A Fênix

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Keyla estava viva, graças a um homem montado, de face envelhecida, mas de presença imponente que a encontrara toda coberta por cinzas na beira da estrada, perdida. Velfhus, O Líder dos Escarlate, era seu nome. Ele a colocou sobre a garupa de seu Leão-de-basalto e a levou até o reino de Nidon juntamente com o esquadrão escarlate que o acompanhava.

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Acostumar foi relativamente fácil, mais fácil do que Keyla esperava. Sim, levantar cedo ainda continuava rotineiro, mas a adaptação não estava na rotina do lugar, mas sim, nas pessoas que viviam nele. Isso foi o que marcou Keyla. Pois ali no campo de treinamento dos Escarlate, todos eram iguais. Todos tinham marcas, cicatrizes. Uma mancha impregnada na pele.


Manchas. "A manchada", esse era o nome impregnado nos seus pensamentos, que ganhara das crianças da Casa De Kaphia.

Viver em um local que você não é aceito, é o mesmo que morrer todos os dias. Isso matava Keyla. Matava. Não matava mais.

Somente as cinzas restaram do lugar que a zombaram, e como ela falava: "Cinzas não podem te machucar."

Esquivou-se e logo em seguida soltou outro golpe na horizontal, desta vez, da esquerda para a direta com sua lança, ou como os soldados nidonianos falavam: "Você não escolhe a arma, é escolhida por ela."

"Eles não poderão mais me matar." - pensou ela. "Estou livre agora." - dando mais um golpe.

Em seu treinamento matinal nos Escarlate, o primeiro esquadrão do reino de Nidon, em cada mover de sua arma, Keyla voltava em lembranças sobre seu passado, algumas eram suportáveis, mas outras...

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Certa noite, quando a chuva caía forte e raios espalhavam-se no céu, Keyla treinava arduamente com um nidoniano sobre o barro formado pela chuva que caía. Seus pés, assim como os dos outros que ali estavam, levantavam a água amarronzada das poças quando pisavam em movimentos ágeis e precisos.

Golpes na horizontal, golpes ascendentes misturavam-se com o trovejar do céu.

Mas, de repente, as lembranças retornaram mais pesadas: os rostos, as risadas, os xingamentos...

Seu corpo começou a esfumaçar sob a chuva que caía. Os golpes mais pesados. Pequenas labaredas surgiam e dissipavam-se sobre sua pele.

"Keyla... Keyla, o que está acontecendo?" - disse o soldado assustado indo para trás, defendendo-se.

As labaredas foram aumentando de tamanho e a saírem com mais frequência do corpo dela, mais precisamente das costas, onde tinha uma concentração maior de calor.

Golpes e mais golpes.

Ela não ouvia o que o soldado estava lhe dizendo.

Chuva, raios e trovões ainda demonstravam sua presença.

Os outros soldados assustaram-se com o que estavam vendo.

Numa fração de segundos, asas nasceram das costas de Keyla. Asas de fogo. Todo seu corpo queimava sobre a armadura negra que a revestia, como se fosse mil fornalhas acesas. A lança que estava na posse de sua mão direita ardia em chamas. Seus golpes descendentes contra o soldado nidoniano eram avassaladores.

"Não! Keyla, não! Para!" - disse o soldado arrastando-se com seu escudo sobre o corpo.

Mesmo com a forte chuva, o fogo que emanava dela não se apagava, brilhava e queimava intensamente.

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