Surpresa

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Mais um dia, mais um dia diante da fornalha. Mesmo com o amplo barracão, suportar o calor que vinha daquela boca em chamas não era pra qualquer um, ainda mais para um senhor como Baldur de uma idade já um pouco avançada.

Retirou o molde do fogo e o colocou sobre uma pequena mesa, bem estreita por sinal. Começou a bater. Faíscas nasciam, espalhavam-se, a vermelhidão exaltava juntamente com o calor que vinha da peça. Mais batidas, mais faíscas, mais calor. Virando a peça, seu braço não hesitava em cumprir seu papel. Subia e descia sobre a vermelhidão do ferro.

Levou a peça a um profundo barril com água. Uma fumaça branca exalou-se no ar, Baldur desviara-se para não atingir os olhos. Depois de poucos segundos imerso em água, levou a peça até a estreita mesa e repetiu o movimento do braço mais uma vez.

Ao cumprir tal ato, retornou para o barril com o pedaço de ferro e o deixou descansando por mais tempo, mas foi então que seus olhos observaram o pequeno caderno do filho em meio a cabos de madeira, ferros cortados, partes de peitos, ombreiras, elmos ainda por fazer...

"Sempre deixando suas coisas jogadas." – disse Baldur sorrindo.

Levou suas mãos até as folhas e se aventurou em folheá-las. Rabiscos, desenhos, flechas apontando para inúmeros lados, pontos de exclamação, pontos de interrogação... Anotações. Mas foi quando seus dedos passaram para a próxima pagina que seus olhos admiraram-se com dois desenhos, bem mais rabiscados, mas com explicações mais detalhadas.

"Ah, Araau... Você não tem jeito mesmo." – disse Baldur esboçando um sorriso no canto da boca.

~~

Araau olhou sob a cama, em seguida para sua mesinha e depois para o interior do armário...

"Cadê?"- disse Araau bravo em alta voz.

"Cadê o que?" – disse Nari, sua mãe. Chegando à cozinha com o mesmo tom.

"Meu prato de biscoitos!" – disse Araau descendo as escadas.

"Oh, meu filho. Está aqui na mesa." – Respondeu sua mãe.

"Por que a senhora pegou?" – perguntou Araau com o prato na mão.

"Achei que você não iria mais comer." – respondeu sua mãe.

"Eita! Como não comer?" – Exclamou Araau num tom questionador.

"Você estava tão entretido brincando que nem me viu entrar. Ah, e tem mais. Poderia ter atraído insetos para o seu quarto do jeito que você deixou o prato lá no chão." – exaltou sua mãe apontando o dedo para além das escadas.

"Insetos... Eu não tenho medo de insetos. Não sou mais uma criança." – disse sério.

"Sei..." – respondeu sua mãe sorrindo.

"Não ri, não! Olha como sou forte! Grrr!" – disse colocando o prato de biscoitos na mesa e fazendo cara de bravo.

"Nossa, verdade! Olha como ele é forte!" – disse ela rindo e passando a mão por entre aqueles cachos volumosos.

"Não, mãe. Meu cabelo..."

"Tá bom... Tá bom... É que estava torto. Bom, não vai deixar o prato de novo no chão." – disse sua mãe.

"Tá, tá." – respondeu Araau subindo para o quarto.

Depois que chegou ao quarto, colocou o prato na mesinha, pegou um biscoito e foi até o armário.

"Uaí?" – disse ainda com o biscoito na boca.

Foi então para a cama levantando o travesseiro...

"Mãe, cadê?" – disse exaltando a voz.

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