Capítulo 7 :

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CARLA

Carla: Prometo que não vou te chutar... — Maria Clara riu quando me deitei ao lado dela na cama de casal alta, dentro de meu quarto imenso.

Ela acomodou-se melhor no travesseiro, a perna quebrada engessada e posicionada sobre uma pequena estrutura para que não se machucasse. Encostei-me ao travesseiro e abracei seus ombros pequenos beijando seu cabelo limpo, com cheiro de shampoo. Assim que chegamos em casa a ajudei a tomar um banho e colocar seu pijama.

Maria Clara: Você vai me ajudar a tomar banho todo dia mamãe? Como quando eu era bem pequenininha? — ela me abraçou como pôde se acomodando perto de mim como uma gatinha.

Carla: Sempre que for preciso, filha. Mas quando era bem pequenininha quem te dava banho era a vovó — relembrei tocando seu nariz — Ela me ajudava em tudo, já que eu era um desastre com você e não tinha ninguém pra me ajudar.

Maria Clara: Isso que dá ter filha tão nova, né mãe? — assenti olhando para o teto.

Carla: Nunca faça isso! — adverti de modo engraçado. Olhei para sua perna quebrada — posso assinar no seu gesso? — pensei que iria ganhar uma gargalhada alta ou um comentário engraçado, mas não. O que recebi foi uma careta estranha, meio nervosa.

Maria Clara: Não! O primeiro que vai assinar será o Arthur! — ergueu o queixo de forma pontual. Comecei a rir baixinho.

Carla: Pelo amor de Deus, Maria! O Arthur nunca mais vai ti ver... Esquece aquele cara!

Maria Clara: É claro que vai me ver mamãe! — se ajeitou na cama de modo que me olhasse nos olhos. Aquele olhar brilhante, defendendo a certeza de que seu amigo viria — Ele me prometeu! E a vovô diz que os homens quando prometem tem que cumprir, porque colocam a palavra deles em jogo!

Carla: Homens são idiotas — me sentei também chegando mais perto dela, usando meu tom brincalhão para me dirigir — Quando vai colocar isso na sua cabeça?

Maria Clara: Está dizendo isso por causa do meu pai? — Voltei a me deitar na cama.

Carla: Quantas vezes vou ter que repetir... Você não tem pai!

Maria Clara: Quantas vezes vou ter que repetir... Todas as crianças tem pai! Se existo, tenho que ter tido um pai! — insistiu.

Carla: Mas não tem. E não estou mentindo...

Como explicar a uma criança o que me aconteceu aos dezenove anos? Como dizer a ela que fui vítima de um erro, e que por esse erro ela estava aqui? Como explicar que ela não tinha um pai, que para o pai ela não existia, era obvio! Sua existência nunca significaria nada porque ela era apenas mais uma?

Maria Clara: ARG! — lamentou-se — Tá bom mamãe, a cegonha me trouxe e me deixou na chaminé, foi isso? — tive que rir de sua expressão linda e penetrante. Do modo como seus olhos faiscavam, de como seu comportamento era genuíno e gracioso...

Carla: Se é assim que quer que seja, é assim que foi — dei de ombros — Agora mocinha vamos dormir porque amanhã o dia é longo e tenho que achar a minha secretária...

Maria Clara: Mas não já achou? E o Arthur? — cruzou os bracinhos.

Carla: Já falei que o seu querido Arthur nunca mais vai aparecer, Maria Clara! — choraminguei — Deita logo, vamos dormir... E se sentir alguma coisa durante a noite me avise. Mamãe está aqui — beijei sua testa quando se acomodou ao meu lado, me deixando envolver em sua inocência e carinho.

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Cheguei à Delux com a cara péssima, porém ainda eram nove e meia... Estava dentro do horário. Desci do carro depois de falar com minha mãe, que estava em minha casa com a Maria Clara. Devido a sua febre pela dor que voltou após passar o efeito do remédio, passei a noite em claro secando seu suor e aclamando seus suspiros... Até o novo remédio fazer efeito e a minha bonequinha voltar ao seu sono.

Assim que o elevador se abriu, pude ver todos em seus devidos lugares. Melanie e Jessica em seus computadores me desejaram bom dia em coro, como toda manhã. Beto estava na maquininha de café e acenou; Emily passou por mim com uma papelada; Raquel me deu passagem quando nos cruzamos e Thaís, que estava falando com Gil, veio em minha direção com um sorriso envergonhado.

Thaís: Bom dia senhorita Diaz — disse em tom educado — Se me permite perguntar em nome de todos... Queria saber como está a pequena Maria Clara?

Pensei em várias resposta mal educadas, mas neste caso era uma pergunta nobre que não dizia respeito a minha vida pessoal e sim ao estado de saúde de minha filha. Era solidário.

Carla: Ela está bem Thaís. Quebrou a perna, mas está bem — respondi — Obrigada por perguntar... Agora, se me permite, vou trabalhar. Não esqueça de que na hora do almoço quero mais cinco candidatos para a vaga na minha sala...

Sai andando ouvindo a Thaís chamar meu nome. Ignorei. Abri a porta, entrei, passei pela mesa da secretária, deixei meu casaco e... Hei. Espera!

Arthur: Bom dia senhorita Diaz — parei no lugar de costas para a mesa apenas em choque por ter ouvido aquela voz — Estava esperando para que me designasse as devidas funções...

Virei-me lentamente com medo de cair do salto. Encarei Arthur Picoli. Sim, o candidato! Parado ao lado da mesa da secretária. Usava camisa preta, bleizer e calça azul escuro e sapatos. Estava com um perfume maravilhoso, o cabelo arrumado e ainda tinha cara de quem foi arrebatado por uma alucinante noite de sexo.

 Estava com um perfume maravilhoso, o cabelo arrumado e ainda tinha cara de quem foi arrebatado por uma alucinante noite de sexo

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Carla: O que está fazendo aqui? — silabei encarando-o perplexa.

Arthur: A vaga estava de pé até as nove. Cheguei e assinei o ponto às seis e meia — respondeu de forma singela, com as mãos para trás — Os documentos estão com a Thaís, como a senhorita mandou...

Ok. Espera. Ele estava ali... Para trabalhar. Para me deixar irritada. Para sair por cima e eu nem sequer podia dispensá-lo! Como poderia passar por cima da minha própria palavra? Respirei fundo e assenti brevemente. Aproximei-me dele em passos lentos e estiquei a mão.

Carla: Ótimo. Seja bem vindo ao clube, Arthur — sua mão encontrou a minha e as duas se tocaram. Nos olhamos em seguida. Um olhar profundo e intenso, que ainda assim dizia muitas coisas.

Esse era meu medo. Quando olhava esse homem podia ver mais do que o obvio; era possível enxergar sua mente, bisbilhotar seus planos...

Carla: Não que vá gostar de fazer parte dele.

Arthur: Pode ter certeza que sim, senhorita — larguei sua mão.

Carla: Ok. Thaís vai te explicar como gosto das coisas e onde estão todos os seus materiais de trabalho. Ao meio dia sairá para o almoço e retornará a uma. Horário de trabalho, das nove às dezessete horas — dei as costas a ele caminhando até minha mesa — Pode ir lá falar com a Thaís.
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Arthur: Sim senhorita. Com licença — e saiu da sala.

OMG! É melhor se preparar Arthur, porque nossa jornada juntos está apenas começando!

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