Capítulo 32 :

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ARTHUR

Arthur: Deu tudo certo? — assim que cheguei fui direto para a mesa de Thaís.

Thaís: Graças a Deus sim — suspirou e parecia relaxada naquela manhã de terça-feira — Depois que você foi embora o pessoal entregou as fotos.

Arthur: Ficaram até que hora?

Thaís: Até as nove — surpreso, sacudi a cabeça negativamente — Mas tudo bem, vamos tirar hora extra!

Arthur: Desculpe-me Thaís, meu sobrinho passou mal. Tive que ir embora as sete para levá-lo ao pronto socorro. Deveria ter ficado com vocês...

Thaís: Não. Tudo bem! — piscou — Deu tudo certo no final... — segurou minha mão — Arthur, todos aqui na Delux estamos acostumados com os surtos dela... — parecia tranquila — Não foi o primeiro nem o último. Sabemos que a culpa não foi sua, relaxa.

Arthur: Mesmo assim, sinto muito — Thaís sorriu e largou minha mão.

Thaís: Sua rainha já chegou — anunciou de forma engraçada — Acabei de levar um café para ela. Não parecia estar muito bem não.

Arthur: Putz — olhei rapidamente em direção a minha sala — Porque raios ela anda chegando cedo?

Thaís: Pra te rodear — deu de ombros — Ela te quer meu querido.

Arthur: Me quer morto — riu quando comecei a me afastar — Bom dia Thaís.

Thaís: Bom dia Arthur.

Abri a porta de minha sala sem fazer barulho e pensar muito, pois se cogitasse qualquer outra possibilidade iria dar meia volta e ir para casa. Ajeitei meu terno, já que era um dia frio, e me deparei com uma cena que com certeza nunca imaginei encontrar. Minha patroa estava em sua mesa, com a cabeça apoiada no braço esquerdo, olhando para a xicara de café fumegante a sua frente e... Chorando.

Fiquei uns segundos parado apenas olhando a cena, meio bobo por presenciar sua fragilidade. Pensei se era certo me aproximar, se deveria mesmo atrapalhar seu momento. Fiquei segundos apenas pensando, e quando vi, segui meus instintos. Caminhei até sua mesa e ela não esboçou qualquer reação apesar de saber que não estava sozinha. Continuou chorando caladinha, as lágrimas grossas deslizando por sua bochecha vermelha e úmida. Estava linda usando um vestido azul, meia calça preta, botas também pretas e uma touca branca larga meio torta na cabeça. Ao invés de dizer algo, dei a volta e me abaixei a sua frente. Nossos olhos estavam na mesma altura, porém não me encarava. Meu peito, que ontem explodiu de raiva dela, agora palpitava em uma estranha comoção. O fato de ver a mulher a quem se deseja, se gosta, se está apaixonado,chorando, nos torna idiotamente propensos a comoção, mesmo que a mesma não merece uma gotinha de seus sentimentos.

Arthur: Posso ajudar em alguma coisa senhorita Diaz? — sussurrei e ela mal se moveu, apenas elevou a mão e secou uma de suas lágrimas rapidamente.

Carla: Pode — disse depois de um soluço — Some da minha vida!

Arthur: Para onde mais eu iria? — continuei do mesmo jeito. Ela olhou para mim com os olhos brilhantes por lágrimas.

Carla: Para qualquer lugar longe de mim — dessa vez se moveu. Tentou esconder um pouco o rosto de mim colocando os cabelos em frente à cara.

Arthur: Sinceramente, não entendo porque tem tanta coisa contra mim se tudo o que faço é tentar te agradar. Caramba, eu me desdobro em cem pra atender a todos seus pedidos e é isso o que ganho?

Carla: Não é só você Arthú! — se sentou direito e me encarou ajoelhado do seu lado — São todos! Ontem me dei conta de que não tenho ninguém além da Maria Clara! Ninguém! Ninguém que se importe comigo, com meus sentimentos, com aquilo que me rodeia... — secou mais uma lágrima.

Arthur: Como assim? — sorri ironicamente — E seus pais? E sua família? E seus amigos ricos e poderosos? E Gilberto?

Carla: Gilberto é o único que se preocupa um pouco... O único! — silabou — Meus pais estão viajando e, se quer saber, desde que fiquei grávida meu pai nem olha direito na minha cara! Me despreza porque assim como você, acha que sou uma vadia! — abri a boca, mas ela continuou a todo vapor — Amigos? Oh! Por favor! Todos são falsos, todos só gostam de mim pela droga do meu poder... Porque sabem que não existe ninguém tão boa quanto eu no que faço. Tive que abrir mão de tudo quando fiquei grávida, porque os idiotas que se diziam meus amigos desapareceram num piscar de olhos! Sou sozinha... Completamente sozinha!

Arthur: Vamos com calma ok? Porque do jeito que fala é como se você se arrependesse de ter a Maria Clara — me deteve no mesmo momento e pensei que iria me bater.

Carla: Não me arrependo da minha filha um só segundo — apontou o dedo na minha cara — Porque chances de ter me desfeito dela não faltaram! Pode não ter sido no primeiro momento, mas a decisão de ficar com o bebê fui eu quem tomou, ninguém esteve do meu lado!

Arthur: Então qual é o problema?

Carla: Ninguém liga pra mim... Muito menos a única pessoa que gostaria que ligasse! — tossiu baixinho — Porque sou uma vaca!

Arthur: Não, você não é uma vaca! — toquei seu rosto num impulso — Mas a culpa de ninguém ligar para você é totalmente sua.

Carla: Como assim minha? — aos poucos foi ficando menor, como se o muro envolto a seus sentimentos fosse se quebrando junto a seu coração ferido.

Arthur: Você afastou a todos! — murmurei — Você fez a escolha de ter a sua filha e percebeu que você escolheu as pessoas erradas para serem suas amigas. Se fossem as certas, estariam aqui até hoje — seus olhos estavam pregados em meu rosto — Seus pais estão do seu lado, só não estão aqui e agora. Eles te amam. E sobre todo o resto... — suspirei — Carla... Aqui na Delux existem pessoas maravilhosas! Thaís, Gustavo, Gilberto, Melanie, Beto... São incríveis! Thaís é maravilhosa e apesar de tudo, te admira muito! Gustavo tem ótimo senso de humor, Beto é tão inteligente, Melanie só faz agente dar risada... — sorri — E para esse pessoal, para esse mundo todo, você se fecha. Fica presa nessa imagem de poderosa, rainha, chefe e soberana... Ao invés de viver, se exclui. Entendeu como é?

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