Capítulo 11 :

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ARTHUR

Ok, senti que estava me ferrando indo visitar a pequenininha, mas agora estava ferrado de verdade! A poderosa chegou; a poderosa me viu; a poderosa ia me matar! Fiquei de pé, parando ao lado da cama com o violão em mãos.

Carla: Oi filha — sua voz estava até então controlada. Mas seus olhos brilhavam encima de mim como se quisesse enfiar uma faca na minha garganta — O que está fazendo aqui Arthur?

Arthur: Prometi que iria vim ver a Maria Clara. Apenas cumpri a minha promessa... E antes de tudo, a senhorita mesmo permitiu que eu viesse vê-la — cruzou os braços e assentiu.

Carla: Tudo bem — a encarei desacreditado. Com certeza essa conversa não terminaria ali... E nem de forma amena — Pelo que vejo está de saída... Será que posso te acompanhar?

Arthur: Claro — respondi a sua pergunta e a seu olhar, que com certeza eu não diria na frente da Maria Clara não! — Bom, aqui está seu inutilizado violão — coloquei o violão dela ao lado da cama e sorri — Até mais Mariazinha — peguei sua mão e beijei-a na parte de cima. Quando terminei, não largou minha mão.

Maria Clara: Você volta? — sussurrou com a vozinha meio triste — Diz que sim, vai... ? Por favor!

Olhei para minha chefe, que parecia amena a situação e me voltei para a garotinha. Sem querer me comprometer e não cumprir uma promessa, fiz o que achei mais plausível.

Arthur: Farei o possível para voltar, Maria — sorri — Quero que fique melhor, ok? Você já sabe da promessa — pisquei para ela e sorri. Ela também sorriu muito e assentiu.

Maria Clara: Vou ficar melhor sim.

Arthur: Então tchau pentelha — fui saindo, já que a Carla estava a minha frente.

Maria Clara: Tchau melhor amigo.

Ao chegar ao corredor longo, parei e fiquei esperando a Carla sair do quarto de Maria Clara. As duas falavam algo em voz baixa. Pensei em tudo o que a garotinha havia me contado; sorri ao saber que confiava e gostava de mim. Maria Clara também era muito querida por mim, de um modo novo e inédito, já que se apegar a crianças não era bem o meu forte. Na verdade, nunca gostei muito delas... Até conhecer a menininha que mexia comigo de forma meiga; a filha da mulher que mais me odiava no mundo, a que mais me desprezava.

Carla: Quando permiti que viesse visitar minha filha, pensei que tivesse ficado bem claro que era para ser na minha presença — quando me virei, Carla estava parada perto da porta com os olhos em mim de forma pesada.

Arthur: Na verdade sou um pouco idiota — coloquei as mãos nos bolsos da calça — Se não for explicito, não saberei identificar sua intenção por trás da frase.

Respondi dessa forma para ver como ela iria explicar a conexão que possuíamos por um olhar. Sim, porque pelo menos para mim era totalmente fácil e visível o que ela estava pensando quando nos encarávamos. Era como se o que passasse por sua cabeça também passasse pela minha; como se minha mente pudesse captar as ondas que a dela emitia, refletindo os sons em meu cérebro.

Carla: Pensei que fosse mais capaz — lamentou-se de forma nitidamente falsa — Bom, pelo visto eu não estava enganada no começo.

Arthur: Certo. Acho que já vou agora... — comecei a me despedir, mas ela não ligou.

Carla: Fique longe da minha filha.

Arthur: Não vejo motivos para isso. Se você vê, então poderá me explicar quais são... — seu rosto corou de raiva quando me aproximei dela de forma gradual.

Carla: Ela não tem pai — postou-se perto da parede me olhando seguramente.

Arthur: E daí? — sorri de lado ironicamente, abrindo os braços — Eu também não tenho!

Carla: Tenho medo que ela veja em você um pai... O pai que não teve, e se decepcione quando sumir da vida dela — de repente a Carla pareceu mais uma vez frágil aos meus olhos. Estava mesmo preocupada com a filha, era nítido.

Arthur: E porque eu sumiria? Também gosto dela... — o corpo dela estava todo contra a parede; o meu muito próximo, quase a tocando.

Carla: Não tanto para não sumir — ergueu uma das mãos e a colocou sobre meu peito — É isso o que os homens fazem, somem.

Arthur: O que acontece se te disser que não sou como todos os homens? — dei um passo para trás quando Carla singelamente me empurrou.

Carla: Isso é o que todos dizem — quando a distancia entre nós foi quebrada, ela se afastou o máximo que pode — Acho que conhece a saída. Até amanhã — me deu as costas.

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