O Ladrão Do Deserto

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Lin comercializava tecidos com sua mãe para os moradores de Ahnatnom e por entre os povoados do reino. Não eram tecidos nobres, eram retalhos. Eles não tinham condições de ter animais de lã para a produção das peças, por isso reutilizavam pedaços que as pessoas das principais ruas da capital jogavam fora, para confecção de novos. Muitos eram os dias de trabalho, mas pouca a recompensa sobre eles.

Até o dia que tudo mudou.

Perderam tudo num roubo que sofreram no caminho de volta para casa. Somente o carrinho de madeira ficou para trás, nem mesmo os animais que o puxavam permitiram ficar com eles.

Tiveram que sair dali, não importava para onde. Indo para um lugar seguro, ou qualquer que fosse esse lugar, já bastava.

Mergulharam na vastidão do deserto. O calor de dia e friagem de noite não os fizeram fraquejar, só os fortaleceram, mesmo com todas as circunstâncias. Principalmente para Lin, que assumira toda a responsabilidade de cuidar da mãe, depois do fato ocorrido.

O pesado fardo das lembranças sobre a situação trágica que passaram, sem ter conseguido fazer nada, não o deixava dormir. Ainda assim, com todo o ambiente hostil que Ahnatnom proporcionava, Lin manteve sua esperança viva sobre aquela imensidão arenosa.

Caçar não foi uma opção, mas sobrevivência. Lin aventurou-se sobre as dunas para trazer o sustento até sua tenda, próxima a uma caverna, auxiliado de uma arma totalmente primitiva que ele mesmo fizera; uma longa, mas curvada parte óssea de um animal que tinha capturado, amarrada ao seu final com algumas faixas do tecido da própria roupa, facilitando assim o seu manuseio. Uma arma extremamente afiada.

Em uma de suas caçadas, presenciou algumas pessoas, mercadores do deserto, a serem roubadas. Rapidamente lembrou-se do que ocorrera com ele e sua mãe. Atacou os ladrões e recuperou os pertences daquelas pessoas, que o agradeceram.

Lin presenciou muitos ataques quando saia de casa para caçar. Isso revoltava-o, por isso decidiu agir igual: roubar. Não como os ladrões agiam, mas de uma maneira diferente. Lin não aceitava que poucos tinham muito e muitos não tinham nada.

Depois do primeiro roubo a um renomado general no caminho aos vários povoados, Lin não parou mais. Todas as vezes que voltava a tenda depois de uma caçada, alguém em algum lugar alegrava-se novamente com os presentes que lhes eram submetidos. Mesmo as areias de Ahnatnom engolindo tudo que viam pela frente, ele saiba da responsabilidade que tinha; trazer esperança para um povo sofrido, maltratado pelo impetuoso deserto e pelas criaturas que viviam nele, tanto as selvagens, como as de pés e mãos. 

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