Capítulo 98 :

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Carla: Sei que me julga uma grossa, uma estúpida, uma desalmada, que apenas pensa em si mesmo, mas não sou assim! — apontou para o próprio peito, ainda chorando. Respirou fundo e com a manga da blusa secou uma lágrima — Antes de pensar em mim, sempre pensei na minha... Na nossa filha! -– corrigiu-se sorrindo brevemente, mas ironizando — Nossa... É difícil me acostumar a dizer que ela é nossa, principalmente porque... — soluçou e voltou a falar — Por que... quando eu te conheci, quando me apaixonei por você, percebi que existem coisas mais importantes que o orgulho, que o dinheiro, que a fama, que o poder... — enumerava nos dedos — percebi que as pessoas que amo e que me amam são as coisas mais importantes e cara... eu jamais poderia te machucar de alguma forma, jamais poderia te afastar de Maria Clara, porque sei que você a ama mais do que tudo, que ela te ama mais do que tudo... E que eu te amo mais do que tudo também. Eu te amo. Isso explica suas perguntas?

Fiquei sem saber o que dizer mais uma vez. Mal conseguia desviar os olhos dela... A mulher que demorou meses para soltar um "Gosto de você"... me dizendo que me amava ali, dessa forma sincera e humilde?

Arthur: Eu aceito Carla. — não quis prosseguir... Fazê-la chorar mais? Sofrer mais? Para que? Entendi perfeitamente o recado. Eu te amo, mas ainda estou machucada. Não pode ser! — Muito obrigado! Não sei como agradecer...

Carla: Não agradeça, — deu de ombros, já mais calma — O passado já era. Temos que viver o presente... Não podemos punir a Maria Clara com nossos erros. — sorriu de canto parecendo aliviada. Deixou-me tocar sua mão desta vez.

Arthur: Eu também te amo. — anunciei olhando seus olhos — Será mesmo que ainda preciso dizer isso?

Carla: Eu sei, — apertou nossas mãos — Mas... A ferida ainda dói porque é recente demais. — afastou a mão delicadamente — Será que consegue me entender? Meus sentimentos nunca irão mudar, mas...

Arthur: Tudo bem. Eu entendo perfeitamente.

Não quis estender o papo. Iria doer tanto ouvir suas palavras e não poder argumentar, que decidi apelar para o assunto de interesse mútuo e que nos ligaria para sempre: Maria Clara. Almoçamos e discutimos como seria feito a intercalação de Maria Clara com nós dois. Carla me garantiu que um advogado de sua parte iria me procurar para realização do processo e dos papéis, deixando por minha conta decidir o quanto de tempo desejava ficar com Maria Clara.

Entramos em um acordo: Enquanto estivesse em seu ano letivo, Maria Clara passaria a semana com ela e os finais de semana comigo. Os feriados também. Em férias, Maria Clara ficaria comigo nos dias de semana e aos finais de semana e feriados com Carla. As coisas pareciam bem equilibradas, visando nossa vida corrida e as mudanças que Maria Clara sofreria. Avaliando aquilo tudo, desejei que logo pudéssemos voltar a ser uma única família e essa cláusula estabelecida entre nós fosse cortada. Maria Clara deveria viver com nós dois, já que o amor entre nós três era maior que tudo. Eu reconquistaria Carla e sua confiança em nome de Maria Clara. Em nome do amor.

Combinamos que Maria Clara iria passar o final de semana comigo e, sendo sexta de tarde quando saí da Delux em meu último dia como chefe, fui até o colégio da minha filha buscá-la para ficar comigo no sábado e no domingo. Algumas mães amiguinhas de Maria Clara vieram me cumprimentar. Apenas acenei, aguardando em meio à multidão de pais, a saída dos alunos. Não demorou e saíram em bolos... Fiquei espremendo os olhos para enxergar minha pequena, o que não foi tão difícil. Maria Clara possuía um brilho próprio... Percebi isso quando ela pareceu se sobressair em relação às outras crianças. Talvez fosse sua beleza... Os olhos verdes, o cabelo castanho, o modo gracioso como ficava no uniforme escolar... Ou o sorriso lindo que tinha no rosto e que se alargou mais quando me viu.

Saiu correndo em minha direção, pasma por minha presença. Correu agarrada às alças da mochilinha lilás, tropeçando nos próprios pezinhos calçados em sapatos pretos com meias brancas e longas. Abri os braços para recebê-la, uma vez que se agarrou em meu pescoço com força e envolveu meu corpo com as pernas.

Maria Clara: Papai! Você veio! — choramingava agarrada a mim.

Arthur: É claro que sim, filha... Eu e sua mãe conversamos e já está tudo acertado e... — notei que ela estava chorando — Maria Clara? — Me afastei para poder ver seu rosto, que encontrei banhado em lágrimas — O que foi? Por que está chorando?

Maria Clara: Porque estava com saudades, papai. — disse tentando secar uma lágrima — Pensei que mamãe não iria mais me deixar te ver.

Arthur: Ah meu Deus... — sorriu e sequei suas lágrimas — Maria... Eu e sua mãe já acertamos as contas em relação a você. — tentei explicar da forma mais clara que podia — Nós vamos nos ver sempre.

Maria Clara: Vocês voltaram a namorar? — soluçou ensaiando um sorriso.

Arthur: Ahm... Não. — dizer aquilo foi meio doloroso, mas era a verdade — Mas em relação a nós... está tudo bem. Mamãe e eu vamos dividir você e... boa notícia! Adivinha com que vai passar o final de semana? -– tentei animá-la.

Maria Clara: Com você? — sorriu largamente, deixando de chorar um pouco. Assenti com um sorriso cúmplice — Eba!

Arthur: O que pretende fazer? Vamos fazer tudo o que quiser! — comecei a caminhar com ela, indo na direção do carro. Estava mais feliz agora, pensativa em relação às opções que lhe ofereci.

Maria Clara: Vamos ver um filme de amor?

Arthur: Depende... Qual? — abri a porta do banco de trás e a coloquei sentada, ajeitando-se com o cinto de segurança.

Maria Clara: Titanic? — por trás daquele sorriso infantil vi a influência de Carla aflorando.

Arthur: Você só pode estar brincando, baixinha? — fechei a porta e dei a volta, sentando em meu banco — Que tal um desenho de amor? É mais apropriado para você. A Dama e o Vagabundo me parece legal... — olhei-a pelo retrovisor.

Maria Clara: Não quer ver Titanic pra não lembrar a mamãe? — passei a dirigir.

Arthur: Com ou sem Titanic vou lembrar da sua mãe. — a vi sorrindo — Não precisa usar seu poder comigo querida, sou o maior interessado em voltar com ela. Carla é quem está um pouco... Brava comigo — pigarreei sem querer tocar no assunto.

Maria Clara: Está bem... — revirou os olhos e chacoalhou as perninhas no ar lindamente — Vamos na casa da vovó? Quero ver o meu primo.

Arthur: Claro! — desviei a rota do caminho na hora, indo em direção à casa de minha mãe, apenas satisfazendo a vontade de Maria Clara.

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