Capítulo 6 :

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ARTHUR

Beatriz: Então ela é folgada? — enquanto batia a massa do bolo, ela sorriu para mim.

Arthur: Completamente folgada... A senhora precisa ver mãe! Metida, anda de queixo empinado, acha que pode... — imitei sua forma de andar — E o pior é que a mulher é gostosa!

Beatriz: Ai filho — continuava rindo encostada a pia — E você vai aceitar o emprego? Olha lá rapaz... Sabe muito bem que esse trabalho é importante, é um sonho que você tem... — me olhou de forma ameaçadora.

Arthur: Pode ser um sonho mãe, mas não pretendo aguentar essa megera por sonho nenhum! — sentei na cadeira que puxei e suspirei apenas com a lembrança que tinha dela.

Beatriz: Desafios são feitos para serem superados, Arthur. Vai ver essa mulher precisa de algo na vida dela que ainda não encontrou. Talvez possa entrar na vida dela e a ensinar que nem tudo se conquista com a imposição... Todos têm o lado bom e o lado ruim. Essa tal de Carla deve ter seu lado bom, não é?

Fiquei olhando o rosto de minha mãe daquele jeito tão meigo e pude ver em suas palavras um pouco do que Carla foi com Maria Clara. Doce. Boa. Mãe. A única coisa boa que vi nela.

Arthur: Não acredito que possa existir luz em meio aquela treva — ironizei.

Beatriz: Não podemos simplesmente apontar o dedo e dizer o que a aparência sugere, querido — dessa vez ela estava me repreendendo ao mesmo tempo em que limpava as mãos no avental xadrez vermelho que usava — Não sabe o que se passa na vida dela, o que aconteceu a ela no passado que a levou a ser desse jeito!

Arthur: Então o que a senhora acha que devo fazer mamãe?

Beatriz: Aceite o emprego, vá lá e faça o seu trabalho! Não vai precisar de mais nada. Se fizer tudo direito não haverá motivos para essa moça te repreender — A ideia me parecia absurda — Mostre a ela que você é capaz...

Simplesmente ri das palavras de minha mãe. O que ela estava dizendo? Carla iria tornar minha vida impossível... E... Minha vida já não era impossível? Já não era desprezível?

Entrei em meu apartamento e coloquei um pouco de suco no copo, parado perto da janela, olhando a cidade de cima e imaginando porque fiz tanta besteira a vida toda. Porque não parei numa Empresa só? Porque não me casei? Claro, ainda era tempo uma vez que tinha apenas 27 anos...  Pensei na pequena Maria Clara, em seu sorriso... Porque não tive filhos? Doei meus espermas na adolescência, eu poderia ter alguns espalhados pelo país, mas... Porque sempre fui cair no laço das mulheres erradas? Atualmente, enquanto meus velhos amigos eram importantes para as esposas, para as crianças, para o trabalho... Eu não era importante para ninguém que não fosse minha mãe.

Era hora de aceitar o desafio que a vida me impunha. Era hora de crescer, de ser importante para alguém... Mesmo que esse alguém seja uma mulher de um metro e meio que acha que é a dona do mundo e fará de tudo para me levar ao inferno um pouquinho cada dia.

Era hora de atentar o diabo.

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