Capítulo 10 :

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Bônus
CARLA

Saí cedo da reunião praguejando. Deixei os estilistas decidindo sozinhos os toques finais no modelo primavera-verão, mas foi necessário! Já eram cinco e meia da tarde e Maria Clara precisava de mim! Corri para casa tentando ligar, mas foi em vão. Maria Clara não atendia o celular e o telefone apenas chamava, chamava... Assim que estacionei, notei um carro diferente parado perto de casa. Como assim? Desci, abri a porta...

Carla: Graça? — Graça a babá de Maria Clara, que agora devido ao tombo estava afastada da escola, apresentava-se sentada na sala folheando uma revista e com fones no ouvido — Cadê a Clara?

Graça: Olá senhorita Diaz! — com os olhos maiores do que o rosto e muito surpresa em me ver, a garota ruiva jogou para o lado a revista, tirou os fones e ficou de pé em um pulo — A Maria Clara está bem, ela está no quarto com... — olhou brevemente pro corredor — Aquele homem. Você sabe...

Pelo modo como seus olhos brilharam, sua boca repuxou, mordeu os lábios e colocou o cabelo atrás da orelha não precisei nem perguntar quem era o tal homem. Suspirei fortemente.

Carla: Como é que você deixa a minha filha ficar sozinha com ele? — questionei indignada, cruzando os braços — Já falei que ninguém entra nessa casa quando não estou, Graça!

Graça: Desculpe senhorita, mas foi a Maria Clara uem disse que a senhorita permitiu a visita do Arthur! E como ela não costuma mentir pensei que fosse verdade. Desculpe, não vai se repetir.

Enquanto olhava a garota me lembrei perfeitamente de mim permitindo que Maria Clara recebesse a visita de Arthur. Olhei a garota e saí andando em direção ao quarto de minha filha, confabulando as mil e umas idiotices que diria a Arthur. E a Maria Clara também. Fui devagar para ver o que faziam, e assim que parei na porta...

Maria Clara: Só mais uma, por favor! — A frase veio seguida por risadinhas baixas e lindas; risadas de Maria Clara.

Parei na porta onde não pudessem notar minha presença e me deparei com Arthur sentado no pé da cama de Maria Clara , com os pés sobre a cama também, mas cruzados para fora e segurando um violão sobre o colo. Ele olhava para ela, sentada com a perna imobilizada sobre um travesseiro, usando um vestido e uma faixa florida no cabelo, como se a minha filhota fosse a coisa mais fofinha do mundo. Havia carinho em seu olhar, e a Maria Clara parecia estar encantada com a música que fazia, parecia feliz demais na presença dele.

Arthur: Só mais uma... Porque tenho mesmo que ir — ela sorriu lindamente.

Maria Clara: Posso escolher dessa vez? — disse persuasivamente.

Arthur: Uhm... Pode — piscou e posicionou-se de modo correto com o violão.

Maria Clara: Quero aquela do Dirty Dancing! — sorri silenciosamente, pois sabia que o maior amor de Maria Clara  era assistir aquele filme meloso.

Arthur: A do final? — falou erguendo uma sobrancelha.

Maria Clara: É, a do final... É a música favorita da mamãe! — Arthur, que afinava as cordas, olhou para Ela lentamente.

Arthur: É? — ela assentiu sorridente — Sua mãe gosta de filmes de amor? Não acredito! Cabe amor naquele coração de pedra? — Ele voltou a afinar o violão. Cruzei os braços.

Maria Clara: Mas é claro que cabe! — sorri para o modo como ela me defendeu. Vi suas bochechas corando — Minha mamãe é uma pessoa sensível também, apesar de aparentar ser mau, ela é na verdade muito boa. Muito!

Arhur não respondeu, apenas trocou um breve olhar com a minha filha e começou a canção. OMG! Arthur. Tocando. Minha música favorita.

With my body and soul
I want you more than you'll ever know
So we'll just let it go,
Don't be afraid to lose control, no
Yes I know it's on your mind,
When you say "Stay with me tonight"

Com meu corpo e alma
Eu te quero mais do que você jamais saberá
Por isso vamos nos soltar,
Não tenha medo de perder o controle, não
Sim eu sei que está na sua mente,
Quando você diz "Fique comigo esta noite"

O modo como as cordas deslizaram por seus dedos me deixou hipnotizada. O jeito como ele tocava, lentamente, com delicadeza, como se o violão fosse parte de seu corpo – como cantava... Sim, ele tinha uma voz maravilhosa... Grave, vibrante, ecoando pelo quarto e chegando a mim como ondas de calor.

I've had the time of my life
No I've never felt this way before
Yes I swear it's the truth,
And I owe it all to you

Eu tive as melhores horas da minha vida
Não, eu nunca me senti assim
Sim eu juro é verdade,
E devo tudo a você

Maria Clara: Já pensou em ser cantor profissional? — Arthur gargalhou abaixando o violão.

Arthur: Muitas vezes... Na verdade, odeio tudo o que faço. A música é a única coisa que me mantém vivo – respondeu de forma singela.

Maria Clara: Você tem filhos Arthur?

Arthur: Não — fez um bico engraçado — Mas adoraria ter — seus olhos vagaram por Maria de um jeito meigo — Se tivesse uma filha, tenho certeza que ela seria assim, como você...

Maria Clara: Assim como? — riu baixinho, envergonhada.

Arthur: Bonequinha, olhos verdes, educada, meiga, apaixonante... Baixinha e pentelha! –- Maria, que até agora estava corada, jogou um travesseiro nele. Arthur agarrou no ar e riu piscando — Tenho que ir agora, melhor amiga...

Maria Clara: Espera aí melhor amigo! — seu tom autoritário o fez olhá-la — Eu disse tudo sobre mim... Que não tenho papai, apesar de todas as crianças terem um — gargalhou — Que  minha mãe é boazinha, apesar de aparentar ser malzona — Arthur gargalhou — E que não tenho irmãos... Apesar de ser louca pra ter uma irmã. E o senhor — apontou para ele de forma ameaçadora — Não me disse nada! Os amigos contam as coisas, sabia?

Arthur: Ok então... — Ele colocou o violão no colo de novo e a encarou de forma relaxada. Lindo. ARG! — O que quer saber, melhor amiga?

Maria Clara: Sei lá... Deixa eu ver... Se tem uma namorada? — apoiou a mão no queixo de forma confusa. Instintivamente me interessei, chegando mais perto.

Arthur: Uma não — Maria pareceu indignada quando respondeu. Arthur ria da carinha dela.

Maria Clara: Que coisa feia! Mamãe disse que só podemos ter um namorado... Ou seja, você só pode ter uma namorada, não várias! — repreendeu-o.

Arthur: Mas não tenho várias — explicou — Elas acham que são minhas namoradas; eu tenho certeza de que sou solteiro! — ele deu de ombros e recebeu outra almofadada de Maria.

Os dois riram; os dois me olharam quando entrei no quarto e peguei a almofada que caiu no chão. Bati palmas brevemente, encarando os dois pares de olhos surpresos sobre mim. O gesso de Maria Clara estava assinado com o nome dele.

Maria Clara: Mamãe! Não vi você chegar...

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