Transformação

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Chovia muito naquele dia, mas a pequena menina ainda estava lá, em uma estreita viela, entre duas grandes latas de lixo. A chuva não a afligia mais, mas o medo ainda continuava persistente, o medo do escuro. Toda criança tem medo do escuro, ela não era diferente.

De modo fetal, a criança encolheu-se ainda mais. A chuva escorria sobre seus cabelos lilases. As nuvens cobriam o céu, os raios e trovões estremeciam a terra.

A menina sem esperança, sem lar, deixada pelos pais por não terem condições de continuar criando-a, inclinou sua cabeça sobre os joelhos e entregou-se para o destino.

Depois de um tempo, as gotas de chuva pararam e a pobre criança levantou a cabeça deparando-se com uma figura humana cobrindo-a com um manto.

"Olá minha pequena. O que faz na chuva?" - disse o homem com a face encoberta por um capuz.

A garota encostou-se ainda mais na parede.

"Não, não... Não tenha medo." - disse o homem. "Onde estão seus pais?" - continuou aquele senhor.

Aqueles pequenos olhos inocentes desviaram para o chão.

"Ah, minha pequena... Entendo. Eu já estive desse lado, sei muito bem o que está sentindo. A mente sem entender... O coração se questionando..."

Ouvindo isso a menina elevou seus olhos para aquele homem. Aquelas palavras mexeram com ela, pois era o que ela estava sentindo.

"Então você já esteve nas ruas?" - questionou a menina.

"Sim, minha jovem, por isso eu te entendo." - respondeu.

"Como saiu?" - Perguntou curiosa.

"O destino sorriu pra mim." - respondeu o homem inclinando-se até ela.

"E quando ele sorrirá pra mim?" - Perguntou ela quase em sussurro.

"Quando você pegar a minha mão." - Estendendo a mão diante dela.

A menina estendeu a mão, mas parou no meio do caminho, esboçou recua-la, mas a mão do homem já tinha a envolvido.

"Muito bem, minha pequena." - disse o homem sorrindo dentro do capuz.

Cobrindo-a com o seu manto, levou-a até uma pequena carroça ao final da viela.

Sentou a garotinha ao seu lado fechando rapidamente a cortina atrás deles.

Com o braço entorno da menina, conduziu os cavalos.

"Alice." - disse a garotinha em sussurro.

"O que disse?" - Perguntou o homem.

"Alice, meu nome é Alice." - respondeu a menina.

"Alice... Um belo nome. Tudo será diferente daqui pra frente, Alice." - ambos sorriram.

As ruas do reino de Nidon eram largas. As casas aumentavam de tamanho conforme chegavam perto do centro da cidade. Os guardas patrulhavam em seu turno.

Não chovia mais.

"Pode me chamar de tio Dan, se preferir." - disse olhando para a garota.

"Obrigada, tio Dan." - respondeu a menina abraçando-o.

"Oh... Não foi nada. Crianças não podem ficar nas ruas, independente do estado que estejam. Você deve estar cansada. Por que não descansa um pouco?"

Mas, quando Alice foi responder, seus olhos já estavam fechados.

"Isso minha querida, durma." - disse o homem tirando uma pequena seringa do pescoço da jovem, colocando assim aquela criança atrás da carroça com os outros corpos que estavam encobertos.

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