A Neve Que Cavalga

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Depois da profunda escuridão que engoliu o horizonte de Hurander, tirando a esperança dos seus moradores, ficando conhecida como A Noite Eterna, a normalidade voltou novamente. Não a normalidade de tempos passados, mas um Novo normal, no qual, trazia nome e título: Kahafazz, o Chefe Tribal.

A expansão da tribo de Elfgar, liderada pelo seu chefe, avançou as fronteiras daquelas terras brancas. Entretanto, uma maneira nada aceitável pelos moradores das tribos vizinhas, que viram perder suas áreas de caça para Kahafazz. Sem terem outra escolha, a não ser, submeter-se a ele para não passarem fome.

Numa dessas tribos, Rovnaal, a leste de Elfgar, dominada pela autoridade de Kahafazz, trazia entre seus moradores, Ma'ari, uma jovem de pele como o leite, cabelos semelhante a prata, escorridos sobre seus ombros. E olhos lembrando o céu sem nuvens, viu o pouco que tinha, ser levado diante de si.

Ma'ari não era de nenhum homem. Porque por sobre aquelas terras, não existe casamento. Existe pertencimento. Quando um homem e uma mulher ajuntam-se, a mulher pertence ao homem. Mesmo não aceitando a ideia da sua mãe de pertencer a alguém, a jovem não deixava de observar como eles manuseavam suas armas, lutavam, caçavam... Interesse amoroso? Muito longe disso. Seu objetivo era a liberdade, a independência de sua família, seu povo.

Por sobre os membros da tribo, corria-se a história de um animal lendário, de poderes sobrenaturais.... Uma história, é claro, que os anciões contavam aos membros da tribo nos encontros em volta da fogueira. 

Guerreiros foram atrás desse animal buscando seu poder, não retornaram.

Ma'ari não queria mais viver daquele jeito; de depender de alguém para comer, sobreviver. Já não bastava o mundo em que ela vivia, ainda tinha que suportar isso? Ela queria as terras para caçar de volta, mesmo que o alimento fosse escasso, era uma forma de sentir-se livre para ir e vir.

Então, certa vez, saiu sorrateiramente atrás desse misterioso ser. Pegou escondida de algum guerreiro, uma arma, na qual, em sua extremidade, constituía-se de duas plataformas quadradas. Um imponente Martelo-de-duas-mãos.

Se essa era a forma de libertar seu povo, assim seria feito.

Longo foram os dias, semanas e meses na procura por esse ser, e nada. Mas quando a esperança estava para esvair dos seus dedos, o encontro veio.

O animal mostrou-se a poucos metros à frente. Era quase que imperceptível atrás dos pinheiros brancos. O riacho prontificou-se em servi-lo.

Ma'ari segurou firmemente em sua arma. Mas quando deu um passo à frente, ele a olhou.

A jovem paralisou-se. Nada ao seu redor movia-se. O imponente martelo caiu em seus pés. Suas forças não existiam mais. Logo em seguida, seus joelhos foram ao chão.

~~

Um grupo, liderados pelo pai de Ma'ari, saiu para caçar. O pensamento do guerreiro foi apenas uma desculpa para tentar encontrar a filha que não tinha retornado para casa ainda. Muitas foram as luas a sua espera. Mesmo com toda a dificuldade, conseguiram pegar alguma coisa. Sabiam que estavam agindo de forma desobediente. A caça para eles estava proibida. Kahafazz assumiu esse fardo de alimentá-los. Mas eles, como muitos outros, não aceitaram aquilo.

No caminho de volta para a tribo, foram surpreendidos por membros de outras tribos aliados do Chefe Tribal. O confronto, é claro, foi inevitável. Porém, no meio daquela luta, uma forte rajada de vento passou no meio deles. O pai de Ma'ari viu seu inimigo receber pedaços de gelo, semelhantes a pontas de flechas sobre o corpo, e cair no chão. Mais uma rajada de vento, outro corpo ao chão. Mais outra, e outra. Dois corpos sobre a neve. O grupo permaneceu ileso, nem mesmo um arranham sequer mostrou-se em seus rostos.

Somente um dos inimigos permaneceu de pé. O corpo inerte. Seus olhos, fixos em uma única direção.

O pai de Ma'ari, girou em seus calcanhares para onde aquele homem estava olhando, e todos viraram também.

Aquele que era tido como uma lenda, abriu passagem entre os galhos dos pinheiros, mas não estava só. Sobre suas costas, o Alce-das-montanhas inteiramente branco, trazia Ma'ari, empunhando o imenso martelo em sua mão direita.

Seu pai espantou-se.

Ela aproximou-se daquele homem, e ficou parada diante dele por alguns segundos. Seus olhos totalmente azuis, estavam fixos nele e os dele, nela. Ma'ari não fez nenhuma reação.

De repente, aquele que estava como uma estátua diante dela, ajoelhou-se e foi de cara ao chão. A vida não existia mais em seu corpo.

Aquele dia não foi mais o mesmo.

Ma'ari não era mais a mesma. Ela tinha ganhado um novo nome.

A neve que cavalga.

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