CARLAQueria poder ver a cara dele enquanto narrava os fatos, mas já que fomos para a cama na hora de conversar resolvi encarar o teto, pois imóvel do jeito que estava me daria maior segurança e força para evitar não chorar e fazer ceninha na frente dele. Tudo o que eu menos desejava era mais um com dó de mim... Ou mais um que desacreditasse.
As imagens começaram a se projetar em minha mente, e tudo o que pude fazer foi resgatar todas as lembranças e desabafar com a pessoa que mais amava e confiava no mundo. Arthur.Aos vinte e um anos eu tinha tudo o que queria sabe? Era popular na faculdade, no último período da faculdade, estava com uma bolsa garantida para fazer a minha pós graduação na Faculdade mais cara da cidade... Até que conheci o Felipe. Na verdade, nós já nos conhecíamos da época da escola, mas começamos a namorar quando participei de um projeto científico. Como Felipe representante de turma, nos aproximamos e iniciamos o namoro mais invejado da faculdade... Meus pais não gostaram muito da ideia, queriam que terminasse primeiro a faculdade, mas me permitiram namorar já que o pai do Felipe era o pastor da igreja onde frequentávamos e eu já tinha vinte e um anos. Com a supervisão constante de nossas famílias, namoramos por todo o último ano, até que nas férias de verão a pressão se tornou mais forte:
Felipe queria dar um passo a mais na relação e isso consistia em irmos para a cama. No início relutei, pois sendo criada em uma família altamente religiosa fui instruída a me entregar a um homem apenas após o casamento religioso, devendo ignorar as vontades de Felipe, que mesmo sendo filho do pastor ameaçou nosso namoro de chegar ao fim caso eu me recusasse a satisfazer sua vontade. Confusa e sem ter com quem conversar, ouvi minhas amigas, que me incentivaram a aceitar o que Felipe me propunha, perder um namoro com um partido como ele apenas por não querer me entregar era ridículo. Claro, na concepção delas. Beirando os vinte e dois anos, me senti na posição de poder decidir por mim e acabei tomando a decisão: Felipe teria o que queria.
É difícil acreditar, mas na adolescência fui uma garota doce, simples, carinhosa, educada, e muito responsável. Sendo responsável e preocupada, marquei uma consulta com um ginecologista para poder me prevenir de possíveis complicações e principalmente... Da gravidez. Meu pai sempre foi o responsável pelo pagamento das consultas médicas, por isso tive que mudar o hospital e o profissional, ciente de que minha família teria o controle de saber onde estava me metendo. Pedi um conselho a Felipe, para que me ajudasse a encontrar um bom médico. Ele indicou um amigo da família e disse que o mesmo faria uma consulta grátis e discreta. Fui a este médico ainda nas férias... O homem, doutor André Brawn, me pareceu gentil e amável. Conversei com ele sobre meus medos e inseguranças e foi de grande ajuda... Receitou-me o contraceptivo e pediu que me submetesse a exames, já que nunca antes passei com um ginecologista. O homem nem sequer me examinou! Achei estranho, mas considerei ser pelo fato de ser apenas a primeira visita. Comecei a tomar o contraceptivo, porém Felipe viajou rapidamente para a casa da avó. O avô havia falecido na mesma semana. Marquei meu exame sem que meus pais desconfiassem de nada... Não contei nem mesmo para as amigas e, para me gabar, falei que Felipe e eu já estávamos tendo relações, algo totalmente mentiroso.
Numa manhã de sábado em que Felipe ainda viajava, fui até a clínica especializada do doutor Brawn fazer o tal exame. Pelo que pesquisei era um tipo bem desconfortável, que deveria ser realizado apenas em mulheres que já tinham vida sexual ativa. Não me preocupei com isso, já que queria iniciar a minha em breve. Percebi que a clinica era especializada em gravidez; muitas mulheres gravidas entravam e saiam a todo momento, assim como casais esperançosos... O aborto também não foi descartado, porém inicialmente não pensei que fosse um tipo de aborto ilegal. Doutor Brawn não estava presente... Quem me atendeu foi uma garotinha ruiva da recepção. Perguntou meu nome e apenas falei "Carla". Sem ter tempo de terminar, a menina logo foi me tratando como rainha e me mandou para uma sala estranha. Coloquei o avental presente lá e aguardei em um lugar gelado, onde apareceu uma senhora falando de termos e não sei o que lá mais. Confirmação de pagamento e tudo... Concordei, é claro! Sem nunca ter feito um exame sozinha, aceitei tudo o que me era proposto, sem entender direito os termos e imposições citados por ela. Esperei.
Um médico e uma médica apareceram, ambos bem jovens e sorridentes, me cumprimentando pela compra. Nervosa e sem entender, apenas perguntei se iria demorar muito e se seria dolorido... Como nunca mostrei meu corpo para ninguém, esse detalhe era algo que realmente me preocupava. Ambos garantiram que seria rápido, eficaz e indolor, já que eu era uma mulher jovem e saudável. Se desculparam por doutor Brawn não estar presente, justificando que o mesmo estava em um parto de quadrigêmeos muito especiais, criados sob medida. Deitei-me, apoiei as pernas no local indicado e esperei. Contei os pontinhos de luz do teto, os pontos de gesso dos acabamentos... E nada daqueles dois pararem de mexer em mim. Calados, seguiram o processo um pouco estranhos, me fazendo perguntas sobre virgindade. Garantir que era virgem, mas o desejo de realizar o exame era todo meu. Prosseguiram. Doeu. Foi meio horrível. Mas acabou logo. Tive que ficar deitada lá por algum tempo, para maior fixação, segundo eles. Voltei para casa estranha... Cansada, com sono. Mas não tive muito tempo para pensar nisso, uma vez que a bomba caiu de uma vez em minha cabeça.
Não demorei a notar as mudanças que ocorreram em meu corpo dias após o exame. As semanas se estenderam e enjoos, fome em excesso e tontura começaram a fazer parte do meu dia-a-dia. A menstruação atrasou... Felipe, mesmo longe, marcou comigo em um motel para termos a tão esperada noite... Até que naquele mesmo dia resolvi ir a clínica. Não aguentei mais aquela situação, sem saber qual era meu problema, que com certeza havia começado após o exame. Ao me ver o doutor Brawn ficou espantado e quando expliquei a história para ele então... Tudo fez sentido! Conforme me explicava o que havia acontecido, tudo parecia ser cada vez mais irreal! Duas pacientes. Duas Carlas. Duas mulheres jovens e saudáveis. Uma troca de fichas. Um erro. Como assim eu estava grávida?
Doutor Brawn me deu opções... Ter o bebê e dá-lo para a outra Carla, ter o bebê e pegá-lo para mim ou... Retirar o problema da forma mais discreta possível. Pode-se imaginar o que pensei? O que se passou por minha cabeça? O doutor se lamentou, ofereceu ajuda em dinheiro e todo o imaginável, mas... Não importava! Eu estava grávida sem ao menos ter ido para cama com um homem, sem ter culpa! E dizia... Descrevia como seria o meu bebê, que segundo ele fora planejado cuidadosamente pela mulher que deveria ser sua mãe... Uma menina de olhos verdes. A confusão se instalou em minha mente. Abortar? Seria o caminho mais fácil, uma vez que ninguém acreditou em mim quando contei sobre o ocorrido. Com razão minhas amigas disseram que Felipe era o pai, já que menti para elas dizendo sobre nossa vida sexual. Meus pais? Obviamente a fofoca chegou a eles, mas apenas minha mãe acreditou em mim... Meu pai estava preso ao que ouviu das pessoas e nem ao menos no próprio doutor Brawn acreditou. Não.
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O Secretário.
FanfictionSinopse: Aos 30 anos Carla Diaz era a mais nova Diretora do departamento de moda de uma Empresa famosa. Linda, durona, odiada por todos, ocupada e mãe solteira, não tem tempo para se dedicar a nada que não seja ao trabalho e a filha Maria Clara, de...