Capítulo 27 :

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CARLA

Primeiro nem dormi por causa dele. Depois fiquei horas escolhendo algo gostoso e fácil para cozinhar, tentando impressioná-lo. Revirei a internet toda atrás do prato perfeito e achei uma lasanha do jeitinho que eu queria... Para iniciantes. Eram nove e meia da manhã e lá estava eu começando a preparar tudo. Maria Clara dormia, só acordou com a barulheira que fiz na cozinha ao chingar a empregada por ter folga aos domingos mais uma vez. Arruinei duas lasanhas até a terceira ficar perfeita, do jeitinho que estava na foto de exibição do site. Ufa!

Dez e meia e estava quase tudo pronto... Tomei banho correndo após ajudar Maria Clara a se arrumar, revirei o closet atrás de uma roupa legal e acabei ficando com o casual para um domingo à tarde, tentando fingir que Arthur não era especial. Droga, onde eu estava mesmo com a cabeça? Não via a hora de ele chegar, estava contando nos dedos... Onze e meia; pensei que havia nos dado o cano, mas a campainha tocou. Sai correndo atrás da chave e quando abri a porta...

Ele estava lindo. Mais do que pensei. Mais do que passei a noite imaginando. Mais do que no escritório... E sorria fácil. Me deu uma rosa. Derreti. Não uma rosa, mas uma rosa vermelha, símbolo da paixão, do desejo e do amor. Desmaiei. Fingi que era indiferente ao fato, mas na verdade estava dando pulinhos por dentro, cantando como se fosse meu primeiro beijo... Oh! Nem meu primeiro beijo havia sido tão maravilhoso quanto essa sensação!

Maria Clara colocou o nome de Eduarda no urso que ganhou, gesto que achei mais do que meigo da parte dele. Dar um presente a minha filha era um ato tão fofo, algo que me fez quase baixar a guarda, quase. Brigamos. É claro que brigamos, agente sempre discutia! E ele carregou a Maria  até a mesa de um jeito tão doce, era como... Como se ele gostasse de agradá-la, como se ambos se conhecessem a vida toda, como se tivessem uma conexão. Parecia ser a coisa mais natural do mundo ela sorrir para ele, ou ele ser um idiota para fazê-la sorrir. Algo que me assustou. Algo que mexia comigo demais. Arthur fazia a Maria Clara feliz.

Arthur: Até que posso engolir isso — Ele estava comendo e pela sua expressão, apreciando!

Maria Clara: Está uma delicia mamãe — disse mastigando — Mesmo, mesmo!

Carla: Obrigado filha — Arthur riu baixinho quando ressaltei o obrigada.

Maria Clara: O Arthur também acha o mesmo, ele só está dizendo isso pra brincar com você... — sussurrou de modo meigo.

Arthur: Hei mocinha esperta... — Em um gesto altamente sem educação, enfiou o dedo no molho de sua lasanha e passou na bochecha de Maria Clara — Fica quietinha ai, ok?

Teria me chocado se ela não tivesse rido demais e feito à mesma coisa com ele. Pareciam tão felizes, tão completos... As horas poderiam passar tranquilas, porque nenhum tempo era longo demais para apreciar essa conexão estranha entre minha filhinha e meu altamente desejável secretário.

ARTHUR

Arthur: Sabia que tenho um sobrinho?

Maria Clara: Tem é? Quantos anos ele tem?

Maria Clara estava praticamente dormindo deitada no meu colo. Seus olhinhos estavam pesados, sua cabeça descansava sobre minha coxa. Estávamos tocando violão há dois minutos, quando ela começou a coçar os olhos e bocejar. Fiquei apenas brincando com as cordas, fazendo uma melodia leve com medo de machucá-la com o violão também no colo.

Arthur: Tem três.... — sorri — É filho da minha irmã Thaís.

Maria Clara: A Tia Thaís que trabalha com a minha mamãe é sua irmã? — Sorri.

Arthur: Não. É outra Thaís, os nomes delas são iguais.

Maria Clara: Hum... O seu sobrinho tem papai? — Carla entrou na sala nesse momento; se sentou e ficou olhando a cena.

Arthur: Não. O papai dele foi embora antes de ele nascer — continuei a beliscar as cordas do violão — Vocês dois tem muito a ver. Falei que iria te levar pra brincar com ele um dia... Sou como o pai dele, entende? Faço o que um pai faz para ele.

Maria Clara: É? Aposto que eu te amo mais do que ele — seu tom de voz era sonolento, pesado.

Sorri e olhei para Carla nesse momento. Seu rosto estava focando em Maria Clara cheio de ternura. Em segundos ela estava dormindo em meu colo...

Carla: Essa menina viu... — coloquei o violão de lado e ajudei Carla a tirar Maria Clara de cima do meu colo. A deitamos no sofá e ficou um clima meio estranho... — Dormiu bem na hora da sobremesa.

Arthur: Isso não é problema. Ainda estou aqui — continuei fazendo uma música baixinha sentado ao lado de Maria Clara adormecida.

Carla: Ainda está — Ela revirou os olhos e suspirou.

Arthur: E não me importo de comer uma sobremesa... — sorri— Sabe, é a melhor parte.

Carla: Pois é... Se quiser comer vamos à cozinha, porque se sujar a minha sala eu te mato! — fiquei de pé quando ela saiu de vista; a segui e fomos parar na cozinha, que estava brilhando de limpa. Deve ter sido por isso que ela demorou tanto para voltar a sala comigo e com a Maria.

Arthur: O que temos pra hoje? — me sentei no banco em frente ao balcão. Carla tirou da geladeira um pote grande — Pavê?

Carla: De chocolate. É o favorito da Maria Clara — depois de colocar a vasilha em frente a mim, pegou dois pratinhos no armário com agilidade.

Arthur: O meu também.

Carla: Vocês dois tem muito em comum — Sem que eu lhe pedisse, serviu pavê para nós dois.

Arthur: Já percebi isso também — comi um pedaço — Está maravilhoso.

Carla: Fui eu quem fez — olhei para seu rosto e vi certa vergonha ali. Devia estar assim pelos meus comentários no almoço. Abaixei o braço e sorri de lado para ela.

Arthur: A sua lasanha estava ótima. A salada também, o suco... E o pavê não é diferente — falei humildemente; seus olhos não me encaravam, estavam fixos no seu pavê, que ela revirava sem comer realmente.

Carla: Está querendo puxar meu saco? — ela ergueu uma sobrancelha e levou a colherzinha aos lábios.

Arthur: Não preciso; me odeia de qualquer jeito — sorri e ela também.

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