O Perfume Do Deserto

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As pessoas amanheceram agitadas naquela manhã. Era dia de show. Espetáculo. Dia de sorrisos e lágrimas. Dor e prazer. Os prisioneiros já estavam sob a grande arena, em suas celas. Eles eram trazidos por seu General e os mercenários ligados a ele. Dentre eles, destacavam-se os Irmãos-do-deserto, Layla e Abilan, que varriam as areias de Ahnatnom e muito mais além, para satisfazer os desejos do rei e do povo. 

Soldados passavam sobre eles trazendo comida e bebida. O medo estampava no rosto de cada um, pois sabiam que, naquele dia, quando o sol já estivesse bem inclinado, eles teriam que lutar por sua liberdade, mesmo que para muitos deles, a culpa nunca tivesse coberto seus rostos.

O rei gostava disso. Gostava de bolsos cheios e prazer. Um prazer cruel, desumano.

Ele agitava-se sobre o trono cercado por seus conselheiros; ansioso para a hora tão esperada.

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Depois de caminhar sobre os andares dos jardins, Nilla retornou para seu quarto. Sentou-se sobre uma das largas almofadas e pegou o livro da mesinha. Abriu e folheou suas páginas. Muitos desenhos. Uns grandes e outros pequenos. Uns com cores, enquanto que outros mostravam-se apenas nos rascunhos. Todos sobre plantas e flores. Mas no meio de tanta imagem, uma lhe chamou atenção. A figura de uma flor. Nunca tinha visto uma flor daquele jeito; tão pequena, tão frágil, mas muito bonita. Sua cor púrpura enchia seus olhos. Anotações aparentemente muito bem detalhadas foram feitas ao lado dessa espécie. Nilla começou a ler palavra por palavra. Frase a frase. Linha após linha...

Ela não percebeu, mas seus olhos ficaram violetas. Raízes brotaram do chão e ramos desceram do teto. Poucos foram os segundos até encontrarem-se com ela e envolverem o seu corpo.

~~

O rei da sua cadeira, levantou-se. Abriu os braços. Os portões da arena ergueram-se. Várias pessoas correram em direção ao centro para pegar as armas sobre a mesa.

Sophi percebeu que não era todos dispostos a lutar, estavam com medo. Como de costume. Defendeu-os. Entre eles, começou a ser chamada de O Escudo do Deserto. Porém, como da última vez, isso não agradou os espectadores e também o rei. Principalmente o rei. Eles queriam ver o show que lhe foram prometidos.

O rei ordenou para lutarem, mas isso não aconteceu. O resultado foi a saída da população da arena.

O soberano encheu-se de fúria e declarou outra data para os combates. Na data sugerida pelo rei, os portões se abriram, e mais uma vez o resultado se repetiu. Nada de corpos ao chão.

No interior da Sala-do-trono, o rei gritava com seus servos sobre os últimos dias. Nada estava bom, nem mesmo o vinho em seus lábios. Um dos membros do conselho foi sugerir uma opção, mas teve que recuar, pois um servo entrou na sala e se colocou diante o soberano. Sua boca relatou o que havia acontecido. Rapidamente o rei levantou-se do seu imponente lugar e saiu da sala.

~~

Os degraus passavam rapidamente debaixo dos seus pés, e poucos segundos depois, chegou ao local estimado. Abriu a larga porta e colocou-se dentro do quarto de Nilla.

O livro estava jogado de um lado, a mesinha caída a outro. Nilla estava desfalecida estirada ao canto. O servo relatou ao rei a estranha ausência dela nos pátios e corredores do palácio ao longo dos dias. O rei a trouxe rapidamente ao seu colo. Chamou-a pelo nome, mas ela não respondeu. Logo em seguida abraçou-a fortemente e mais uma vez voltou a chama-la pelo nome. Segundos depois, uma respiração profunda nasceu. Ela abriu os olhos.

"Está tudo bem... está tudo bem" – abraçou-a mais uma vez. "Eu estou aqui"

Nilla recuperou-se. Olhou em volta. O local estava revirado.

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