Respeito. Todos merecem respeito. Amor. Quem não quer ser amado? Laudicéia maravilhava-se com tudo isso e muito mais, se é que podia haver mais. Huugo trouxera isso a ela e sua filha, Diana, de manchas brancas por sobre a pele, mas muito longe de tirar a beleza de ébano do seu corpo. Seu relacionamento anterior não foi nada fácil.
Mesmo vivendo cercados pelas areias de Ahnatnom, o povoado de Haman, a sudoeste do reino, mantinha-se firme, assim como os pais de Diana, que procuravam ter um sorriso no rosto diante as lutas sobre essas terras áridas.
O padrasto ganhou o coração de Laudicéia, porque aceitou a "diferença" de Diana, ele também era assim, não tanto como ela, mas traziam semelhanças em seus corpos.
Diana gostou do seu novo pai. Muito respeitoso e amoroso com ela e sua mãe. Não deixava nada faltar em casa. Claro que não foi fácil acostumar-se com um estranho e suas manias, o medo de vivenciar doloridas lembranças falava mais alto, mas tudo isso era silenciado com o jeito carinhoso que Huugo tratava-as.
Assim como as areias do deserto vão de um lado para o outro, revelando as coisas, até então ocultas, Huugo revelara-se como realmente era.
A casa quente de amor, tornou-se fria e triste. O ciúme doentio e a agressividade de Huugo espalhou-se por todo lar. As lágrimas de Laudicéia falavam por ela e sua filha. Elas não estavam aguentando mais.
Numa das várias brigas, Laudicéia escondeu Diana e enfrentou o marido, mas foi inevitável. Huugo era mais forte que a tecelã. Permaneceu em pé, enquanto a mulher no chão. Diana de onde estava conseguiu ver e algo aconteceu; suas mãos brilharam intensamente. A luz espalhou pela casa toda, como se o sol estivesse dentro daquelas paredes de pedra.
Descobrindo o esconderijo da menina, Huugo foi atrás dela. Temendo ser pega, Diana colocou as mãos diante o corpo para proteger-se, brilhando mais uma vez e cegando o opressor. Rapidamente saiu correndo, chorando e chocando-se com Huugo que caiu, batendo sua cabeça fortemente.
Diana lançou-se ao deserto.
O abrigo que fizera no desfiladeiro com alguns galhos e folhas das poucas árvores que encontravam-se na região e a lamina d'água ali próxima, manteve-a viva nas semanas que passaram-se.
Várias pessoas em fila indiana, trouxeram-lhe alívio, pois estavam sendo guiadas por soldados de Ahnatnom. Eles ofertavam uma melhor qualidade de vida pelos povoados próximos e aqueles que aceitavam, seguia-os, ficando protegidos atrás dos enormes muros do reino, contra as criaturas do deserto e das fortes tempestades de areia que consomem tudo em seu caminho.
Diana seguiu as pessoas.
Não foi fácil viver na ruas do reino sem conhecer ninguém, pelo menos estava protegida. Isso a fazia se sentir melhor quando olhava por essa maneira.
Diana não fugia de envolver-se com vários tecidos em seu corpo, protegendo-a do forte calor, mas acima dessas vestimentas, estava o medo, o sentimento de ser rejeitada, esquecida, ser uma pessoa invisível.
Não saberia o que fazer sobre a reação das pessoas em relação as machas brancas na pele. Tão comuns pra pra ela, mas estranhas e marcantes nos olhos dos outros.
Por isso escondia-se. Contudo, não era tão oculta assim.
As passagens de Diana entre as tendas das principais ruas do comercio e também na entrada da cidade, estava sendo conhecida por olhos que a observava já alguns dias; furtando algumas frutas aqui, tecidos por ali, e claro, sem falar do esconderijo entre uma viela, bem afastada, a esquerda da grande praça central, na qual, uma enorme fonte de agua desagua incansavelmente todos os dias, bem a frente do belíssimo palácio.
Entretanto, Diana não soube dizer o que estava acontecendo sobre suas idas e vindas nas ruas, entre as casas e sob as tendas, quando tecidos bons, de uma costura e acabamento refinados, começaram aparecer na sua moradia, assim como frutas belíssimas e suculentas. Porem, estava feliz por ter o que comer e vestir. Mas acima disso tudo. Alguém não a tinha rejeitado.
Sua desconfiança e bem lá no fundo do seu coraçãozinho, um pouquinho de alegria, caminharam com ela pelos dias que se seguiram, na esperança de talvez, só talvez, encontrar a pessoa que estava ajudando ela, ajudando a não mais se sentir sozinha, invisível em meio as areias do deserto. Mesmo que só tenha avistado o vulto por poucos segundos. Seu jeito de andar e até mesmo o sussurrar de sua voz grossa.
Quando foi um certo dia, um homem do exército presenciou a garota machucando-se ao tropeçar-se sobre o chão arenoso, carregando alguns utensílios e um rápido feixe de luz na cor dourada aparecer no local do ferimento, sendo tampado por ela com um tecido em inúmeras voltas.
"Está tudo bem? "
Ela não respondeu.
"Eu sou Jack" – disse o homem quando tirou o capacete e estendeu a mão.
Os olhos de Diana não acreditaram.
Ao ouvir a voz daquele homem alto e imponente ajoelhado diante dela, prontamente reconheceu-o. Essa era a pessoa dos tecidos, das frutas... Esse era o homem que ela sonhava encontrar. Esse era o homem que a ajudava... Jack... Aquele que a fez não ser mais invisível.
Diana aceitou-o, jogando-se sobre ele e abraçando-o, porque ele aceitou-a primeiro. A resposta veio sem demora. Os braços do militar envolveram-na.
Jack, o General, tornou-se seu tutor. Seu pai. Seu novo pai.
Diana ganhou um novo lar.
No convívio com os nobres, as pessoas do palácio, Diana foi descobrindo um pouco mais sobre si, aquilo que podia fazer. Proteger, proteger as pessoas. Fortalecer aqueles que sentiam-se fracos, apenas com o agir de suas mãos.
Dias passaram-se e Diana começou a ser chamada de A Iluminada.
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The Guardians
FantasyO universo de "The Guardians" é repleto de fantasia, no qual, encontra-se bondade, maldade, companheirismo, individualismo. Por ironia, sorte ou azar, eles foram selecionados minuciosamente com habilidades distintas pelo destino. Explore esse unive...