Capítulo 44 :

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CARLA

Era ridículo ficar fugindo dele assim, mas o motivo pelo qual o fazia era a resposta que tinha medo de ceder. Apaixonado por mim. Dava para acreditar? Sempre fui uma grossa, uma sem escrúpulos com ele e era assim que me retribuía, com paixão? Meu coração também estava arrebatado, mas era uma difícil escolha decidir me entregar de vez. Envolveria a mim, a meu coração partido e desiludido e ao mais importante... Maria Clara.

Maria Clara: Mamãe... Estou com medo! Será que podemos ligar para o Arthur para ele vir aqui também? — absorta, a olhei pelo retrovisor sentada no banco de trás em sua cadeirinha. Apertei mais o volante contra meus dedos.

Carla: O que o Arthur vai mudar nessa situação, Maria Clara? Já falei que não vai acontecer nada, apenas vão tirar o seu gesso, querida... — expliquei da forma mais doce que pude, porém a vi se agarrar mais ao paninho rosa que carregava.

Maria Clara: Por favor, mamãe! Eu quero o Arthur! Liga pra ele... — insistiu com a voz chorosa.

Maria Clara não era uma criança teimosa e nem daquelas que mente para conseguir o que quer, e não vi porque aqui seria diferente. Se me dizia que estava com medo e queria seu Arthur, ligar para ele não iria me matar. Observei-a novamente no banco de trás. Estava quietinha olhando pela janela, mas ainda havia insegurança em seus olhinhos verdes. Peguei o celular e suspirei caçando o numero dele.

Arthur nem pensou em recusar. Assim que ouviu minha voz já estava contente, porém ficou quase em surto de felicidade quando falei que estava sendo requisitado por Maria Clara no hospital. Chegou em recorde de cinco minutos depois de nós duas. Beijou meu rosto com calma e sorriu agradecendo por ter ligado. Assenti parada aos pés da maca onde minha filha estava sentada.

Maria Clara: Não vai doer mesmo? Sem agulhas?

Arthur: Sem agulhas! — garantiu deitado ao lado de Maria na maca grande.

Sentei-me na poltrona do outro lado do quarto e apenas observei a cena. Os dois se completavam de um jeito ridiculamente perfeito, quase como se fossem da mesma família.

Maria Clara: Promete? — se olharam ao mesmo tempo e quase engasguei com isso. Arthur riu e piscou.

Arthur: Claro que prometo... Só vão tirar seu gesso, Maria  — respondeu beijando a testa dela.

Carla: Falei o mesmo para ela, mas se alguém aqui acreditasse em mim as coisas seriam bem mais fáceis! — abri uma revista que estava sobre a mesinha ao lado da poltrona.

Arthur: Que coisa feia não acredita na sua mamãe, Maria! — A repreendeu bem humorado — Por isso você merece cócegas...

Quando Maria Clara começou a rir histericamente e fugir das mãos dele, me concentrei na revista tirando minha mente de sintonia. Simplesmente porque abri em uma página que me chamou totalmente a atenção. O titulo era nada mais nada menos do que "Inseminação Artificial". Ao reler a capa, percebi que a revista toda era sobre o tema. Método, implicações e resultados. Engoli o ar e folheei mais um pouco. Havia a imagem de uma mulher grávida e ao lado explicando os cuidados extras na gravidez inseminada que me era muito conhecido, e na outra página... A figura de uma menininha e um rapaz lado a lado, com o rosto praticamente exibindo os mesmos traços e os olhos... Exatamente da mesma cor. "O pai resolveu aparecer! E agora?" Era o titulo da matéria. Li alguns trechos destacados.

"Ao ato de doação anônima, presume-se que o doador não irá querer participar da vida do futuro filho, deixando ao casal ou mulher solteira que adquirir seu produto a inteira responsabilidade sobre a criança. Mas se os anos passam e a consciência pesar... É possível que o pai apareça e tenha o direito de reassumir seu lugar? Em alguns casos, quem pode dar a resposta é o próprio filho em questão, dizendo se aceita ou não a presença do pai em sua vida. Já se a criança ainda não possuir idade suficiente para tomar tais decisões, cabe à própria família avaliar se será uma medida benéfica ou que causará danos ao desenvolvimento do individuo".

Parei de ler ai mesmo, pois o médico entrou e disse que iria tirar o gesso de Maria Clara. Não precisei dar apoio moral a ela, já que Arthur estava falando pra caramba ao seu lado, os dois rindo e puxando assunto com o doutor de forma bem humorada. Quanto mais olhava para a foto da matéria, onde estavam à menina e o rapaz, mais a comparava a cena que presenciava... Arthur e Maria Clara. Tão parecidos quanto os modelos da foto; os mesmos olhos, o rosto... Tão conectados! Suei frio alguns segundos, mas quando parei para pensar vi que a ideia era ridícula! O que vivi ali foram minutos de pura loucura, porque não existia essa possibilidade! Seria coincidência demais. Demais para ser considerada! Discretamente, coloquei a revista na bolsa.

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