Capítulo 91 :

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Não me virei porque sabia que ele estava chorando e também ia chorar. Cobri o rosto com as mãos e suspirei quando ele aproximou o corpo do meu e tocou minhas costas. Sua respiração roçava meu pescoço e tudo me parecia tão sensível... Deus! Como eu o amava...

Arthur: E você também me ama... Ou vai dizer que é como se nada tivesse acontecido? Como se nossos momentos juntos fossem apenas imaginação? — nada respondi — Me olha nos olhos e diz que tudo não passou de nada.

Carla: Tudo está confuso agora. Não há nada para dizer.

Arthur: Sabe o que mais desejo no mundo? Não é dinheiro nem corpo perfeito, mas sim casar com você e criar minha filha. É ter mais uns três filhos e envelhecer ao seu lado. É ter um cachorro no quintal e poder levar todo mundo pra comer no Mc Donalds nos finais de semana... Eu te amo e sem você tudo volta a perder o sentido... Minha vida cai na mesmice de antes — sem aguentar aquelas palavras o abracei fortemente e escondi o rosto em seu pescoço. Seus braços fortes me apertaram contra o peito másculo e  ele enroscou os dedos em meu cabelo.

Carla: Por favor, não faz isso comigo! — prossegui chorando — Não me ponha nessa posição... Eu também te amo, mas... Mas não sei o que pensar agora.

Arthur: Por favor, não fale comigo como se não se importasse, não traga a Carla de antes à tona novamente por que... Porque dói demais pensar que você possa me odiar.

Carla: Eu jamais vou te odiar Arthú... — segurei seu rosto e me aproximei para beijá-lo, mas...

Maria Clara: Mãe? Pai? — soou tão estranho vê-la dizer isso que quase questionei. Separamos e a vimos sonolenta, de pijama na porta do quarto.

ARTHUR

Noite de terror ou pesadelo? Qual o título apropriado para essa noite?

Tentamos fazer com que tudo parecesse bem na frente de Maria Clara, de modo que  não a preocupá-la com todos os problemas que nos rodeavam agora. Carla estava sendo maravilhosa em não dizer nada a ela sobre como as coisas realmente são, por isso não tive coragem de contradizê-la ao pedir para ficar sozinha com nossa filha. Deixei que as duas dormissem naquele quarto que antigamente foi meu e saí dali sem delongas. Mas antes...

Maria Clara: Boa noite papai — agarrou em minhas pernas após descer da cama correndo. Tombou a cabeça para trás de modo a me olhar. O cabelo longo, na mesma tonalidade de Carla, estava maior do que antes, tocando seu quadril. O pijama lilás lhe caía muito bem, ressaltando os olhos claros. Meus olhos.

Arthur: Boa noite filha — sorriu largamente mostrando seus dentinhos. Parecia orgulhosa. Abaixei-me e beijei sua testa, abraçando-a — Coisa linda do papai.

Maria Clara: Eu te amo — disse após gargalhar — Você me ama?

Arthur: Amo mais do que tudo — ganhei um beijo também e a peguei no colo, já que se pendurou em meu pescoço — Agora cuida da sua mãe para o papai — deixei um beijo estalado em seu cabelo antes de sair do quarto sob o olhar envergonhado de Carla.

Assim que saí me dirigi ao quarto de Pedrinho, que dormia tranquilamente. Peguei minha roupa na bolsa que estava lá e me troquei, arrumando um espaço no sofá do garoto para me acomodar. Porém, antes, resolvi tomar um pouco de água e passei pelo quarto onde estavam Carla E Maria Clara. Ouvi o que diziam... Sobre mim.

Maria Clara: Mas você não pode ficar triste, mamãe. Arthur é meu papai, somos uma família completa agora. O que mais falta? — sua voz era inocente.

Maria Clara: Filha, as coisas não são assim tão fáceis...

Maria Clara: Mas é o que eu sempre quis! Você diz que o que me faz feliz te faz também, não é? — insistiu, agora mais persistente.

Carla: Sim, mas...

Maria Clara: O meu pai te fez mal?

Carla: Não. O seu pai é um homem maravilhoso — aquilo fez parar meu coração.

Maria Clara: Então por que você o odeia? — choramingou. Naquele momento desejei poder vê-las diretamente e não apenas ouvir atrás da porta.

Carla: Eu nunca disse que o odeio — praticamente repreendeu — Eu amo o Arthur e isso nunca vai mudar, independente de tudo o que aconteça. Jamais negarei isso a mim mesma — após ouvir isto os sentimentos se normalizaram.

Carla era mulher o suficiente para assumir tudo o que sentia e isso me agradava demais e apenas fazia admirá-la com mais intensidade.

Maria Clara: Qual é o problema? Juro que não entendo porque não estão se beijando e nós três juntos como antes. Porque estamos na casa da vovó? Porque não na casa dele ou na sua comendo pizza e tomando coca? Cadê os desenhos da pixar? — sorri de canto. Aquela menininha com rosto de anjo e pensamentos muito lógicos tinha que ter alguma ligação comigo. Era impossível ser tão irritante quando queria, tão persuasiva.

Carla: Maria Clara, não me faça explicar algo sem explicação. Não tem a ver com você, mas comigo e com seu pai. É sobre nosso namoro... Não vai muito bem — a voz dela soava firme e autoritária, impondo-se e funcionou. Maria Clara abaixou a guarda.

Maria Clara: Por quê?

Carla: Coisa de adultos.

Maria Clara: Sempre isso! — ironizou.

Carla: Chega! — não brigou, mas implorou — Tudo o que te basta saber é que eu sou sua mãe e Arthur seu pai e deve respeitar a nós dois, entendeu? Deve saber que te amo incondicionalmente e ele também, nunca duvide disso... Nunca duvide que podemos dar a vida pela sua e, mesmo que seja apenas por você, estaremos juntos e ao seu lado.

Maria Clara: Então... Ele vai ser meu pai de verdade? — pude visualizar a cena de Maria Clara saltitando apenas por seu tom de voz — Vai me levar pra passear, comprar bonecas, passarei os finais de semana na casa dele e serei sua princesinha?

Carla: Esse é seu conceito de pai?

Maria Clara: Faço o que posso. Nunca tive um — gargalhou — Arthur é o primeiro.

Carla: E o único.

Maria Clara: Que bom... Porque eu o amo mais do que todos.

Carla: O ama porque ele é seu pai, querida.

Maria Clara: Eu sei... — gargalhou — Vocês vão casar mamãe? Me dar uma irmãzinha?

Carla: Vamos dormir agora, que tal?

Suspirei quando tudo ficou em silêncio. Encostei-me a porta e tudo o que pude fazer foi esperar que o pesadelo terminasse.

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