CAPÍTULO LV

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Natasha me olhava com olhos assustados e atentos. Sua respiração profunda estava mais acelerada e seus lábios entreabertos. Ela não se mexia. Sentada no sofá, apenas me encarava na expectativa, aguardando. Eu não estava tão certo de que deveria revelar aquela parte da história, mesmo sabendo que não dizia respeito a mim, era uma parte obscura do passado de Peggy e envolvia Sharon.

— Quando conheci Sharon ela ainda era muito nova. Estava na faculdade e não sabia como conseguiria seguir em frente e salvar a sua vida. Eu procurava por uma pessoa. Acabei me envolvendo em mais uma armação de Peggy. Uma que conseguiu tirar o meu chão, mas que não vem ao caso agora. Não foi por acaso que encontrei Sharon, ou Emily, seu nome verdadeiro.

Natasha ficou espantada. Seus olhos se abriram, surpresos, e ela tentou dizer alguma coisa, mas se deteve quando viu que eu parava de contar. Então engoliu em seco e apenas aguardou.

— Abraham, pai de Peggy, era um homem que valorizava a família. Sustentava uma imagem de pai maravilhoso, marido exemplar, no entanto, tudo não passava de fachada. Não posso negar que como pai ele até se esforçava, apesar de achar que seu amor excessivo foi o responsável por destruir Peggy. Como marido, ele deixou muito a desejar. Resumindo, ele teve um caso com uma de suas empregadas, Kara era o nome dela e este caso gerou uma filha, Emily, ou Sharon como você a conhece.

— Então Sharon...

— Isso, Sharon é irmã de Peggy – ela ficou confusa. Levou as mãos para sua boca, em choque. — Ela usa um nome falso. Ela precisou.

— Por quê?

— Para se proteger de Peggy. Quando Kara engravidou, a mãe de Peggy descobriu. Sua saúde já era frágil, depois descobrimos ser uma consequência das decepções causadas pelas traições constantes do marido. Então Abraham preferiu tirar Kara de cena levando-a para longe, Long Lake. Foi lá que Sharon nasceu e foi criada.

— Por que ela precisava se proteger de Peggy? – Natasha estava atemorizada. Ela sabia tudo o que Peggy já havia apontado com sua amiga, sem sequer imaginar a verdade.

— Aos 18 anos Peggy descobriu tudo. Nós já namorávamos, ela estava terminando o colegial e se preparado para a faculdade. Eu não desconfiei de nada. Ela nunca me deu nenhuma dica, nunca mudou sua maneira de agir nem demonstrou que passava por algum problema. Só descobri depois que sua mãe, que havia falecido alguns anos antes, havia deixado um diário como parte da herança e nele constava a existência desta irmã.

Fiz uma pausa pensando na melhor maneira de contar o que aconteceu. Natasha permaneceu calada, sua respiração acelerada e ela torcia as mãos uma na outra, típica reação de nervosismo dela.

— Não sei como ela armou tudo, mas sei que Peggy conseguiu encontrar Kara e Emily, que estava com 07 anos. Elas viviam em uma casa simples, boa e segura, sustentadas por Abraham, que amava a filha e a assumiu. Ele mantinha as duas famílias e fazia o possível para conviver com ambas. Ela viajou durante um final de semana, hoje eu acredito que aconteceu quando eu fiquei preso em uma reunião, e ela quis viajar com as amigas. Na época não vi motivos para desconfiar e nem percebi a mentira sua armação. Peggy foi até a casa de Kara. O que sei desta parte foi contado pela Sharon. Ela era muito tímida, e se escondia todas as vezes que algum estranho chegava. Naquele dia não foi diferente. Ela correu assim que ouviu a voz desconhecida, ficou atrás do sofá enquanto a mãe recebia a visita na sala. Sua prima, a verdadeira Sharon, morava com elas, depois da morte da mãe, vítima de um latrocínio. Eram apenas as três de uma família pequena. Kara e Emily eram tudo o que lhe restava. Peggy não escondeu quem era e nem poupou ninguém da sua ira. Ela acusou Kara de ser a responsável pela morte da mãe, deixou claro o quanto odiava a ela e a irmã além de ameaçá-la violentamente, caso não retirasse a paternidade de Abraham da certidão de Emily. Ela deixou claro que não dividiria a herança, com as duas.

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