso imenso apareceu em sua face.

Maria Clara: Claro! — pegou na mão de Arthur, que comicamente carregava sua mochilinha nas costas, e na minha, ficando entre nós — Podemos ir ao parque depois? —  foi nos puxando em plena felicidade, parecendo a menina mais contente do mundo. Seu cabelo e seus olhinhos brilhavam no sol do meio-dia.

Carla: Fazer o que no parque?

Arthur: Ah, vamos ao parque... É tão legal — olhei para ele e percebi que estava sério. Comecei a rir sem acreditar em como às vezes era tão criança quanto Maria Clara — Somos dois contra uma, queridinha.

Maria Clara: Nós ganhamos mamãe.

Carla: Vocês sempre ganham porque jogam sujo — queixei-me.

Arthur: Isso não é verdade. Você é quem cede fácil demais. Maria Clara e eu somos irresistíveis, não é tampinha? — Maria Clara assentiu.

Maria Clara: Irresistíveis.

Maria Clara se lambuzava com um lanche maior do que a carinha dela, as mãos pequenas sujas do cheddar que cobria suas batatas. Resolvi não repreendê-la porque Arthur, mesmo sendo adulto, estava comendo a mesma coisa e tentava não fazer sujeira, mas em vão. Limitei-me a observá-los e comer bolinhos, sem acreditar na forma em como aqueles dois eram parecidos. Comiam o lanche da mesma forma, mordendo os mesmos pontos, começando por lugares estratégicos. Tomavam o milkshake quase no mesmo momento, mergulhavam a batata no molho e amassavam antes de comer da mesma forma.

Carla: Vocês me assustam — comentei apenas olhando como mastigavam ao mesmo tempo com o cantinho na boca suja de cheddar. Olharam-se ao mesmo tempo e riram um da cara do outro pela sujeira. Limparam ao mesmo tempo com o guardanapo.

Maria Clara: Então vocês dois estão... Juntos? — Ela estreitou o olhar de forma engraçada — O que isso quer dizer exatamente?

Arthur: Quer dizer que finalmente estamos namorando — explicou da forma mais clara, evitando me olhar — Mamãe e eu somos namorados.

Maria Clara: Ah, graças a Deus! — largou o hambúrguer e levantou as duas mãos para o céu — Obrigada Deus, não aguentava mais esses dois brigando! — suspirou e voltou a pegar a comida — Agora não vou precisar mais separar a briga?

Quando foi que a minha filha se tornou uma adolescente?

Carla: É... — olhei para Arthur e nós rimos — As vezes sim. Os namorados também brigam.

Arthur: Por coisas idiotas, Maria Clara — confessou um tanto frustrado — Pelas mais inúteis.

Maria Clara: Vocês dois só brigam por coisas inúteis — Arthur riu e assentiu perante a expressão dela. Era como se soubesse exatamente do que estava falando — Por que querem namorar?

Carla: Porque a gente se ama — admiti e foi muito fácil. As coisas eram mais fáceis na presença de Maria Clara, como se a nossa união fosse formalizada por ela, existisse por ela. Tudo girava ao redor dela — E quem se ama deve ficar junto.

Maria Clara: Isso é lindo — suspirou com a mãozinha apoiada na cabeça agora, parecia cheia de tanto comer — Podemos ir ao assunto que interessa?

Arthur: Claro! Qual assunto interessa? — nos ligamos a ela esperando que nos revelasse o que lhe era tão interessante, mas desviou o papo porque a garçonete chegou com a sobremesa.

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