Capítulo 29 :

1.2K 114 64
                                    

CARLA

Uma vontade de te ver, de tocar teu corpo
Te abraçar e descobrir todo o amor que existe em mim
Mas eu não tomo coragem de ir até você
Tô nessa ansiedade, não consigo mais conter.

Arthur: Chega! — ele colou a mão sobre as cordas do violão e a melodia acabou.

Meio em choque, tentei voltar aos poucos da sensação de transe que aquilo me proporcionou. Ficamos em um silêncio constrangedor por longos segundos. Que DIRETA!

Carla: Você toca muito bem... E tem uma voz linda — comecei e minha voz soou meio ofegante, nervosa.

Arthur: Vindo de você... Isso é um elogio grande. Obrigado — Ele respondeu abaixando o violão — Acho que já vou...

Carla: Em quem pensa quando toca essa musica? Acho que ia dizer, você tem alguém? Digo uma namorada? — Me enrolei, ele me cortou.

Arthur: NÃO! — pareceu meio desesperado. — Eu sou solteiro!

Carla: Eu também sou, você sabe. Solteira! — Tive vontade de socar minha cabeça na parede.

Arthur: E foi melhor não ter dito — afirmou me olhando fixamente — Pode não ser tão agradável.

Carla: E por que não seria?

Arthur:  Algo intimo demais para se tratar com quem se trabalha — notei certa carga de duplo sentido nessa frase e Meu Deus... Era verdade?

Carla: Tenho tanta experiência nisso quanto Maria Clara — "nisso" queria dizer amor — Então é bom que seja claro.

Arthur: Desde que me explique o significado de nisso — engoli em seco.

Carla: Foi melhor não ter dito. É intimo demais. —  Ele abaixou a cabeça, suspirou, olhou para o lado e depois se voltou para mim com a expressão dura, como se quisesse dizer algo. E disse!

Arthur: Quem é o pai da Maria Clara? — separei os lábios indignada por isso, mas falei também.

Carla: Ela não tem pai!

Arthur: Tem que ter tido um pai! — parecia duro em suas palavras — Só não quero entender como alguém foi capaz de... De te deixar com ela assim e sumir... — ele explicava de um jeito sincero — Não entra na minha cabeça... Quero dizer...

Carla: Eu não sei quem ele é — expliquei também.

Arthur: Qual era o nome dele?

Carla: Não faço ideia! — tive que rir da situação. O que ele iria pensar? Ficou calado apenas me olhando de olhos estreitos e pensativos — Sei que deve estar me julgando uma vagabunda, mas isso é bem mais do que aparenta ser. Bem mais!

Arthur: Não entendo como a senhorita perfeição teve uma filha com um cara que nem sabe o nome! — ficou de pé e deixou o violão no lugar — Acho que está escondendo a verdade...

Carla: Bem que queria estar — ironizei ao me levantar e parar em frente a ele — Queria ter um telefone, uma cidade, alguém, um nome sequer para dar como resposta a minha filha! Mas não tenho! — gritei — NÃO ATÉ ELA ENTENDER O QUE ACONTECEU!

Arthur: E o que aconteceu? O que é tão difícil de entender? Que você foi pra cama com um cara que nem conhecia e ficou grávida? — sem pensar, virei à mão na cara dele com certa força.

Até entender o que havia feito, longos segundos se passaram. O rosto de Arthur se moveu um pouco, e a marca da minha mão estava certinha em sua bochecha esquerda. Engoli em seco, de repente minhas mãos estavam soando... Percebi que tinha virado a mão na cara dele e percebi que ele me achava uma vagabunda de verdade.

Carla: Deve estar me confundindo com as suas mulheres quando pensa desse jeito, porque não sabe nada da minha vida, NADA! —-  gritei a última palavra e apontei o dedo na cara dele, que estava quietinho me olhando — Meça suas palavras para falar comigo!

Arthur: Desculpa — seu rosto estava mesmo envergonhado de repente — Não sei mesmo. Você tem razão — suspirou e colocou o violão encima da cadeira — Sou um idiota.

Carla: Ainda bem que assume, pelo menos — cruzei os braços e...

E senti lágrimas! Entrei em choque ao perceber que estava deixando a tristeza aparentar, mas era sofrimento demais saber que mais uma pessoa com quem eu realmente me importava me julgava uma vagabunda. Como todos!
Por que me importava com ele? Com o secretário?

Fiquei com essa pergunta pairando até Arthur caminhar em minha direção e tocar meu rosto. Ele enxugou a lágrima que descia por minha bochecha e estava perto demais... Bruscamente afastei sua mão de minha face e andei dois passos para trás. O encarei com olhos de quem mata e foi o suficiente para entender que era hora de ir embora.

Arthur: Me perdoa... — sussurrou antes de sair envergonhado.

Assim que ele saiu, fui pro quarto e peguei a rosa que coloquei em um vasinho dourado. Fiquei olhando para ela sentada na beira da cama por longos segundos e quis me matar ao perceber que estava chorando novamente. Aquela musica estava tocando em minha mente com maior intensidade a cada segundo... O rosto de prazer dele comendo meu pavê aparecia em cada refrão da letra, assim como as risadas dele e de Maria Clara juntos. Eram sons que se contrastavam, que quando emitidos juntos encontravam a perfeita sintonia. Um misto de raiva, ciúme, carinho, desejo e... Amor alcançou meu peito. Raiva por ele me julgar sem saber de nada; ciúme por ele estar roubando minha filha; carinho por amar saber que alguém faz a Maria Clara feliz; desejo devido aquilo que sentia quando estava com ele e tudo isso junto levava ao inevitável... Amor...

Comentem

O Secretário. Onde histórias criam vida. Descubra agora